Com o relacionamento se deteriorando, ela buscou na loja de lustres uma luz nova que pudesse ajudá-los. Mas ele teimava em manter a verdade nas sombras.
Raquel Zampil | 1 de Setembro de 2019 às 09:00
O casamento morno nem merecia luz nova para a sala de jantar. Mas já que haviam perdido um tempo enorme cruzando a cidade em busca de preços melhores e estavam na loja, resolveram então comprar um bem grande para iluminar o que comeriam.
Ela até imaginou, quem sabe o elemento novo na casa poderia dar um rumo ao que parecia destruído. Por intuição, sabia que ele mentia; a traição apavorante. Ela também mentia: não o queria mais, só não tinha força nem coragem para sumir.
Na verdade, ela escolheu e ele aceitou porque estava impaciente, o tempo sempre curto, outras urgências além da casa.
Antes do fim da compra, o celular dele tocou. Ele não atendeu, disfarçou.
Ela não precisava da ligação para saber o óbvio – ele sempre foi péssimo mentiroso. Ela guardou a informação. Não era o momento de agir.
Compraram o lustre e depois cada um foi para um canto da cidade.
Ela chegou mais cedo em casa, pediu ajuda aos porteiros para instalar o lustre.
Perfeição, escolheu com acerto. Ficou linda a sala de jantar toda iluminada.
Sob o clarão novo, ela anunciou o fim. Aquela tarde na loja de lustres tinha sido o último minuto do casamento infeliz. A última mentira.
Ele não entendeu nada.
Ela não permitiu nenhuma palavra, nenhuma falsa explicação. Tanto tempo de convivência e a ele escapou que a verdade é um relance. Escapou também que ela jamais anunciaria o que iria fazer como ato final.
A decisão é sempre uma luz nova – acende como se vira uma chave.
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Quem na vida já não passou por uma experiência de perceber uma mentira? É uma sensação muito ruim, especialmente se temos uma intuição forte para perceber. Acredito que as decisões surgem como um lampejo. E a mudança de rumos também. Não acham?