E se você se recuperasse da cegueira depois de anos? Depois de uma cirurgia, S.B recuperou a visão. Mas o resultado não foi como esperava.
Ele tinha 51 anos. Era ativo, independente e usava habilmente no seu trabalho diário ferramentas que nunca vira. Pois este homem, conhecido apenas iniciais S.B da ficha médica, tinha cegueira desde os nove meses de idade. Mas tudo mudou radicalmente em fins da década de 1950, quando se submeteu a suas operações bem-sucedidas dos olhos, que lhe restituíram a visão. A primeira imagem imprecisa captada por S.B. foi o rosto do cirurgião, mas não a reconheceu como tal. Mesmo com a melhora da visão, as expressões faciais nada significavam para ele. Pois ele não conseguia reconhecer as pessoas pelos rostos, a menos que falassem.
A história de S.B. foi relatada, em 1983, pelo neuropsicólogo inglês Richard Gregory. Ele ilustra os problemas das pessoas que têm de aprender a usar os olhos após anos de cegueira.
Uma das dificuldades é não conseguir reconhecer algo que não produza um som que já lhes seja familiar. Ou cuja forma ou textura nunca antes sentiram. Por exemplo, S. B. identificava imediatamente automóveis, porque conhecia o ruído dos motores, mas não sabia o que era a fase crescente da Lua quando a viu pela primeira vez.
As pessoas que readquirem a visão também têm uma noção distorcida de escala quando olham de certa distância para o solo. Ao chegar à janela do terceiro andar, S.B. achou que podia chegar à rua em segurança, descendo com a ajuda dos braços.
S.B. enfrentara corajosamente a cegueira. Confiando no tato, no paladar, no som e no olfato para obter informações do mundo exterior. Agora utilizava cada vez mais a visão e o mundo que via o deprimia muito. Tudo lhe parecia triste. Como Gregory resumiu, “sentimos que ele perdeu mais do que ganhou com a restituição da visão”. Tragicamente, S.B. morreu, desalentado, menos de dois anos depois de ter recoberto a visão.