Senhorita A-hã

Quem tem filhos adolescentes ou apenas convive com algum em casa sabe como qualquer atividade cotidiana pode virar uma batalha épica que nem sempre saímos ganhando. Entre mortos e feridos, a humorista francesa Anne Roumanoff narra na crônica um desses grandes duelos com sua filha, a Senhorita A-hã:

– ANAÏS, VOCÊ PODE TIRAR A ROUPA DA MÁQUINA?
– A-hã – responde minha filha de 15 anos.
Uma hora depois…
– Já tirou a roupa da máquina?
– A-hã, não se preocupe… Eu vou tirar.
– Ande logo!
Tento ser “firme sem ser agressiva”, conforme o conselho de “Como ser respeitada por um adolescente” (não lembro o título exato). Posso tirar eu mesma a roupa da máquina, mas é uma questão de princípios: “A educação de crianças não é feita de concessões.” (Li isso em outro livro.)
Dez minutos depois estou quase gritando:
– A-na-ïs! A máquina!
– Dois segundos! Estou ocupada! (Ela está conversando com os 432 amigos de Facebook.)
– Vem aqui agora ou vou confiscar seu computador!
Ela aparece e olha para mim com carinho, quase contrita.
– Não precisa gritar, mãe. Você não está indo bem na dieta!
Com uma das mãos ela esvazia a máquina e, com a outra, digita no celular.
– Pode largar esse telefone um minuto?
– A-hã, dois segundos…
Respiro fundo, porque sinto um súbito desejo de estrangulá-la ou comer chocolate.
– Anaïs, parece que você se diverte me irritando.
– É verdade. – Ela não esconde um sorriso.
– Você disse “É verdade”! Fale alguma coisa, mas não fique dizendo “a-hã”, está bem?
– A-hã.