Mesmo advertida pela mãe de que o pai não apareceria ao encontro marcado, toda semana a menina esperava ingenuamente por ele.
Era muito pequena para entender que não se deve esperar por ninguém. Aos 11 anos, tinha a inocência de acreditar no que as pessoas diziam. E o pai, que saíra de casa aos pontapés, varrido pela mãe que não tolerou as bebedeiras, dizia que iria vê-la. Pode me esperar na Praça da Matriz tal hora que eu vou chegar, em ponto, minha filha, pode me esperar. Ela ia, confiante. Contava os dias em minutos e se arrumava como quem vai a um baile – queria que ele dissesse o quanto ela havia crescido.
A mãe tentava abrir os olhos da menina para a mais dolorida verdade: Não espera que ele não vai aparecer. Ela nunca acreditava na mãe.
A inocência não se perde assim, com o poder da fala. Só aos trancos.
A menina ia sempre para a praça no dia e na hora quase certa – chegava mais cedo porque queria ver de que lado da rua ele viria. Ela refazia o ritual todas as vezes que ele dizia: Pode esperar que eu vou chegar. Novamente se arrumava como se fosse a um baile. Como queria que ele dissesse o quanto ela havia crescido!
Perdeu as contas de quantas foram as vezes em que ela o esperou na praça sem que ele cumprisse a promessa de aparecer – Na semana que vem, minha filha, semana que vem, sem falta – eram as promessas ditas em bilhetes rascunhados às pressas e deixados na bodega, quando lá pela madrugada ele aparecia não se sabia de onde.
Bem que a mãe lhe dizia: Não se espera por ninguém nessa vida…
Mas quando ela iria finalmente aprender a lição?
Cresceu de tudo, virou moça, mulher.
Disse para a mãe que iria para a capital assim que conseguisse sair da pequena cidade – queria o mundo. A menina, que depois de tanta espera entendeu que na vida só se tem o que se busca, guardou para sempre o entendimento. Quem espera nunca alcança.
Por Claudia Nina – [email protected]
Jornalista e escritora, autora, entre outros livros, de Amor de longe (Editora Ficções)