Envolvendo-se em um relacionamento sem sentido para ter experiência, a menina prolongou-o até não poder mais recuperar o tempo perdido.
Ela estava com 15 anos quando se meteu com um cara quase dez anos mais velho. Na época, não tinha noção de nada, só achava que, se não namorasse alguém, estaria perdendo tempo. Era o melhor amigo do namorado de uma colega da escola. A garota tinha 16, mas parecia uma mulher cheia de experiência. Ter experiência era tudo o que a menina achava que era viver sem perder tempo. Queria imitar as que tinham coragem de ter “experiência”.
Então aceitou a presença daquele homem tosco aos 15 anos – era grande, forte, cabelos ralos, burro e mentia a idade. Tinha as mãos ásperas, um cheiro diário de cerveja que ela sempre odiou, falava errado. Ela aceitou na sua vida que começava, tão cheia de futuro, um homem desinteressante e palerma.
Seria fácil entender se tivesse sido um namoro rápido, só para dizer que passou pelas mãos de um homem mais velho – a experiência! Só que o tempo se alongou. E, talvez porque ela quisesse testar sua capacidade de experimentar o que não gostava – ou por pura curiosidade em viver no mundo dos adultos e dos amigos adultos do namorado –, a coisa rendeu a ponto de completarem mais de dois anos juntos.
Claro que ela meteu no meio vários amigos pelos quais quase se apaixonou ao longo do processo.
Mas descartava e seguia com o namoro. Até que chegou ao limite que coincidiu com uma paixão real da qual não conseguiu escapar. Não falou com ele, deixou que o namorado palerma descobrisse – preguiça de se movimentar e ter que criar todo um discurso. E assim foi. Ele por fim descobriu e terminaram tudo.
Só que a vida mostrou, depois, que a garota tinha mesmo a tendência em querer viver o que não gostava, ir até o fim do que não gostava, sem saber que não gostava, como aconteceu com os relacionamentos que se seguiram. Demorou muito, muito, muito, até que percebesse que o tempo perdido não volta.
Por onde andariam aqueles 15 anos, tão cheios de futuro, que ela estragou?
Seria um final de ano diferente. O brinde na noite quente, sozinha, a deixou sovina de futuro e com um nó apertado na garganta, desfeito pelo vinho rosé. Teve muita raiva do homem palerma, para esconder a raiva que ela sentia dela mesma por ter alongado por toda a vida aquela experiência de viver o que não queria viver…
A quem pedir o tempo de volta?
Ouça o episódio mais novo do podcast da Claudia Nina: Delirium Tremens.