O início de um relacionamento é cheio de encantamento e surpresas. Mas a promessa de que a vida será sempre assim não costuma ser cumprida.
Claudia Nina | 31 de Janeiro de 2021 às 11:39
Aquela era primeira vez que o namorado aparecia de carro. Não era a primeira vez dela em um carro de namorado, mas o anterior era óbvio e tinha carros óbvios que fediam à gasolina. Era a primeira vez de carro com o namorado novo. Ele era todo diferente, fora da curva, cheio de surpresas. Uma delas foi chegar de noite para buscá-la em um Jeep dourado, um modelo bem antigo, parecia uma peça de exposição. Ela nunca tinha visto um carro como aquele.
Ele chegou de carro sem avisar que iriam de carro – sempre andavam a pé. Ele tinha acabado de tirar carteira de motorista, seria um passeio inaugural.
Quando ela viu o carro lá embaixo, custou a acreditar que fosse para ela. Muita emoção para uma garota de 18 anos a chegada daquele namorado cheio de diferenças.
Ela disse:
– Tchau, pai. Vou sair.
– Espera… – O pai tentou segurar. Tentou segurar. Mas aquele namorado…
Não adiantou, ela foi. E seria com ele que ela sairia de casa e até do país.
O pai foi para a janela na última tentativa de, quem sabe, jogar uma corda para a filha voltar, mas ela entrou para sempre no carro do garoto. Só que os olhos atentos do pai não deixaram escapar que o namorado tinha esquecido de ligar os faróis. Estariam pela cidade de ruas escuras em perigo… Naquela época não havia celular.
O pai esperou na sala até a filha chegar. Falou do erro. Ela no dia seguinte avisou o namorado do alerta do pai – era uma ordem: “Nunca mais irão sair sem o farol ligado.” O namorado respondeu o pai à altura: “Avisa a seu pai que prometo nunca mais esquecer de ligar o farol.”
Realmente, as luzes do carro dali para a frente estariam sempre acesas. Mas a promessa ele não cumpriu… A promessa de nunca mais deixar a moça na escuridão.
Quanto tempo leva para alguém se lembrar de descumprir uma promessa?
O ritual da janela herdado
Uma descoberta na loja de departamentos
O homem eternamente deitado na varanda
A memória dos outros e os olhos da mãe
Para onde vai o tempo perdido?
Nunca houve um amor como aquele