Rasstreadores de contato são profissionais especializados em localizar pessoas que tiveram contato com pessoas infectadas. Saiba mais!
Douglas Ferreira | 1 de Outubro de 2020 às 17:00
Você sabia que existem profissionais especializados que ajudam você a descobrir se teve Covid-19 ou se entrou em contato com alguma pessoa infectada? Eles são os rastreadores de contato: profissionais que pesquisam e fazem conexões entre pessoas que foram infectadas e pessoas que possivelmente tiveram contato com elas.
Kimberly Jocelyn passa seus dias compartilhando informações com pessoas que tiveram resultado positivo para o coronavírus e seus contatos próximos que podem ter sido expostos.
Ninguém quer uma ligação de Kimberly Jocelyn, uma supervisora de rastreamento de contatos do New York City Health and Hospitals Test & Trace Corps. Mas, atender a sua ligação e responder às suas perguntas pode ajudar os Estados Unidos a diminuir a disseminação do COVID-19 e salvar vidas.
Essa é a esperança e a promessa do rastreamento de contatos, um método antigo de controle de infecções que está ressurgindo durante a atual pandemia.
Jocelyn faz parte de uma tropa crescente de rastreadores de contato em todo o mundo. Esses detetives de doenças têm a tarefa de entrevistar indivíduos com teste positivo para Covid-19, identificar contatos próximos que eles possam ter tido contato e, em seguida, fornecer a esses contatos informações sobre como fazer o teste e monitorar sua própria saúde.
“A maneira como o rastreamento de contato em geral funciona é quebrando as cadeias de transmissão entre as pessoas, descobrindo quem esteve em contato com alguém que foi diagnosticado com Covid-19 durante o tempo em que estava infectado e pedindo que se auto-isolassem em casa”, diz Isobel Braithwaite, especialista em saúde pública da University College London.
“Isso significa que eles não infectam tantas outras pessoas, o que é particularmente importante para conter a disseminação da Covid-19, uma vez que as pessoas podem ser infecciosas por alguns dias antes de desenvolver os sintomas e, em alguns casos, serem assintomáticos mas ainda assim transmitirem a doença.”
Em uma economia onde os empregos são escassos, os empregos de rastreamento de contato são abundantes. De acordo com a American Medical Association, atualmente, existem cerca de 66.000 rastreadores de contato nos Estados Unidos. Um crescimento impressionante se levarmos em conta que antes da pandemia o número era de 2.200 rastreadores.
Contudo, esse número ainda é baixo segundo os especialistas. Estimativas apontam que, para desacelerar a disseminação da Covid-19, são necessários, só nos Estados Unidos, pelo menos 100.000 ou mais rastreadores especializados.
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Alguns países têm realizado esforços para fazer o rastreamento dos infectados. No Brasil, o Ministério da Saúde lançou o aplicativo Coronavírus SUS. O app criado pelo Governo ajuda a rastrear e alertar sobre a proximidade e o contato com pessoas infectadas pela Covid-19.
De acordo com a Agência Brasil, a tecnologia chamada API Exposure Notification já é usada em outros países, como Alemanha, Itália e Uruguai, e só será ativada caso o usuário habilite a função “notificação de exposição” nas configurações do aplicativo.
No século passado, o rastreamento de contato foi usado para rastrear a propagação da sífilis e da tuberculose, além de ajudar a controlar epidemias como o surto de Ebola na África e o surto de SARS em 2003 nos Estados Unidos.
Sempre houve o medo de que o rastreamento de contato pudesse revelar certas informações privadas, particularmente sexualidade e comportamento sexual ao rastrear DSTs. Mas, quando você participa do rastreamento de contato para Covid-19 com o departamento de saúde local ou estadual, suas informações ficam seguras e mantidas em sigilo.
Jocelyn diz que o trabalho de busca de contatos a encontrou de várias maneiras. Antes, Jocelyn trabalhou com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e administrou uma estação de quarentena no Aeroporto Internacional John F. Kennedy. Quando ela viu um anúncio de rastreamento de contato no Facebook, ela rapidamente se inscreveu.
Com sua formação e experiência em saúde pública, a nova profissão demonstrou ser um caminho natural. “Não parece que estou trabalhando porque sou muito apaixonada”, diz ela. “Impedir uma única transmissão da Covid-19 pode fazer uma grande diferença.”
O dia de Jocelyn começa quando ela coloca seus fones de ouvido e os conecta ao seu laptop em sua casa em Prospect Heights, Brooklyn. Ela analisa novos relatórios das empresas e novos dados ou tendências – como o aumento de casos na geração Y – antes de entrar em contato com sua equipe de 17 rastreadores e coletores de informações para compartilhar quaisquer novos desenvolvimentos.
Só então ela realmente entra na essência de seu trabalho. A lei do estado de Nova York e o Código de Saúde da Cidade de Nova York exigem que os laboratórios compartilhem os resultados de testes positivos, que o NYC Test & Trace Corps recebe para o Departamento de Saúde de Nova York.
O trabalho de Jocelyn é chegar aos indivíduos que testaram positivo para Covid-19 e às pessoas que eles podem ter exposto. Coletores de informações a ajudam a obter todos os detalhes relevantes. Ela normalmente faz cerca de 50 ligações por dia.
É um processo confidencial, então Jocelyn não revela como eles foram expostos ou quem pode ter sido a fonte. Às vezes, uma pessoa infectada é mais rápida do que ela, contando aos seus contatos próximos antes que ela tenha a chance de ligar; isso é mais do que OK, diz Jocelyn. Porque na maioria das vezes ela é portadora de más notícias.
Às vezes, a pessoa não quer ouvir as notícias – ou ouvir qualquer coisa. “Isso está ok. Eu não levo isso para o lado pessoal”, diz Jocelyn. “Se eles não estiverem dispostos a falar agora, podem sempre nos ligar de volta.” Outros estão confusos sobre como eles podem ter contraído Covid-19. Então, o trabalho de um rastreador envolve também um certo tipo de assistência.
Pode ser difícil receber uma chamada, ela admite. No entanto, a maioria das pessoas está disposta a falar.
Quando ela liga para uma pessoa com teste positivo para Covid-19, costuma perguntar sobre a saúde da pessoa e com quem ela teve contato e que pode estar em risco. Essa lista inclui colegas de casa, parceiros sexuais ou pessoas com quem passaram dez minutos ou mais.
É importante frisar, informa Jocelyn, de que há algumas coisas que um rastreador de contato nunca perguntaria, tais como: informações de cartão de crédito e conta bancária ou número do Seguro Social. Nem precisariam assumir o controle do seu computador ou exigir que você baixe um programa.
Nos Estados Unidos, existem outros rastreadores que vão às casas para contatar pessoas que não podem ser alcançadas de outra forma. “A equipe de engajamento da comunidade bate às portas para que os indivíduos saibam que o teste foi positivo ou que um contato os identificou para obter o máximo de informações possível”, diz Griffith.
A maioria dos “casos” resulta em dois ou quatro contatos que são chamados e incentivados a fazer o teste e se isolar até receber os resultados, explica Griffith. O relacionamento, no entanto, não termina com a identificação dos possíveis infectados. Os rastreadores também fazem o acompanhamento durante o período infeccioso.
Historicamente, o rastreamento de contatos desempenhou um papel enorme e importante no controle de doenças, diz Len Horovitz, pneumologista do Hospital Lenox Hill em Nova York.
“Para que seja realmente eficaz na redução da propagação da Covid-19, precisamos de testes mais rápidos e confiáveis com um tempo de execução mais curto”, defende Horovitz. Da forma como está, pode levar até duas semanas para receber os resultados. “Uma vez que muitas pessoas não apresentam sintomas, elas podem pegar o metrô por cinco ou seis dias antes de serem contactadas e saber que foram expostas”.
De acordo com um estudo realizado pela Biblioteca Cochrane, muitos aplicativos estão sendo testados e desenvolvidos para auxiliar no processo de rastreamento de contatos – como no caso do Brasil –, mas ainda é muito cedo para depender exclusivamente desses rastreadores digitais.
Os autores do estudo afirmam que os aplicativos não são ideais por si só, porque as populações vulneráveis ou de risco podem não ter acesso à internet ou tecnologia digital.
Também há perguntas sem resposta sobre se os aplicativos são tão eficazes quanto rastreadores humanos em persuadir as pessoas a se isolarem se forem identificadas como um contato, diz Braithwaite.
No futuro, os aplicativos podem aumentar o rastreamento manual de contato, mas até então Jocelyn e outros rastreadores de contato ao redor do mundo estão trabalhando.