Robôs não tem vida própria, mas podem reclamar e se revoltar às vezes! Veja a história do robô Roomba e morra de rir da sua vingança.
Sempre quis e não quis ter uma faxineira. Adoraria que outra pessoa limpasse a casa, pois até hoje nem eu nem meu marido, Ed, demonstramos aptidão para isso. No entanto, eu me sentiria culpada de impor tarefa tão enfadonha e desagradável a outro ser humano. Ninguém além de mim deveria ter de catar o fio dental que se amontoa ao lado da lixeira, onde o atiro todas as noites, sem jamais me dar conta de que não é o tipo de objeto que se consiga arremessar com precisão.
Pois imagine minha alegria ao ler que a empresa iRobot inventou um robô aspirador de pó. Batizaram-no de Roomba. O website da empresa exibe um clipe de animação estrelado por algo que se parece com um discman aumentado, correndo pelo carpete de uma sala, sugando nacos de lixo não identificado. Ao mesmo tempo, algumas frases passam pela tela: “Fui almoçar com uma amiga”, “Estou plantando flores no jardim”. O que querem dizer é que você pode sair e “curtir a vida” enquanto o robô limpa o lixo espalhado pelo chão da sala.
Um robô em nossa casa
Roomba juntou-se à nossa família na semana passada e na hora trocamos seu nome para Reba. Era uma forma de satisfazer minha fantasia de ter uma faxineira de verdade; sem deixar de demonstrar algum respeito pelo seu nome de fábrica. Para uma engenhoca tecnológica, o robô aspirador é bastante fácil de usar. Além de ligá-lo, você só tem de lhe dizer o tamanho do ambiente. Isso eu calculei do modo como estou acostumada a fazer, imaginando homens de 1,80 metro deitados no chão, em fila.
Fiz Reba começar pelo quarto. Eu já saía porta afora para curtir a vida quando ouvi algo cair no chão com um estrondo. Meu robô havia se enrolado no fio do telefone e tomado a direção oposta, derrubando o aparelho de cima da mesa de cabeceira. “Talvez Reba queira telefonar”, sugeriu Ed.
Sinceramente, não me senti no direito de ficar irritada, uma vez que sou do tipo que se levanta para ir ao banheiro no avião sem tirar os fones. Estar presa ao meu pescoço é o único fato que impede minha cabeça de ser lançada ao chão. Além disso, está escrito no manual: “Recolha objetos como roupas, papéis e fios, da mesma forma que faria antes de usar um aspirador de pó comum.”
Hábitos complicados
Isso gera um problema lá em casa. Os cantos, o piso que corre ao longo das paredes e o espaço sob os móveis do escritório, por exemplo, estão cobertos de pilhas de papel e sacolas. Meu marido não é homem de se desfazer dos objetos com facilidade. Ou seja, tudo que chega pelo correio ou que ele tira do bolso é despejado na superfície horizontal mais próxima.
Uma vez por semana, igual ao caminhão de lixo que percorre o bairro, recolho o lixo de Ed e jogo-o em sua mesa. Mas, num dado momento, em função da inclinação e da selvageria dos meus arremessos, a pilha começa a deslizar. É a deixa para Ed enfiar parte dela numa sacola de compras, que então coloca no chão com a intenção de olhar mais tarde; “mais tarde” querendo dizer “nunca”.
Observei o chão do escritório. Havia jornais, pilhas de pastas, meias, canetas, sem falar dos sujeitos deitados em fila sobre o assoalho. Catar tudo aquilo para abrir caminho para Reba levaria meia hora, ou seja, mais tempo do que em geral gasto passando o aspirador. Era o mesmo tipo de situação que sempre me impediu de contratar uma assistente. Demoraria mais para explicar meu sistema de arquivamento a outra pessoa do que para executar eu mesma a tarefa.
O banheiro prometia ser menos problemático. Coloquei o cesto de roupa suja dentro da banheira e a balança sobre a pia. Fui até o quarto pegar Reba, que naquele momento travava um embate com minha sandália. Ela a havia empurrado pelo quarto e a enfiara debaixo da cama, numa região completamente fora de alcance.
“Muito bem!”, exclamou Ed, que nunca gostara daquela sandália.
Vamos lá, Reba!
Segurei Reba e a apontei na direção do espaço imundo debaixo da banheira com pés. Eu já havia experimentado isso com Ed e com minhas enteadas, sem jamais conseguir o efeito desejado.
A maravilhosa Reba encarou o desafio com grande entusiasmo, deslizando pelo piso a todo vapor e metendo-se debaixo da banheira até dar com a testa na parede. Não é fácil encontrar uma ajuda valiosa dessas.
A sala também foi um sucesso. Reba realiza as tarefas domésticas de um jeito muito parecido com o meu, limpando um local com imensa compenetração para, de repente, vaguear inexplicável mente na direção oposta, distraindo-se com algo mais que precise ser feito. A empresa que criou o robô chama isso de “padrão de limpeza algorítmico”, termo que usarei da próxima vez que Ed me pegar polindo a prataria enquanto a água do balde com desinfetante evapora no cômodo ao lado.
Na metade do caminho sobre o carpete da sala, Reba parou e começou a emitir ruídos de insatisfação. Ed folheou o manual.
“É o bipe de reclamação”, disse ele, com um tom dramático de barítono. Virei Reba de pernas para o ar. Enrolado em suas escovas havia um pedaço de 60 centímetros de fio dental. Ao que parece, até mesmo os robôs têm seus limites.
Por Mary Roach