Aprofunde-se na incrível e rica história do teatro tradicional japonês. Entenda a diferença do teatro Kabuki e do Nô, e saiba a origem de cada um.
Douglas Ferreira | 23 de Agosto de 2019 às 17:00
A cultura do Japão produziu duas impressionantes e originais formas de teatro – o Nô e o Kabuki. O Nô, o mais antigo, não sofreu qualquer alteração nos útlimos 600 anos. Os fundadores desta tradição, Kannami Kiyotsugu e o seu filho Zeami Motokiyo, refinaram o estilo teatral a fim de o adequarem ao delicado gosto da aristocracia japonesa, que transformara simples atividades quotidianas, como tomar chá e arranjar flores, em elegantes atividades artísticas.
O Nô, portanto, é um espetáculo minimalista, constituindo mais um ritual do que uma peça. Nele, cada movimento e entonação são formalizados e fixos para sempre. Há poucos diálogos e nenhum cenário, e tampouco se utilizam efeitos especiais. Manipulando um leque de diferentes modos, um ator sugere a chuva, o ondular das águas ou um belo luar. Só há atores masculino, que, com máscaras, representam quaisquer personagens – uma mulher, um deus, um demônio ou um velho. No decorrer da peça, um coro entoa as frases do ator principal, enquanto este executa os solenes movimentos rituais de uma dança.
As peças do Nô dividem-se em cinco tipos: sobre deuses, sobre guerreiros, sobre mulheres, sobre demônios, monstros e outros seres sobrenaturais e finalmente sobre temas diversos, normalmente envolvendo personagens loucos. Em geral, o espetáculo incluía uma peça de cada um desses tipos. No entanto, atualmente é comum que tenha só duas ou três peças.
O teatro Kabuki é muito diferente. Baseado no estilo melodramático do teatro de fantoches, sempre se destinou mais ao povo do que à aristocracia. Data de 1603, quando uma bailarina encenou com grande sucesso peças e danças eróticas no leito seco de um rio. Esse tipo de teatro ficou associado à prostituição e, em 1629, as mulheres foram proibidas de aparecer no palco. Mas a ideia de um teatro popular estava firmada e, mais tarde, deu origem a peças com figuração masculina.
A profissão de ator de Kabuki é hereditária. Com longas apresentações – duravam 12 horas ininterruptas, e, hoje em dia, cerca de cinco –, atores ricamente caracterizados e ação estilizada, o Kabuki distingue-se muito do teatro ocidental. Como no Nô, a dança, o movimento e os cantos têm uma função mais importante do que o diálogo.
Um espetáculo Kabuki é constituído por um drama histórico seguido por uma ou duas danças, uma peça doméstica e um drama dançado.
Tanto companhias de Nô como de Kabuki costumam fazer temporadas no Ocidente, e sua influência é evidente no moderno teatro minimalista ocidental. Embora o Kabuki tenha perdido parte da cor local, a tradição japonesa permanece exótica aos olhos estrangeiros.