Ulisses: a obra-prima mais censurada do mundo

Embora Ulisses se refira aos acontecimentos de um único dia – 16 de junho de 1904 –, James Joyce calculou ter gastado 20.000 horas para escrever essa

Redação | 27 de Maio de 2019 às 21:00

lensmen/iStock -

Embora Ulisses se refira aos acontecimentos de um único dia – 16 de junho de 1904 –, James Joyce calculou ter gastado 20.000 horas para escrever essa epopeia passada em Dublin. Isso significa que ele empregou cerca de 2.500 jornadas normais de trabalho para compor a obra, ou oito anos trabalhando seis dias por semana, sem férias.

Desde que Joyce publicou a primeira parte do livro, em março de 1918, até a obra estar disponível na sua totalidade, em 1934, passaram-se mais de 16 anos. E não foi por Joyce ser um escritor lento  – terminou Ulisses em 1922 –, mas porque esse romance foi censurado antes de chegar às livrarias.

Escrúpulos dos correios

A primeira parte de Ulisses foi publicada numa revista norte-americana, a Little Review, em 1918. Em 1921, o serviço postal dos EUA exerceu o direito de proibir o envio de obscenidade através do correio e processou a revista. Cada um dos editores foi condenado e multado em 50 dólares.

Outros escritores manifestaram simpatia pela obra de Joyce: Virginia Woolf e o marido, Leonard, queriam publicar Ulisses, mas imprimi-lo à mão na antiquada tipografia que possuíam teria levado dois anos. Nenhuma editora aceitava publicar o livro, a não ser que o autor realizasse cortes na obra; Joyce sempre se recusou a fazê-lo.

Edições limitadas

Finalmente, em 1922, a pequena livraria parisiense Shakespeare & Co. publicou uma edição limitada de 1.000 exemplares. No mesmo ano, a Egoist Press de Londres publicou 2.000 exemplares; 500 deles foram confiscados pelos correios de Nova York, e outros 499, apreendidos e queimados pela alfândega inglesa.

Para piorar, Samuel Roth, um norte-americano sem escrúpulos, começou a publicar versões expurgadas e não autorizadas do texto de Joyce na sua revista Two Worlds, mas a reputação de Joyce já era tão grande que ele conseguiu reunir 167 assinaturas célebres, de Einstein a E. M. Forster, para fazer uma petição contra Samuel.

Ulisses só foi absolvido em dezembro de 1933, num julgamento famoso; isso permitiu à editora Random House, de Nova York, publicá-lo em uma edição integral. No entanto, apenas na década de 1960 a obra pode circular na Irlanda.