Conheça a história do criador de gado que teve a vida salva, após ter o seu abdome comprimido por uma vaca.
Douglas Ferreira | 30 de Outubro de 2021 às 18:00
Às vezes olhar as coisas ruins que acontecem conosco com outros olhos pode ser positivo. Afinal, é como sempre escutamos naquele famoso ditado: há males que vêm para o bem. Confira abaixo o relato de caso que é a prova viva desse dito popular!
Há dez anos, numa manhã gelada de dezembro, Gavin ajudava a fazer o parto pélvico de um bezerro num pasto de sua pequena fazenda no sudoeste da Escócia. Quando finalmente acabou, Gavin caiu no chão – e a vaca, exausta, caiu em cima dele. Os gritos de socorro de Gavin foram ouvidos pelo fazendeiro vizinho, que prendeu cordas a seu trator para puxar o animal. Consciente, mas com muita dor, Gavin foi transportado de helicóptero para a Enfermaria de Dumfries, a 120 quilômetros dali.
Ele estava com hematomas nas costelas e no abdome, mas não tinha nenhum osso quebrado, a pressão era normal e estava lúcido. Depois de 12 horas de observação, o fazendeiro, preocupado com seus animais, pediu para voltar para casa, mas os médicos o convenceram a passar a noite no hospital. Na manhã seguinte, ele começou a vomitar grande volume de fluido esverdeado. Os médicos pediram uma segunda tomografia e descobriram uma obstrução do intestino delgado que antes não estava visível.
A cirurgia abdominal exploratória revelou que uma alça do intestino estava presa numa aderência, uma faixa de tecido cicatricial que une dois tecidos normalmente separados. Noventa por cento das aderências surgem após cirurgias abdominais, diz o Dr. Stuart Whitelaw, mas elas também podem resultar de lesões.
Se a vaca não caísse sobre Gavin, a aderência talvez nunca causasse problemas, diz o Dr. Whitelaw. “Mas o animal comprimiu o abdome dele e, estranhamente, forçou o intestino a passar por uma abertura causada pela aderência.” O problema apresentava risco de morte. O intestino delgado ficaria estrangulado, o fluxo sanguíneo se estancaria e a integridade do revestimento do intestino ficaria comprometida. Isso permitiria que bactérias entrassem na corrente sanguínea, provocando choque séptico e falência de múltiplos órgãos.
O médico realizou uma operação de emergência para abrir a aderência e aliviar a obstrução, mas, enquanto inspecionava os outros órgãos de Gavin, notou um pequeno tumor no ceco do paciente (uma bolsa no início do intestino grosso) e o removeu, extirpando o lado direito do intestino grosso. Depois, juntou as pontas e mandou a amostra para o laboratório. Enquanto isso, Gavin teve rápida recuperação e, em poucos dias, estava de volta à fazenda, cuidando do novo bezerro e da mãe.
Leia também: 12 dicas para prevenir o câncer de intestino
Uma semana depois, o resultado do exame patológico revelou que Gavin tinha câncer de intestino em estado inicial causado por uma mutação genética. Felizmente, foi descoberto cedo.“Quando removido nesse estágio, o prognóstico é muito bom, com 95% de sobrevivência em cinco anos”, diz o Dr. Whitelaw. Em geral, os pacientes com câncer de intestino não têm sintomas; quando os sintomas surgem, é tarde demais, porque o tumor está mais avançado. “Se a vaca não caísse em cima dele, o diagnóstico seria retardado, o tumor teria crescido e talvez se apresentasse num estágio mais adiantado, quando a possibilidade de cura seria menor ou até inexistente.”
Hoje, o câncer de Gavin não mostra sinais de recorrência. E, graças ao diagnóstico, seus três filhos podem testar seu DNA para ver se também receberam o gene do câncer e se precisam de mais exames, diz o Dr. Whitelaw. “No fim, o fazendeiro salvou a vaca, e a vaca salvou o fazendeiro… e talvez seus filhos e netos.”