As férias na casa da avó podiam não ser tão empolgantes quanto as viagens dos colegas, mas enchiam a menina de alegria e expectativa.
Enquanto boa parte da turma do colégio saía de férias rumo à praia ou a lugares que ela nem sonhava onde ficavam no mapa da sua infância comum, a menina sempre tinha como roteiro a cidade de sempre, ou seja, a casa da avó, no interior de Minas. E, mesmo que tivesse um pouco de vergonha em contar as mesmas histórias no retorno às aulas, ela adorava o passeio. Esperava meses para voltar e era com dificuldade que se despedia daquele cenário para onde, certamente, voltaria nas férias seguintes.
Como na sua casa moravam só ela e os pais, chegar para o abraço da grande família era alargar o círculo, onde tinha primos e tios e tias espalhados pelo apartamento térreo com áreas de cimento sem nada além de um tanque e uma mangueira para fingirem que se refrescavam na praia inventada. Os passeios fora dali eram, em geral, idas à doceria ou à lanchonete da esquina para comer pastel ou cachorro-quente, com algumas paradas na rua principal para comprar panelas ou outros itens de cozinha, que eram mais baratos ali, dizia a mãe.
O que a menina mais gostava, no entanto, era o burburinho, as muitas conversas paralelas que ela acompanhava e com as quais se deliciava. Pedaços de vida de um e de outro, cheios de assombro, riso ou tristeza. Eram histórias acumuladas ao longo do ano que, naquelas férias, ganhavam corpo. Talvez não fossem apropriadas para a menina, mas ninguém percebia que ela brincava de ouvidos acesos. Tinha paixão por histórias alheias, cotidianas, pequenos dramas aparentemente sem solução. Um dia descobriu que a carteira do tio havia sido roubada por uma mulher no meio da madrugada, com quem saíra às escondidas. Um assombro…
Ela voltava para casa remoendo tudo e recriando na mente as histórias dos outros.
Guardava ainda os ruídos de uma casa cheia de gente e barulho, que continuavam ecoando na sua vida tão silenciosa. Mal chegava e já pensava em quando ia retornar. O calendário das próximas férias era sempre muito longe.
A maior dificuldade era: como contar a sua forma particular de alegria no retorno às aulas, quando os colegas falavam em parques, cruzeiros e praias?
Não foram poucas as vezes em que, ao contar suas férias de sempre, alguns colegas caíram no deboche. Ela ficava triste, mas logo depois esquecia. Não fazia questão de ser igual aos outros. Antecipava as próximas férias, deixando a mala feita alguns meses antes. Estaria pronta para acender os ouvidos e acompanhar novas histórias alheias.
Existem formas muito peculiares de ser feliz…