Ele tinha constantes desmaios e os médicos lutavam para entender o motivo. O culpado seria um carrapato? Confira a história completa!
Redação | 7 de Março de 2022 às 15:00
O homem de 75 anos* estava caído no chão da cozinha em sua casa no estado americano de Connecticut, cercado de comprimidos. “O que aconteceu?”, perguntou a esposa quando correu até ele. Ele lhe disse que não sabia. Num minuto se preparava para tomar os remédios matutinos para a pressão; no seguinte, estava no chão. Nos últimos dez dias, ele havia sofrido três desmaios.
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O primeiro desmaio aconteceu quando cochilava no pátio e acordou suado, com calor. Foi aos tropeços até uma cadeira dentro de casa, mas desmaiou ali sentado. Na vez seguinte, alguns dias depois, acordou para ir ao banheiro. Levantou-se e, de repente, estava no chão. Quando a esposa o ajudou a ir até o banheiro, ele descobriu que tivera incontinência. Ligou para o consultório médico na manhã seguinte e marcou hora para o outro dia.
Na consulta, ele disse à jovem auxiliar médica (nos Estados Unidos, diagnosticam e tratam pacientes sob a supervisão de um médico propriamente dito) que não se sentia bem havia algumas semanas. Acordava algumas vezes encharcado de suor, e a esposa dizia que ele sacudia a cama de tanto que tremia. Sentia-se febril, mole, cansado. Perdera o apetite, e urinar era desconfortável.
A auxiliar médica o mandou ao laboratório e, depois de avaliar o resultado do exame, disse que provavelmente era uma infecção do trato urinário. Esse tipo de infecção não é raro em idosos, porque o aumento da próstata pode dificultar o ato de urinar. Ela lhe receitou um antibiótico e lhe disse que fosse ao hospital caso piorasse. Dois dias depois, ocorreu o episódio na cozinha.
No setor de emergência do Yale New Haven Hospital, ficou claro que o homem estava doente. Tinha febre de 38,3°, o coração estava acelerado, a pressão baixíssima. Os exames mostraram insuficiência renal, embora os rins estivessem bem dois dias antes. Recebeu soro e começou a tomar antibiótico de amplo espectro; parecia que o que a auxiliar médica tinha receitado não fazia efeito.
Fora do pronto-socorro, mas ainda no hospital, o paciente consultou um clínico chamado Alan Lee, que estava no último ano da faculdade de medicina. O estudante estava acompanhado do residente seu supervisor. Lee fez perguntas, e o paciente mencionou os três desmaios, a sensação de febre e mal-estar, a perda de 4,5 quilos na última semana, porque se sentia enjoado demais para comer ou beber.
Depois que Lee terminou as perguntas, o residente supervisor perguntou ao paciente se tinha sido recentemente picado por algum carrapato. De jeito nenhum, respondeu o homem. Ele costumava levar o cachorro para passear no bosque, mas, quando chegava em casa, tomava o cuidado de examinar o corpo atrás de carrapatos.
O médico de plantão Dr. Joseph Donroe veio se juntar aos treinandos ao lado do leito. Lee admitiu que uma infecção urinária poderia causar a febre e os problemas urinários do homem. Esses sintomas poderiam levar o paciente a não querer comer nem beber e causar a desidratação. Esta, por sua vez, poderia provocar os desmaios e até prejudicar os rins. Mas a perda de 4,5 quilos não era comum em infecções urinárias, nem os suores noturnos. Seria alguma doença transmitida por carrapatos, como a de Lyme?
O Dr. Donroe concordou que os sintomas eram atípicos. Parecia que agora o paciente tinha urossepse – infecção que começava no trato urinário, mas depois envolvia o corpo inteiro – e que a causa dos sintomas era uma infecção urinária. Mas, como ele já estava tomando antibióticos, provavelmente não veriam nada na urina se fizessem um exame naquele momento. A solução seria Lee conversar com o clínico geral do paciente e pedir o resultado dos exames feitos antes que ele começasse a tomar antibiótico.
No dia seguinte, o paciente estava se sentindo bem melhor; talvez os antibióticos estivessem fazendo efeito. Mas os rins não se recuperavam. Lee ligou para o médico do paciente. A única anormalidade na cultura de urina era que a urina continha muito sangue. E agora? Lee e o Dr. Donroe examinaram os dados mais uma vez. Um dos exames mostrava que as hemácias estavam sendo destruídas em algum lugar do corpo.
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De repente, tudo fez sentido. O paciente estava doente havia quase duas semanas, com febre e calafrios, e algo destruía suas células vermelhas. Para o Dr. Donroe, parecia alguma doença de carrapato. Não Lyme, mas outra doença transmitida pelos carrapatos dos veados: a babesiose, que ocorre quando a babésia, um parasita, invade as hemácias de um vertebrado e se multiplica. Os médicos pediram um exame de babésia e outro de doenças comuns transmitidas por carrapatos (Lyme, erliquiose e anaplasmose).
No fim da tarde, chegou o primeiro resultado. Dentro de muitas hemácias do paciente havia um único círculo miúdo e escuro – um parasita. O paciente tinha babesiose. Na verdade, a equipe médica logo descobriu que ele também tinha doença de Lyme e, portanto, precisava ser tratado com remédios para ambas. Teria de tomá-los durante 15 dias.
O paciente sentiu a diferença um dia depois de começar a tomar a medicação. Seu apetite voltou, assim como a energia. Agora, em casa, ele vem pensando num jeito melhor de lidar com os carrapatos. Sabe que não vão desaparecer, mas ele e a esposa também não vão. Ele já usa um repelente para evitar as picadas e agora se examinará com mais atenção depois dos passeios com o cachorro. Os aracnídeos não vencerão.