Hoje é preciso estar sempre atento. Um gesto de solidariedade pode levar a uma cilada. Mas a atenção e o instinto de proteção podem te salvar.
Claudia Nina | 3 de Outubro de 2021 às 12:03
Saíam as três da casa da avó, as filhas com a mãe. O carro estava parado em frente ao prédio, no estacionamento de uma farmácia. Era bem tarde, tinham se esquecido da hora. Não havia quase ninguém na rua. A farmácia ainda estava aberta, o que dava algum alívio e proteção, nem que fosse pela claridade da loja. Pegaram o carro, a mãe dirigia. Enquanto manobrava, um rapaz apareceu e pediu um favor:
– Oi, poderia ajudar?
A mãe, em um gesto automático, baixou o vidro do carro – alguns centímetros só, pois o gesto de bondade fora interrompido por uma súbita percepção de perigo.
O rapaz continuou:
– Eu preciso de um favor – e apontou para o lado extremo do estacionamento, onde havia um carro com o capô aberto e outro rapaz, que parecia tentar consertar o motor.
Durou menos da metade de um segundo o olhar da mãe para a cena. Depois de olhar de relance o quadro do suposto carro enguiçado, a mãe fechou o vidro murmurando algo como:
– Ok, só um minuto.
Deu partida no carro fingindo que iria na direção do outro carro para prestar ajuda.
Naquele milésimo de segundo, ela percebeu que era uma cilada e deu o arranque para fora do estacionamento. O rapaz que solicitou a “ajuda” falou alguma coisa que ela não entendeu e não faria a menor diferença naquele instante. O importante é que estavam livres.
No percurso, a mãe disse que não deveria ter baixado o vidro para um estranho naquela hora da noite na rua escura. Culpou-se pela quase cilada.
A filha menor, porém, olhou agradecida e emocionada para a mãe e disse:
– Obrigada por proteger a gente tão bem.
A mãe voltou para a casa confiante. Tinha o mágico poder do relance. E isso não era pouca coisa. Era um poder salva-vidas.