Após participar do "curso da felicidade" da Universidade de Yale, Lisa Fields compartilha os conselhos favoritos que ouviu por lá.
Douglas Ferreira | 24 de Setembro de 2019 às 14:00
Ao participar do “curso da felicidade” da Universidade de Yale, Lisa Fields experimentou várias técnicas comprovadas por pesquisas para melhorar o humor, como fazer diários de gratidão e saborear experiências (comer uma fatia de um delicioso bolo de chocolate) ou lembranças (recordar por que nos apaixonamos). Agora, ela compartilha conosco os conselhos favoritos que extraiu do curso:
Refazer o contato com um amigo durante um almoço pode aumentar a felicidade, assim como um encontro significativo com um desconhecido, de acordo com pesquisas citadas no curso. As pessoas previam seu nível de felicidade antes de conversar com desconhecidos na ida para o trabalho e, em seguida, avaliavam seus sentimentos após o encontro.
“Quando imaginam uma conversa com alguém, muitos preveem que será uma experiência ruim”, disse Juliana Schroeder, autora do estudo e professora assistente da Escola Haas de Administração do campus de Berkeley da Universidade da Califórnia. “Na realidade, as pessoas relatam o oposto do que preveem: descobrem que a experiência foi mais agradável […] comparada a sentar-se a sós ou fazer o que normalmente fariam.”
As pessoas não costumam conversar com estranhos porque temem a rejeição social. Contudo, a pesquisa de Schroeder mostra que a maioria conversaria com desconhecidos.
“É sempre agradável conhecer outra mente”, disse Schroeder. “Uma das coisas mais complexas com que podemos nos envolver são os pensamentos, sentimentos e opiniões de outra pessoa. É como descascar uma cebola. Há muito ali a aprender.”
Muita gente mima a si mesmo quando precisa melhorar de humor, mas a pesquisa mostra que gentilezas com os outros, e não consigo mesmo, aumentam a felicidade. Laurie Santos citou pesquisas que mostram que se voluntariar para ajudar alguém ou comprar um café para quem está atrás na fila pode nos deixar mais felizes do que fazer coisas que nos dão prazer, como receber uma massagem ou tirar um cochilo.
“Você se sente bem com você como pessoa”, disse Sonja Lyubomirsky, autora do estudo e professora de psicologia no campus de Riverside da Universidade da Califórnia, “mas, quando mima a si mesmo, pode ter sentimentos de culpa depois por não ter ajudado ninguém.”
Lyubomirsky constatou que fazer três gentilezas num só dia aumenta mais a felicidade do que fazer uma boa ação por dia no decorrer de três dias.
“Todos fazemos gentilezas o tempo todo e talvez nem notemos”, disse ela, “mas, quando fazemos três, o destaque é maior. Realmente nos sentimos uma boa pessoa. (…) Às vezes, são até coisas bobas como dizer algo legal, elogiar o garçom ou a moça do caixa. Para você, o esforço é pequeníssimo. Para o outro, pode trazer um grande benefício.”
Esforçar-se para fazer mais do que isso pode sair pela culatra, porque aí começa a parecer uma obrigação. Variar a abordagem ajuda a manter a motivação.
“Descobrimos que, na verdade, quando não variava as gentilezas, a pessoa ficava um pouco menos feliz durante o estudo, porque aquilo virava um tipo de tarefa monótona”, disse Lyubomirsky. “No começo, a felicidade aumentava. Dali a algum tempo, se fosse sempre a mesma coisa, o efeito não acontecia mais.”
Quem já sentiu o prazer da corrida sabe que o exercício melhora o humor. Laurie Santos destacou essa mensagem importante e citou pesquisas que comprovaram que pessoas clinicamente deprimidas que começaram a se exercitar com regularidade melhoraram tanto quanto quem tomou antidepressivos. Em dez meses, quem se exercitou teve probabilidade menor de recaída.
“Sair da depressão não é exatamente o mesmo que sentir felicidade, mas todos os estudos mostram a mesma coisa: quando se exercita, você se sente melhor”, diz o Dr. K. Ranga Krishnan, autor do estudo e professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina Rush, em Chicago. “Não há muitas pesquisas sem participantes com algum nível de depressão, mas acho que, caso a caso, a maioria das pessoas que se exercitam lhe dirá que se sente melhor e também que, quando não se exercita, diminui o seu bem-estar.”
O exercício provoca mudanças dos hormônios do bem-estar no organismo e ajuda a interromper pensamentos negativos.
“Você sai da cama, está fazendo alguma coisa”, diz o Dr. Krishnan, “mas, toda vez que para e pensa, seu humor começa a despencar. É a chamada ruminação, ou seja, você só fica pensando nas coisas negativas. E já vimos estudos em que uma única sessão de exercícios causa muitas mudanças no cérebro, e essas mudanças podem ser o caminho para a melhora da depressão.”
Hoje mais do que nunca, as pessoas estão privadas de sono. Deixar para dormir mais tarde pode ser gostoso na hora, mas o sono está muito ligado ao humor. Reduzir constantemente as horas de sono pode nos deixar rabugentos, e abrir espaço para o sono pode melhorar o humor. Laurie Santos citou pesquisas em que pessoas que dormiram depois de aprender novas habilidades melhoraram mais seu desempenho do que as pessoas que ficaram acordadas. Outras pesquisas mostram que quem não dorme o suficiente tem reação mais lenta e comete mais erros, apesar de não perceber nenhum déficit em seu desempenho.
“Às vezes a gente não percebe até que ponto estamos comprometidos; é como estar bêbado”, disse Adam Krause, professor de psicologia e doutorando da Universidade da Califórnia, campus de Berkeley. “Sem sono suficiente, esses processos muito complexos – manter interações sociais, entender o ponto de vista dos outros – são as primeiras coisas sacrificadas, exatamente por serem complexas. Muita gente com quem converso sabe que o sono é bom. Mas não consegue. Alguns são forçados a sacrificar o sono porque precisam trabalhar. Ou têm família. Ou têm alguma outra coisa que ocupa seu tempo.”