Todo estrangeiro sofre para aprender português. Durante a aprendizagem podem surgir diversas situações com trocadilhos engraçados. Veja só!
O português é uma língua incrivelmente versátil (e difícil). Ela se desdobra em muitas particularidades e deixa claro o quanto a sociedade pode ser distinta, principalmente no Brasil.
Para nós, brasileiros, pode parecer natural falar a língua sem muitas complicações, mas isso se torna um pesadelo para estrangeiros que querem aprendê-la e acabam gerando trocadilhos engraçados. Isso é o que aconteceu com esta moça, que acabou virando meme na internet há algum tempo:
O fato é que muita gente passa por essa dificuldade, o que acaba gerando algumas situações engraçadas. É o caso da história de Michael Kepp. Para nós, nativos, resta apenas rir das melhores situações e mal entendidos – e, claro, ajudar quando for possível!
Nessa sociedade multirracial, nós, gringos, nos comportamos como camaleões e passamos despercebidos. Até abrirmos a boca. E aí nossos sotaques, erros gramaticais e tropeços bilíngues criam situações tão constrangedoras que começamos a sentir saudade da pátria.
Para mim, essa saudade bateu poucos dias depois da minha chegada aqui. Tinha acabado de entrar num banco com uma amiga brasileira, levando cédulas misturadas para depositar. Para separá-las, decidi pedir ao caixa alguns elásticos e perguntei à minha amiga, em inglês, como dizer rubber band (elástico). Ela, no entanto, ouviu que eu estava perguntando como dizer rob a bank em português, e respondeu “roubar um banco”. Então virei para o caixa e falei “quero roubar um banco”. O caixa, assustado, fitou minhas mãos buscando uma prova mais ameaçadora. Felizmente, minha amiga se deu conta e intercedeu a tempo de evitar um desentendimento mais grave.
Esses tropeços bilíngues costumam ser apenas embaraçosos. Quando chamo um pequeno roedor invasor de “cagamundo” ou uso um provérbio como “vou matar dois coelhos com uma caixa-d’água só”, os brasileiros se divertem com os trocadilhos engraçados. Mas me sinto um “débito” mental.
Esse mal-estar me pegou quando, com alguns amigos num bar, vi uma moça faceira passando. Tentando me abrasileirar, falei “aquela tem borocochó” em vez de “borogodó”.
Mas as coisas sempre podem piorar (ou melhorar, depende do ponto de vista)
Sofri um constrangimento ainda maior quando disse ao chefe de uma agência de notícias que me entrevistava para um emprego no Rio de Janeiro que eu era “bacalhau” (em vez de bacharel) em Zoologia. Minhas tentativas de elogiar minha mulher também saíram pela culatra quando, ao apresentá-la a alguns conhecidos, eu a chamei de “uma tesoura” (em vez de “um tesouro”).
Depois de estar aqui há 15 anos, meu sotaque forte ainda causa equívocos. Quando ligo, por exemplo, para marcar uma entrevista, a secretária pergunta “quem quer falar?”. Respondo “jornalista americano”. Ela sempre pergunta “João Luís quem?”.
Comodamente, coloco a culpa do meu sotaque na minha única professora de português, uma americana que viveu em Portugal com uma família angolana.
Mas, para ser honesto, só posso culpar pelos graves erros idiomáticos o fato de, em algum ponto da minha temporada aqui, ter parado de melhorar meu português – me acomodei.
Vou sempre ser um gringo aqui. Só que agora, se não abrir minha boca, passo despercebido na praia, de sunga e sandálias de borracha, em vez de bermudões, meias escuras – e boné.
POR MICHAEL KEPP