6 histórias que provam que ser gentil é transformador

Às vezes, quando precisamos de ajuda, ela nos chega de forma inesperada. Pensando nisso, pedimos aos leitores que nos contassem suas histórias. Eis

Douglas Ferreira | 11 de Maio de 2020 às 11:30

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Às vezes, quando precisamos de ajuda, ela nos chega de forma inesperada. Pensando nisso, pedimos aos leitores que nos contassem suas histórias. Eis algumas que recebemos e que provam que ser gentil tem um poder transformador na vida das pessoas.

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Anjo sem nome

Eu estava no sétimo mês de gravidez quando meu filho de 2 anos ficou doente. Nosso pediatra tinha viajado, mas um colega estava atendendo aos pacientes durante sua ausência. Após uma consulta demorada e minuciosa, ele pediu que eu levasse imediatamente meu filho para fazer uma radiografia e que voltasse com o resultado naquele mesmo dia. O diagnóstico: pneumonia. Havia dúvida, porém, a respeito da extensão da doença e o médico precisava do exame para dosar com precisão o medicamento.

A clínica ficaria aberta até as 18h30, mas o pediatra me avisou que, caso já estivesse ido embora, a secretária estaria lá para nos receber. De ônibus, corri até o convênio médico a fim de conseguir a autorização para realizar a radiografia. Então seguimos para uma clínica radiológica. Aguardamos durante muito tempo até que o resultado ficasse pronto. Eu já estava exausta física e mentalmente, e ansiosa para que meu filho começasse a tomar os remédios.

Retornamos à clínica às 18 horas, mas deparamos com um enorme cadeado no portão e ninguém para nos atender. Com meu filho sentindo muitas dores, perdi o controle e caí em prantos ali mesmo. Nesse momento, uma mulher que passava se aproximou, perguntou o que havia acontecido e ofereceu ajuda. Para minha surpresa, ela era vizinha do pediatra, que morava na esquina da clínica. Chegando ao seu apartamento, ligou para o médico e pediu que ele fosse até lá. Quando o vi, recomecei a chorar, mas agora de alívio e alegria.

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Já com a receita médica nas mãos agradeci a ajuda dos dois e me preparava para ir embora quando ela e o pai se prontificaram a nos levar em casa.

Quando contei ao meu marido o que aquela mulher havia feito por nós, não consegui me lembrar de seu nome nem do número de seu apartamento. Não pudemos agradecer a atenção e o carinho, mas somos eternamente gratos àquela mulher que nos ajudou em um momento tão difícil de nossas vidas.

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Mais do que médico

Após deixar o hospital acompanhando o meu marido, fui comprar os medicamentos que lhe tinham sido prescritos. Tive dificuldade em fazer a compra, pois as farmácias não queriam aceitar meu cheque, que era de outra cidade.

Quando contei ao médico o que havia acontecido, ele prontamente retirou o talão de cheques da pasta, assinou os cheques e disse: “Isso não vai ser mais problema. Você me devolve quando puder.”

Naquela hora, não me contive: chorei de emoção. E me lembrarei daquele gesto para sempre. Acabamos nos tornando amigos e ele continua sendo o médico da família.

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Sem pressa

Após um dia quente e cansativo em São Vicente, no litoral paulista, meu irmão, minha irmã, meu cunhado e eu nos preparávamos para voltar a São Paulo quando um dos pneus do carro furou. Felizmente, tínhamos o estepe para substituí-lo e então iniciamos a viagem. Não demorou muito e outro pneu furou, mas agora não havia mais substituto. Tentamos, sem sucesso, conseguir um táxi que nos levasse a uma borracharia. Àquela hora já anoitecera e na rua só havia um grupo de pessoas que esperava o ônibus. Pouco depois, todos embarcaram, exceto um homem que veio em nossa direção.

– Querem ajuda? – perguntou.

– Estamos com um pneu furado e não temos estepe – respondi.

O homem se dispôs a ajudar.

– Venham. Sou zelador do edifício aqui em frente. O síndico é meu amigo e nos levará a uma borracharia.

Ao entrar no prédio, encontrei um ex-colega de trabalho que, quando eu dirigia o departamento jurídico de uma fábrica de tapetes e carpetes, certa vez me procurou e pediu assistência profissional para comprar um apartamento. Na época, dei-lhe toda a orientação necessária e ele agradeceu com um “muito obrigado”.

– Lembra-se daquele apartamento que comprei? É aqui, disse ele.

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Então lhe contei o que havia acontecido. Em seguida, ele pediu licença e tomou o elevador. Abismado e decepcionado, olhei para o zelador, que comentou:

– Vocês se conhecem? Ele está com o carro na garagem e não o ajudou?

E, sem dizer mais nada, interfonou para o síndico, que desceu acompanhado da mulher e da filha, pois estavam saindo para jantar.

O zelador me apresentou como um amigo e pediu que aquele senhor nos levasse a uma borracharia. Sem hesitar, ele disse para a mulher subir com a menina, pois voltaria logo.

– A única borracharia que deve estar funcionando a esta hora fica na saída da cidade. Vamos até lá.

Antes de sermos atendidos, esperamos ainda que quatro veículos ficassem prontos. Eu insistia que ele voltasse para o jantar com a família, mas o senhor permaneceu conosco até que os pneus fossem trocados. Depois de tudo, eu lhe agradeci e pudemos retomar a viagem. Nunca mais os vi, mas jamais me esquecerei dos meus amigos anônimos.

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Carta-surpresa

Recém-saídos da Escola Técnica de Indústria Química de Têxtil, no Rio de Janeiro, eu e meu amigo Jair fomos estagiar em Pernambuco. Antes de viajarmos, uma vizinha de Jair nos deu uma carta e pediu que a levássemos para seus parentes em Recife. Quando entregamos a carta, tivemos uma surpresa: fomos convidados a morar com aquela família. A carta contava que éramos estudantes e pedia que nos ajudassem da melhor maneira possível.

Aceitamos e ficamos com eles durante muito tempo. Ao fim do estágio, meu amigo voltou para casa, mas eu só me mudei de lá quando me casei. Até hoje fico emocionado ao me lembrar daquela família tão gentil que acolheu dois estranhos.

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Boas-vindas

Quando fui transferido do banco em que trabalhava em São Lourenço, Minas Gerais, para Passa Quatro, tive de mudar com minha mulher e nossos quatro filhos para lá. Fizemos a viagem de carro, chegando à casa que alugamos ao mesmo tempo que o caminhão que trazia a mudança. As crianças sentiam fome e choravam com saudade da família e dos amigos. Eu não sabia mais se as atendia ou se dava ordens para os homens que descarregavam a nossa mudança.

Nessa hora, Dona Ana se apresentou como nossa vizinha, trazendo nas mãos uma bandeja com uma jarra de suco de laranja, biscoitos e sanduíches, e se prontificando a distrair as crianças, enquanto arrumávamos os móveis. Sempre amável, ela ainda apresentou minha mulher ao leiteiro e ao padeiro, e nos mostrou a fonte d’água da cidade.

Essa acolhida carinhosa e alegre teve suas consequências: acabamos construindo aqui nossa casa, onde nasceu mais uma filha, e estamos na cidade até hoje.

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Aviso oportuno

Eram quase 5 horas da manhã e, como todos os dias, eu esperava o ônibus para o trabalho quando uma moto estacionou na minha frente. Era o motorista do ônibus me avisando que a linha que eu costumava pegar havia acabado. E ele continuou percorrendo todo o trajeto do ônibus, informando os passageiros sobre o fim daquela linha.