A maioria desses desenhos, feitos por imigrantes resgatados, descrevem histórias de abusos e perdas, mas também de desejos e alegrias.
Douglas Ferreira | 20 de Agosto de 2019 às 12:30
Disparos na Líbia, guerra em Darfur, os confrontos no sul do Sudão, e barcos que resgatam as pessoas do mar… estes são alguns dos desenhos expostos no convés do Ocean Viking.
A maioria desses desenhos, feitos por imigrantes resgatados, descrevem histórias de abusos e perdas, mas também de desejos e alegrias.
Enquanto esperam a autorização para os 356 resgatados pelo barco humanitário da SOS Méditerranée e da Médicos sem Fronteiras (MSF) desembarcarem em um porto, os imigrantes foram convidados a desenhar como forma de terapia.
Com o traço do lápis e algumas cores, eles narraram seus piores pesadelos e também suas melhores lembranças.
Rodeado por compatriotas, Arun Mohamed descreveu com imagens Darfur em chamas, de onde fugiu em 2011. Também sua passagem pela capital do Sudão, Cartum, e depois pela Líbia. Pintou os aviões atacando sua casa, o fogo que devora o teto, a família que foge.
No desenho de Adam, de 18 anos, que sonha se tornar jogador de futebol profissional, se vê um homem pendurado no teto, com os pés e as mãos atados, enquanto dois homem o espancam em frente a outros prisioneiros que observam a cena em fila indiana.
No desenho seguinte, o homem está deitado e batem na sola de seus pés.
As pessoas em volta de Adam enquanto desenha comentam: “Foi assim mesmo, esperávamos em fila, cada um a sua vez”.
Allahaddin reproduziu um mapa da Líbia com a palavra “HELL” (inferno) escrita em vermelho e letras maiúsculas.
Depois diz “Adeus, inferno”, enquanto sorri e faz o V de vitória.
Ezzo prefere se lembrar de coisas bonitas: seu povoado bucólico no sul do Sudão, à beira de um lago onde aprendeu a nadar, perto das Montanhas Nuba. Os pescadores, sua avó, a jarra sobre sua cabeça, as vacas.
Mas a guerra continua sendo o tema que mais desenham. A costa da Líbia com botes improvisados, o centro de detenção de Tajoura, perto de Trípoli, conhecido pelos abusos e a violência, os aviões que voam baixo sobre as aldeias em chamas.
Também mostram mães felizes que abraçam seus filhos e outros desenhos marcados pela lembrança de uma infância sem preocupações.
Como um gesto de agradecimento, esses esboços descrevem também os resgates, a chegada de uma enorme embarcação vermelha.
É a embarcação humanitária “Ocean Viking”, alugada pelas ONGs SOS Méditerranée e Médicos sem Fronteiras (MSF).
Em sua primeira missão, no início de agosto, a embarcação de cor vermelha e bandeira norueguesa foi recebida com aplausos pelos imigrantes assim que eles a avistaram, a partir de um bote inflável.