Curiosidade e imaginação são duas características das crianças. O que acontece quando as duas se juntam para desvendar os segredos de alguém?
Claudia Nina | 17 de Novembro de 2019 às 08:00
O pequeno apartamento de térreo tinha uma área que era uma espécie de anexo que se juntava ao quintal. Um mundo estreito de liberdade urbana que a menina adorava. Lá era também o espaço em que as ajudantes da casa costumavam dormir ou simplesmente deixar as coisas quando chegavam para trabalhar, o que transformava a área em um espaço de mistérios a serem desvendados: mistérios humanos.
As pessoas eram os mistérios que ela gostava de conhecer de perto.
Uma delas, Maria.
Era fina, morena, tinha cabelo comprido e branco – cara de índia, mas viera do Nordeste, de alguma cidade minúscula. A menina assistia à senhora tomar banho, porque também queria desvendar os mistérios do corpo velho. Ela que só tinha 8 anos. Como acontecia sempre, ficava boa parte do tempo que deveria ser dedicado aos estudos, no estudo da vida alheia – em profundidade.
Queria não só saber nome, idade, de onde tinha vindo, como era a família. A menina tinha curiosidades profundas, tais como: os sonhos de Maria, as alegrias de Maria, as tristezas de Maria… E, principalmente, o mistério maior: por que Maria chorava escondido? De vez em quando, a menina a via embrulhando e desembrulhando um papel. Era demais para uma curiosidade pulsante.
– Que papel é esse e por que você tá chorando? – queria saber.
– Nada não…
É claro que estas duas palavras jamais fariam a menina desistir. Depois de algumas investigações, ela conseguiu descobrir que o papel era uma cartinha da neta e dentro dela tinha uma foto. O mistério era que Maria sentia falta da terra dela e queria muito voltar a tempo do Natal – era outubro.
A revelação era um anel que ela tinha que passar adiante. Tinha que agir logo.
No dia seguinte, começou a colocar em ação o plano elaborado: iria passar de vizinho em vizinho pedindo dinheiro para Maria comprar a passagem e também para comprar um presente para a neta. Começou com a mãe, que a princípio ficou desnorteada, mas depois se lembrou que a filha era capaz de ideias assim.
E foi de porta em porta, com uma cestinha de pão, recolhendo o que dessem. O prédio era grande, tinha vários apartamentos e, por sorte, vários vizinhos dispostos a ajudar. Ao fim de uma semana, de noite, quando Maria tomava banho antes de ir dormir, a menina colocou a cestinha com o dinheiro ao lado da cama e um bilhete:
“Maria, você já pode viajar. Feliz Natal. O dinheiro vai dar até para comprar panetone! Eu acho..
A menina estava agora já estava pronta para desvendar os segredos da ajudante que ficaria no lugar dela…