Filhos: mimo ou negligência?

Leia essa crônica de humor e dê boas risadas com uma reflexão sobre a realidade de se criar filhos. Só quem é pai sabe como é de verdade!

Redação | 2 de Janeiro de 2022 às 11:00

PIKSEL/iStock -

Quando se trata das funções de ser mãe ou pai, teoria e prática tendem a se separar. Isso porque apenas quem é responsável por outra vida sabe como realmente é. Um exemplo disso é que, na teoria, todos os filhos deveriam receber o mesmo tratamento, certo? Bem, na prática não é exatamente assim. Leia a crônica de humor a seguir e divirta-se com as reflexões sobre como é criar filhos.


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O filho caçula da família, de acordo com um relatório recente, costuma ser mais esguio e estar mais em forma do que o primogênito. Embora eu esteja do lado dos cientistas quando se trata de aquecimento global, a importância das vacinas e a necessidade de higiene bucal, afasto-me de suas fileiras nesse caso.

Tive filhos. Observei os filhos dos outros. A única conclusão possível: o padrão cai a cada novo filho.

O primogênito

Com o primogênito, tudo tem de ser perfeito. Ele recebe uma alimentação com legumes de alta qualidade e carne orgânica. A equipe, ou seja, o pai e a mãe, passam dia e noite na cozinha, e só interrompem o esforço culinário para ler textos linguisticamente desafiadores e realizar danças etnicamente diversificadas para divertir a criança.

Fotos são tiradas quase o tempo todo para registrar eventos como o Primeiro Arroto, a Primeira Contorção e O Que Achamos Ser o Primeiro Sorriso Mas em Retrospectiva Foi Só Cólica.

Quando a criança fica mais velha, estabelece-se um sistema protetor, amoroso e educacionalmente rico, no qual se pode assistir a uma hora de televisão por semana, desde que seja um documentário sobre a natureza.

Compram-se sapatilhas de balé. Um violoncelo – um violoncelo! – não é considerado uma despesa grande demais. O primeiro jogo de futebol tem na plateia não só um dos pais, mas os dois pais, quatro avós e um tio que veio do exterior. Há astros com séquitos menores.

Inevitavelmente, a criança é considerada “bem-dotada”.

O segundo filho

É nesse momento que nasce o segundo filho. Na mesma hora, o padrão cai.

O moedor manual no qual a comida de bebê era preparada fresquinha pela equipe da cozinha nunca mais sai da gaveta de baixo. Em vez disso, de repente a papinha comprada pronta é considerada “nutricionalmente superior e muito mais prática”. A sessão de leitura da hora de dormir, que, com o primeiro filho, envolvia 50 minutos de vozes engraçadas e observações divertidas, agora dura três minutos entre papai se deitar na cama e papai começar a roncar.

O número de fotografias passa de cinco por dia a uma a cada seis semanas. A marca elegante de macacões que vestiu o primeiro filho é substituída por cópias baratas da loja de pechinchas.

A televisão ainda se restringe a “documentários sobre a natureza”, mas parece que a definição de “documentários sobre a natureza” se ampliou para incluir O rei leão, Toy Story 4 e reality shows sobre imóveis.

O séquito do futebol se reduziu ao pai ou à mãe de ressaca, cujo interesse, ao que parece, é principalmente encontrar o que comer. E o pedido de um trompete para entrar na banda da escola é recusado com base no custo – por que você não tenta o violão velho da mamãe?

O terceiro filho

Tudo isso, é claro, é só preparativo para a chegada do terceiro filho, momento em que os padrões desmoronam completamente.

A definição de comida de criança agora passa a incluir batata frita e algumas mordidas na borda da pizza de ontem à noite. Essa “refeição” é servida enquanto se assiste a um “documentário sobre a natureza”, que, ao que parece, envolve Bruce Willis atirando em gente num aeroporto de Nova York.

O terceiro filho terá 6 anos antes de ser tema de uma única fotografia, e mesmo assim é só a perna direita numa foto do cachorro. Veste roupas doadas pelo primo em segundo grau, deixadas de molho em detergente extraforte para tirar as manchas.

Vai de carona ao futebol.

Aprende música na escaleta.

Quanto aos bons modos à mesa, a única orientação que recebe envolve a frase “Não limpe as mãos nos móveis, isso é nojento. Use a camiseta, como seu pai”.

A falha na teoria

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Agora, com tudo isso, a ciência ainda pode afirmar que o irmão mais novo tende a ser mais saudável?

A teoria, caso você tenha interesse, é assim: as mães de primeira viagem têm menos propensão a bombear calorias na criança ainda no útero, e assim o protofilho altera o metabolismo para armazenar mais gordura.

Então esse se torna um hábito vitalício, com os primogênitos tentando acompanhar o passo dos irmãos mais novos e mais esguios.

Quanta bobagem. Eis minha teoria alternativa: os mais novos, tendo crescido com pais indiferentes a seu bem-estar, agora levam uma vida tão dissoluta que não têm tempo de engordar.

Ofereça-lhes uma refeição caseira, e eles recusarão – preferirão sair e fumar um cigarro.

Ou talvez, apenas talvez, os seres humanos sejam como as parreiras. É comum o melhor vinho vir de uvas plantadas em solo pedregoso, com pouca água. Elas vicejam na negligência. As uvas são menores, porém mais poderosas, cheias de sabor. E essa pode ser a história dos caçulas magros, em boa forma e intensos.

Gostaria de provar minhas várias teorias lhe mostrando fotografias dessas crianças nascidas mais tarde, registrando as circunstâncias de sua infância e adolescência. Pena que parece não haver nenhuma…

 Por Richard Glover