Entenda como a sua alimentação tem uma relação direta com as mudanças climáticas do nosso planeta e comece hoje uma mudança no seu estilo de vida!
Hoje, quarta-feira, 22 de abril, é celebrado o 50º Dia da Terra. A data criada na década de 1970 pelo movimento ambientalista Earth Day Network, e reconhecido pela ONU em 2009, é um importante momento para refletirmos sobre como nossas ações impactam negativamente a vida no planeta.
O tema central do Dia da Terra neste ano trata de um assunto vital e que está diretamente relacionado com a nossa vida na Terra: as mudanças climáticas. Embora tenhamos bastante consciência de como alguns dos nossos atos afetam o clima do nosso planeta, outras ações, como os nossos hábitos alimentares por exemplo, acabam passando despercebidas pela grande maioria da população. Descubra abaixo como a sua alimentação tem uma relação direta com o nosso planeta e comece hoje uma mudança no seu estilo de vida!
O que eu como tem efeito sobre a mudança climática?
Sim. O sistema alimentar do mundo é responsável por cerca de um quarto dos gases do efeito estufa gerados todo ano pelos seres humanos e que aquecem o planeta. Isso inclui a criação e o cultivo de todas as plantas, animais e derivados que comemos – carne bovina, frango, peixe, leite, lentilha, couve, milho e muito mais –, além do processamento, da embalagem e do transporte dos alimentos até o mercado no mundo inteiro.
Como a comida contribui exatamente com o aquecimento global?
São quatro maneiras principais. Quando as florestas são derrubadas para abrir espaço para plantações e pecuária, um grande estoque de carbono é liberado na atmosfera, e isso aquece o planeta. Quando digerem a comida, bois, ovelhas e cabras eliminam metano, outro gás potente do efeito estufa. O esterco animal e os arrozais também são grandes fontes de metano. Por fim, usam-se combustíveis fósseis para operar as máquinas agrícolas, fazer fertilizante e transportar alimentos pelo mundo inteiro, e tudo isso gera emissão de gases.
Que alimentos causam mais impacto?
Carne e laticínios, principalmente de bovinos, têm o maior impacto, e a pecuária é responsável por cerca de 14,5% dos gases do efeito estufa do mundo por ano. É mais ou menos a mesma quantidade de emissões de todos os carros, caminhões, aviões e navios do planeta.
Um grande estudo publicado em 2018 na revista Science calculou a emissão média de gases do efeito estufa de diversos alimentos. Em geral, bovinos e ovinos têm a maior pegada climática por grama de proteína, enquanto alimentos vegetais como leguminosas, cereais e soja tendem a causar menos impacto. Carne suína, frango, ovos e moluscos como mariscos, ostras e vieiras ficam numa faixa intermediária.
Essas são apenas médias. Geralmente, os bois criados nos Estados Unidos produzem menos emissões do que os do Brasil ou da Argentina. Alguns queijos podem ter mais impacto sobre os gases do efeito estufa do que uma costeleta de carneiro. E alguns especialistas acham que, na verdade, esses números subestimam o impacto do desmatamento associado à agricultura e à pecuária.
Há uma escolha alimentar simples que reduza minha pegada climática?
Em geral, consumir menos carne vermelha e laticínios é o que causa mais impacto para a maioria dos habitantes de países ricos. Alguns estudos concluíram que quem faz atualmente uma alimentação rica em carne poderia diminuir em um terço ou mais a pegada alimentar se adotasse a dieta vegetariana. Abrir mão dos laticínios reduziria ainda mais as emissões. Se não quiser ir tão longe, basta comer menos carne e laticínios e mais alimentos vegetais para reduzir as emissões.
Não se esqueça de que o consumo de alimentos costuma ser apenas uma pequena fração da pegada de carbono das pessoas; também há os carros, os voos e a energia doméstica para levar em conta. Mas a mudança alimentar é um dos modos mais rápidos de aliviar o impacto sobre o planeta.
Sou uma pessoa só! Eu realmente faria diferença?
É verdade que uma pessoa só causaria apenas uma alteração minúscula no problema climático global. A comida nem é o maior contribuinte do aquecimento global; a maior parte dele é causada pela queima de combustíveis fósseis na geração de eletricidade, nos transportes e na indústria.
Por outro lado, se muita gente mudar de alimentação, isso passa a se somar. Como a população mundial continua crescendo, agricultores e pecuaristas precisarão reduzir suas emissões e produzir mais alimento em menos terra para limitar o desmatamento. Os especialistas argumentaram que faria uma grande diferença se os maiores comedores de carne do mundo reduzissem moderadamente o consumo e ajudassem a liberar terras para alimentar todo mundo.
Por que a carne tem um impacto tão grande sobre o clima?
Em geral, é mais eficiente plantar alimentos para seres humanos do que para animais comerem e depois transformar esses animais em alimento para seres humanos. Um estudo de 2017 da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas concluiu que, em média, são necessários três quilos de cereais para produzir um quilo de carne.
A carne bovina e a ovina têm pegada climática especialmente grande por outra razão: o estômago de bois e ovelhas contém bactérias que os ajudam a digerir capim e outros alimentos. Mas essas bactérias produzem metano, que é liberado em arrotos e flatulências.
E o frango?
Alguns estudos constataram que as aves têm impacto climático menor do que outros animais de criação. Os frangos modernos são criados para serem eficientíssimos na conversão de ração em carne. Isso não quer dizer que o frango seja perfeito: a criação de aves em escala industrial ainda polui a água e provoca muita preocupação com o bem-estar dos animais. Mas os frangos costumam produzir muito menos emissões do que os bovinos e um pouco menos do que os suínos.
Os seres humanos devem parar de vez de comer carne?
Não necessariamente. Vários especialistas defendem que um sistema alimentar sustentável ainda pode e deve incluir muitos animais. Afinal de contas, bovinos e outros animais podem ser criados em pastos inadequados para a agricultura e se alimentam de resíduos vegetais que seriam desperdiçados. Produzem esterco que usamos como adubo. E a pecuária sustenta cerca de 1,3 bilhão de pessoas no mundo inteiro. Em muitos países, carne, ovos e leite são uma fonte fundamental de nutrição quando não há boas alternativas.
Dito isso, hoje também há milhões de pessoas no mundo que comem muito mais carne do que precisariam numa alimentação saudável, de acordo com um relatório recente da revista médica The Lancet.
E as “carnes falsas”?
Os novos substitutos da carne de base vegetal, feitos de legumes, amido, óleos e proteínas sintetizadas, tentam imitar o sabor e a textura da carne. Embora o júri ainda não tenha decidido se são ou não mais saudáveis, esses produtos podem ter uma pegada ambiental menor. Um estudo recente estimou que um Beyond Burger, popular nos Estados Unidos, tem apenas um décimo do impacto climático de um hambúrguer de carne bovina.
Há outras maneiras de tornar a carne menos nociva ao clima?
Há. Os avanços no manejo dos animais, os cuidados veterinários, a qualidade das rações e os sistemas de pastoreio ajudam a reduzir a pegada climática das operações da pecuária. Por exemplo, os Estados Unidos produzem mais carne bovina hoje do que em 1975, embora o número total de cabeças tenha caído cerca de um terço.
Há muito espaço para melhorar. Alguns cientistas tentam até descobrir como fazer os animais soltarem menos metano adicionando algas e outros aditivos à alimentação.
Essas iniciativas serão importantíssimas para dar uma pegada mais sustentável à produção de carne.
Que tipo de frutos do mar devo comer?
Peixes selvagens em geral têm uma pegada climática relativamente pequena, e a principal fonte de emissões é o combustível queimado pelos barcos pesqueiros. Uma análise recente verificou que vários peixes selvagens populares – anchova, sardinha, arenque, escamudo, bacalhau, hadoque – têm, em média, pegada de carbono menor do que frango ou porco. Os moluscos também são uma ótima opção com baixa emissão de carbono.
Por outro lado, camarões e lagostas selvagens podem ter mais impacto do que frango e porco, porque sua pesca exige mais combustível dos barcos.
Mas há uma ressalva imensa a todo pescado selvagem: a maioria das regiões pesqueiras está sendo explorada no máximo nível sustentável e outras são superexploradas. Portanto, não há muito espaço para todo mundo aumentar o consumo de peixe selvagem.
A criação de frutos do mar é um bom plano de longo prazo?
Às vezes, a piscicultura pode ser favorável ao clima, principalmente no caso de moluscos, mas nem sempre.
Em lugares como a Noruega, com regulamentação ambiental mais estrita, a criação de peixes pode ter impacto relativamente baixo. Mas em regiões do Sudeste Asiático os produtores estão eliminando muitos mangues a fim de abrir espaço para fazendas de camarões, o que provoca um grande aumento das emissões. E algumas fazendas de criação de peixes da China produziram quantidade enorme de metano. Estão em andamento iniciativas promissoras para tornar a criação de peixes mais favorável ao clima, mas ainda há muito a avançar em diversas regiões do mundo.
Qual o impacto do leite e do queijo sobre a mudança climática?
Alguns estudos constataram que, em geral, o leite tem impacto climático menor por quilo do que o frango, os ovos e a carne suína. Iogurte, queijo cottage e cream cheese são semelhantes ao leite.
Mas muitos outros tipos de queijo, como o cheddar e os queijos duros, podem ter pegada bem maior que a de frangos e porcos, por serem necessários dez quilos de leite para produzir um quilo de queijo. Se você decidir se tornar vegetariano e comer queijo em vez de frango, sua pegada de carbono pode não cair tanto quanto espera.
Algum tipo de leite é melhor? Pago caro pelo leite orgânico.
Não há exigência nenhuma de que as fazendas leiteiras orgânicas tenham pegada climática menor do que as convencionais. Até agora, os estudos sobre a produção de gases do efeito estufa por litro de leite em fazendas leiteiras orgânicas discordam quanto a ela ser maior, menor ou igual à das fazendas convencionais. O mais provável é que varie de uma fazenda a outra.
Qual o melhor leite vegetal?
Os de amêndoas, aveia e soja têm pegada de gases do efeito estufa menor do que o leite de vaca. Mas há ressalvas e questões a considerar. As amêndoas exigem muita água para crescer. O leite de soja tende a ter impacto bastante baixo, desde que a soja seja cultivada de forma sustentável.
Então você está dizendo que eu deveria me tornar vegano?
Se estiver interessado nessa mudança, a alimentação vegana tem a menor pegada climática possível.
Não gosto de comida vegana. O que comer?
Se gosta de macarrão com molho de tomate, homus e torradas com abacate, você já gosta de alguns pratos veganos. Algumas pessoas supõem que a alimentação vegana tem de incluir “substitutos” da carne, como o tofu, mas isso não é verdade: há muita proteína no feijão, nos cereais e nas nozes e castanhas. E as versões vegetais de sorvete, manteiga e até hambúrgueres estão cada vez melhores.
Acho que não consigo ser completamente vegano. O que mais posso tentar?
Você pode ser vegetariano: sem carne, frango nem peixe, mas ovos e laticínios são permitidos. As regras são simples, e a indústria alimentícia e os restaurantes estão acostumados a atender vegetarianos. Acrescentar frutos do mar a uma alimentação vegetariana pode ser um bom meio-termo que facilita aumentar a proteína das refeições.
Para manter a carne na alimentação, tente reduzir a carne vermelha a uma porção por semana e substitua o restante por frango, porco, peixe ou proteína vegetal.
As hortaliças orgânicas são realmente melhores do que as convencionais?
As hortaliças orgânicas são cultivadas sem fertilizantes sintéticos nem agrotóxicos, mas isso não significa que sejam necessariamente melhores do ponto de vista do clima. Em alguns casos, podem ser um pouco piores; as fazendas orgânicas em geral precisam de mais terra do que as convencionais. O impacto climático das fazendas orgânicas pode variar muito de um lugar para outro.
Eu deveria conferir se minhas hortaliças são locais e sazonais?
Em geral, o que você come importa muito mais do que de onde vem, pois o transporte responde por apenas 6% da pegada climática total da comida. Dito isso, há algumas coisas a considerar.
Em geral, tudo o que estiver na estação, quer compre na feira, quer no supermercado, é uma boa opção.
Fica mais complicado quando se trata de produtos fora da estação. Algumas frutas e legumes perecíveis exportados de avião podem ter uma pegada de carbono altíssima. No inverno, isso pode incluir aspargo ou amoras. Por outro lado, maçãs, laranjas e bananas costumam ser transportadas por mar, e o uso de combustível é mais eficiente. Legumes de clima frio como cenoura, batata e abóbora podem ser armazenados depois de colhidos no outono e durar o inverno inteiro.
Mas, em alguns casos, há vantagem nos alimentos vindos de outras regiões. No inverno, pode ser melhor comprar um tomate trazido de caminhão do que comprar uma variedade local que cresceu em estufas aquecidas com uso intensivo de energia.
POR JULIA MOSKIN, BRAD PLUMER, REBECCA LIEBERMAN E EDEN WEINGART
(ADAPTADO DO NEW YORK TIMES)
Esta versão foi condensada pelo Reader’s Digest. © 2019 de New York Times Co.