Na vertical, o trampolim pegou o vento como uma vela. Enquanto era soprado, o barco puxava Ron pela água, para longe de Hana, esticando seus braços.
Ele teve de tomar uma decisão que parecia surreal: largar o barco ou Hana.
Ele largou o barco. Hana e Ron estavam ambos de colete salva-vidas, mas ondas de 2,5 metros se quebravam sobre eles, ameaçando separá-los ou afogá-los.
Os dois se abraçaram, e Hana enfiou a cabeça junto ao peito de Ron, em busca de um bolsão de ar livre da chuva penetrante. No caos, Ron pensou um momento na filha. Mas, enquanto ele e Hana rolavam sob as ondas, sua mente ficou tão vazia e cinzenta quanto a paisagem marinha.
O barco de Sarah e Jim também os jogou na água. O mastro se quebrou, soltando as velas. “Jim!”, gritou Sarah, procurando-o entre as velas. Finalmente, eles se encontraram e se arrastaram de volta para os restos do barco.
Uns 50 quilômetros ao norte, Phillip McNamara, cabo da Guarda Costeira, fazia seu primeiro turno como oficial de plantão.
Enquanto a tempestade caía sobre a Baía de Mobile, vinham pedidos de ajuda de marinheiros na água, de pessoas presas em bancos de areia, de testemunhas frenéticas em terra. Várias vezes, ele ligou para o comandante Chris Cederholm, seu superior, para perguntar o que fazer. “No terceiro telefonema, ficou claro que algo grande estava acontecendo”, disse Cederholm. Quando chegou ao posto, ele começou o protocolo de “Operação de Resgate em Massa”, convocando equipes no ar, em terra e no mar.
Enquanto as autoridades corriam para compreender a escala da tempestade, centenas de marinheiros na baía se esforçavam para sobreviver. O vento virou o Razr dos Luitens, lançando a tripulação na água – Lennard, o pai, Jimmie Brown, de 71 anos, e os amigos adolescentes Adam Clark e Jacob Pouncey.
Brown brigava com a capa de chuva. Lennard nadou em torno do barco, procurando o pai, e o achou com Jacob. Depois de uns 20 minutos, as ondas de 2,5 metros ameaçaram afogá-los, e Lennard partiu para a praia em busca de ajuda.
Normalmente, a pior parte de uma tempestade passa em dois ou três minutos; essa durou 45.
Uma dúzia de embarcações da Guarda Costeira respondeu ao chamado, além de vários aviões, helicópteros e uma equipe que percorreu a costa em veículos 4×4. Pessoas a cavalo buscavam sobreviventes nas margens lamacentas da baía. No posto avançado da Guarda Costeira na Ilha Dauphin, Scott Bannon, major da Divisão de Recursos Marinhos do Alabama, fazia ligações e mais ligações a familiares e amigos de proprietários e comandantes de barcos, tentando descobrir quantas pessoas estariam desaparecidas.
Perto da ponte da Ilha Dauphin, um barco de resgate da Guarda Costeira recolheu Sarah Gaston e Jim Gates. Ela estava com hipotermia e uma ferida na perna, e, quando os socorristas a puxaram para o convés, entrou em choque.
Ron e Hana estavam mais perto do meio da baía, onde a probabilidade de resgate era assustadoramente baixa. “Na verdade, o máximo que se consegue ver acima da água é a cabeça de alguém”, explicou Bannon mais tarde. “É fácil passar a poucos metros e não ver uma pessoa na água.”
Nisso, Ron e Hana estavam na água havia duas horas.
Tentaram nadar para a margem, mas as ondas e a corrente os prendiam no mesmo lugar. Para afastar o horror da situação, Hana fez piadas.
– Acho que não estaremos em casa a tempo de jantar – disse ela. – Veja! – Ron tirou o celular do bolso. Na mesma hora, Hana puxou um aparelho de GPS que enfiara no salva-vidas.
Hana ligou para o serviço de emergência. Alguém atendeu:
– Qual é a emergência? E qual a sua localização?
– Estou na Baía de Mobile – disse Hana.
– Na área da baía?
– Não, senhora. Estou na baía. Dentro d’água.
Ela observou as luzes azuis de um barco de patrulha e, com o celular e o GPS, guiou os socorristas até onde estavam. Quando um agente a puxou da água e a pôs no convés, Hana perguntou:
– Este barco não vai virar também, vai?
Shane e Connor Gaston também tinham caído na água.
O vento virou o barco três vezes antes de o mastro se partir. Eles usaram a pequena bujarrona para avançar rumo à margem oeste. Ao desembarcar, bateram a uma porta, usaram um telefone emprestado e ligaram para avisar à Guarda Costeira que tinham sobrevivido.
Naquela tarde, quando o sol começou a se pôr, Scott e Hope Godbold entraram no posto da Guarda Costeira na Ilha Dauphin com três sobreviventes.
“Foi espantoso”, disse Bannon. A probabilidade de encontrar uma pessoa em mais de 1.000 quilômetros quadrados de mar revolto era minúscula.
Depois de deixar Hope e os sobreviventes no posto, Scott Godbold se reuniu ao seu pai, Kenny, e, juntos, continuaram a busca. Scott pensava num adolescente que conhecia: Lennard Luiten, que continuava desaparecido. O pai de Lennard fora encontrado vivo, assim como seu amigo Jacob. Mas os dois outros tripulantes do Razr, Adam Clark e Jimmie Brown, não tinham sobrevivido.
Nesse momento, Lennard estaria na água havia seis horas, sem colete salva-vidas.
A noite caíra, e os homens sabiam que a probabilidade de encontrar o menino se esvaía rapidamente. Scott levou o barco para a baía, tentando escutar algum som na escuridão.
Finalmente, uma voz veio acima da água: “Socorro!”
Horas antes, a corrente levara Lennard para alto-mar. Ele nadara na direção de uma plataforma de petróleo, mas as ondas trabalhavam contra ele, que vira a plataforma se afastar lenta- mente do sul para o norte. Não havia nada a não ser mar e escuridão, mas ele mantivera a esperança: talvez sua mão encontrasse uma armadilha de caranguejos, talvez uma boia.
Nisso, Kenny acendeu a lanterna em seu rosto, e Scott perguntou: “É você, Lennard?”
Dez embarcações naufragaram ou foram destruídas pela tempestade, e 40 pessoas foram resgatadas da água. Meia dúzia de marinheiros morreu. Foi um dos piores desastres da navegação recreativa na história americana.
Em conjunto com a Guarda Costeira, que investiga o desastre, os organizadores de regatas adotaram medidas de segurança mais rigorosas. A família de Robert Thomas, um dos marinheiros mortos, está processando o Fairhope Yacht Club por negligência e homicídio culposo.
Por MATTHEW TEAGUE da REVISTA SMITHSONIAN