Aos sete anos, a menina descobre a magia que os pores de sol podem guardar e aprende que existe algo chamado esperança no futuro.
Foi só depois de adulta e com filhos grandes que ela percebeu por que motivo achava que os pores do sol são a imagem mais bonita do planeta: ela custou a ver um pôr do sol cara a cara. Quando era criança, ia à praia pelas manhãs e nunca ao entardecer. O quase-noite era sempre de cabelos secos à espera do dia seguinte. E, como vivia longe do mar, o dia seguinte demorava. Sua casa de criança parecia longe de qualquer horizonte; as janelas eram sufocadas por outras janelas, e a rua dava para o asfalto.
Mas houve o momento da mudança.
A família precisou se mudar para outra cidade, e logo a casa sem horizonte ficou para trás. Estava triste, porque a cidade nova não tinha praia. Ela estava sem esperança no futuro – não tinha o hábito de ver nada de significativo além da sua janela, e os dias da semana eram uma mistura de asfalto e prédio. Os finais de semana demoravam a chegar e nem sempre traziam o sol.
Meio a contragosto, foi para a paisagem distante e desembrulhou a vida antiga.
Tinha medo do futuro, das novas pessoas. Ela não sabia ainda o que lhe reservariam as janelas. Quando pisou no apartamento e chegou ao quarto que seria pela primeira vez só dela, sem que precisasse dividir com o irmão, teve a visão mais linda de sua vida até aquele momento: um janelão de cara para o pôr do sol desmanchando em um rio gigante e dourado. Quando viu a cena, ficou perplexa. Aos 7 anos, ainda não sabia que o sol se punha. E muito menos que poderia ser laranja ou avermelhado.
A partir daquele dia, sua visão de mundo se transformou completamente. Acordar e abrir aquela janela deu a ela uma nova perspectiva. Ainda era bem pequena, mas, por alguma secreta razão, passou a acreditar que os dias, para serem bons, não precisariam esperar pelo fim de semana. Mesmo quando não houvesse sol, ainda assim haveria o rio e o horizonte, e a combinação de ambos dava a ela um novo sentido de existir.