Uma menina inocente menina sai em defesa da mãe e a salva, assim como a duas tias, de uma vendedora intimidadora com aparência de bruxa.
Redação | 26 de Maio de 2019 às 09:00
Foram todas à loja que se chamava Bruxa. No topo, o desenho de uma vassoura. Era uma loja pequena, assim como pequena era a cidade de poucas opções de comércio. Duas tias, a mãe e a menina. Uma tarde inteira batendo perna e depois a recompensa: o cachorro-quente tão esperado. A menina estava de férias e tudo era festa: bater perna, ir à loja da bruxa e finalmente o lanche. Entraram porque a mãe queria ver as novidades. A dona, uma senhora alta e faladeira, colocou coisas lindas no balcão, e as mulheres se maravilhavam. A mãe se encantou com um vestido, que era perfeito, não fosse a cor.
– Ah, que pena. Não uso roxo… Não gosto muito.
– Não é roxo. É vermelho-vinho – insistiu a dona.
A mãe não era mulher de se indispor.
Tinha preguiça de contradizer quem quer que fosse. A preguiça começava com o marido e terminava na senhora dona da loja.
Acanhava-se, engolia a palavra, não tinha voz boa para dizer não quero, não gostei, não vou levar, cala essa boca, já falei que é roxo. E a dona da loja insistia porque queria vender o vestido – vermelho.
A mãe, acuada, as tias idem. A situação continuou durante um bom tempo, a senhora da loja insistindo, mãe e tias sem argumento nem força, já estavam quase comprando cada qual um exemplar do vestido para que a senhora enfim se satisfizesse.
A menina estava distraída com as pulseiras. Adorava vestir várias delas e ficar com o braço tilintando como se fosse uma cigana. Ia pedir para a mãe comprar mais duas, ficaram lindas. Quando se lembrou de que havia o mundo além das pulseiras, viu a cena da senhora dona da loja praticamente empurrando os vestidos “vermelhos” para a mãe e a tia, que não sabiam mais o que dizer. A mãe repetia:
– Mas é roxo…
A filha sabia que a mãe não gostava da cor.
E, ao olhar o vestido, não teve dúvidas. A mãe tinha razão e, mesmo que não tivesse, partiria para a sua defesa.
Esperou que houvesse um minuto perfeito de brecha na conversa das mulheres e entrou no meio delas, o topo da cabeça na altura do balcão, as mãos cheias de pulseiras segurando o vidro. Ninguém viu a ponta do pé para parecer maior.
Com voz firme e grave anunciou:
– Este vestido nunca foi vermelho nem vinho. É púrpura. Minha mãe não gosta. E você tem mesmo cara de bruxa.
Tinha aprendido a palavra “púrpura” havia pouco tempo e estava radiante em poder usá-la diante de uma audiência.
Depois da fala ríspida, aconteceu um silêncio que ninguém teve coragem de quebrar. A senhora não respondeu nada além de um riso frouxo. Não havia mais o que dizer. Saíram todas sem levar o vestido.
A menina ganhou as pulseiras.
A mãe e as tias estavam aliviadas. Não sabiam como iriam se desvencilhar da senhora. A palavra “púrpura” as salvou.
A menina só não tinha aprendido ainda, era nova demais para saber, que ser “bruxa” não era um xingamento… Quem dera a mulher faladeira e insistente, chata e mentirosa, merecesse o nome que escolheu para sua loja.