Aos 56 anos, Eduard Savchuk recebeu um terrível diagnóstico: tinha um tumor fatal. No entanto, ele sobreviveu. Leia aqui a história completa.
Em março de 2019, Eduard Savchuk, eletricista de 56 anos da região de Toronto, no Canadá, notou uma rouquidão na voz. No início não incomodava, mas, como foi piorando, ele procurou o ambulatório, onde lhe asseguraram que era apenas um resfriado.
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Três semanas depois, a rouquidão não sumira. A voz estava rascante e estrangulada. “Ninguém conseguia me entender”, diz Savchuk. Ele foi a outro ambulatório e novamente lhe disseram que devia ser viral, que passaria sozinha. Fora isso, Savchuk se sentia bem e mantinha as atividades regulares, como as corridas pelo bairro.
O temido diagnóstico
Em maio, Savchuk estava com tanta dificuldade de ser ouvido que sua mulher, Halyna, tinha de atender o telefone por ele. Finalmente, ele foi ao médico de família. Fez um exame físico; estava tudo normal. Mas o médico pediu uma radiografia de tórax para procurar alguma anormalidade.
Dois dias depois, Savchuk recebeu um telefonema para ir ao médico imediatamente. Más notícias: dentro do peito, Savchuk tinha uma massa enorme e irregular, do tamanho de um melão. “Comecei a achar que era câncer”, recorda ele, que ficou perplexo ao saber que algo tão grande existia dentro dele sem que sentisse nada.
O médico o encaminhou ao departamento de oncologia do Centro de Saúde Regional de Southlake para mais exames. As radiografias mostraram que o tumor pressionava um nervo ligado às cordas vocais. Mais preocupante ainda, ele se enrolava no coração, na aorta e nas vias aéreas de Savchuk. Ele foi imediatamente levado para fazer uma biópsia.
Pouco depois, o oncologista de Southlake telefonou para dar o resultado. Era mesmo câncer torácico, um diagnóstico devastador e fatal. Sem tratamento, o tumor de quase dois quilos invadiria o coração, obstruiria as vias aéreas e o mataria em poucos meses. Mas era tão grande que a radiação provocaria um excesso de danos colaterais, e a cirurgia parecia impossível.
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Ele começou a quimioterapia, mas os exames regulares mostraram que não estava adiantando. Savchuk ficou exausto e desgostoso com o tratamento. “Eu pensava: se funciona com todo mundo, por que não comigo?”, diz ele. Halyna e os dois filhos adultos disfarçavam a angústia perto dele, mas em particular choravam e rezavam.
Surge uma centelha de esperança
Em agosto, sem opção, Savchuk foi encaminhado ao Dr. Shaf Keshavjee, cirurgião-chefe da Rede de Saúde Universitária de Toronto (UHN, na sigla em inglês). “Eduard estava muito assustado”, diz o Dr. Keshavjee. “Quando atendo pacientes que ouviram de cirurgiões experientes que o tumor era inoperável, eles não têm muita esperança.” Mas o médico assegurou a Savchuk que fariam exames avançados por imagem para determinar se a cirurgia ainda seria possível. Suas palavras deram ao eletricista a noção de que talvez a situação virasse para melhor.
A UHN tem máquinas de tomografia que estão entre as mais avançadas do mundo, capazes de produzir imagens detalhadíssimas. Elas podem ser convertidas em imagens tridimensionais, que os cirurgiões viram e giram na tela do computador. Mas, para avaliar detalhadamente o tumor de Savchuk, Keshavjee precisaria do máximo possível de informações adicionais.
Savchuk com o coração nas mãos
Ele recorreu ao colega anestesiologista Dr. Azad Mashari. Nos últimos três ou quatro anos, Mashari usava as imagens das tomografias de alta qualidade para criar modelos em tamanho natural em impressoras 3D, úteis para guiar cirurgiões que operam defeitos cardíacos congênitos. Agora, Keshavjee pediu a Mashari que fizesse uma impressão do tumor de Savchuk e das estruturas corporais em torno dele.
Depois de 15 horas para criar o arquivo e mais 40 para imprimir, a equipe cardíaca de Savchuk tinha nas mãos um modelo plástico multicolorido do tumor, do coração e de outras estruturas. “Era pesado”, recorda Savchuk. “Fiquei espantado com o tamanho.” Com o modelo, Keshavjee explica que conseguiu “desmontar o tumor como se fosse de Lego. Normalmente, tenho de fazer isso dentro da cabeça”.
Embora visualizar e treinar com o modelo desse confiança a Keshavjee de que o procedimento tinha uma probabilidade razoável de sucesso, ainda havia riscos, como hemorragia ou infecção. O cirurgião sopesou as opções. “Sem cirurgia, Eduard poderia viver mais alguns meses ou um ano sem sentir nada. E se operássemos e ele morresse das complicações? Nós lhe tiraríamos esses meses.”
Finalmente, a cirurgia
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Mas Savchuk sabia que aquela era sua única probabilidade de sobrevivência. Em dezembro de 2019, antes da cirurgia, ele trocou despedidas emocionadas com a mulher, a família e os amigos, caso nunca mais os visse.
O anestesista sedou Savchuk. Keshavjee e os outros três cirurgiões examinaram mais uma vez o modelo tridimensional e abriram o peito de Savchuk. Graças à preparação, tudo correu bem. A cirurgia que poderia durar dez horas levou metade do tempo. Nenhum órgão foi danificado pelo tumor nem pela cirurgia. Quando abriu os olhos, a primeira pessoa que Savchuk viu foi a mulher, ansiosa para lhe dar a boa notícia. “Ela ria. Fiquei mais do que feliz”, diz ele.
Savchuk recuperou as forças e teve alta algumas semanas depois. Fez radioterapia para evitar a recorrência e continuará a ser monitorado regularmente, mas hoje está livre da doença. Em dezembro passado, no primeiro aniversário da cirurgia que salvou sua vida, a família agradecida de Savchuk comemorou com um bolo.