Em um passeio por Mato Fino, um casal avistou uma ninhada de filhotes de cachorro abandonados.E souberam: precisavam de um cachorro adotado para amar.
Em um passeio por Mato Fino, balneário com cachoeiras em Gravataí, no Rio Grande do Sul, eu e meu marido vimos uma imagem que contrastava com a beleza daquele lugar acolhedor: uma ninhada de filhotes de cachorro abandonados.
Eram uns cinco ou seis pretos e caramelo, deitados no início daquela longa estrada de terra. Fazia muito sol naquele domingo de março de 2004, e nós queríamos passar uma manhã diferente. De fato, aquele foi um dia bastante especial.
Embora não tivéssemos parado o carro para ver melhor os cachorrinhos, passei o dia inteiro preocupada com eles e tentando convencer o Renato a levar pelo menos um para a nossa casa. Nunca conseguíamos chegar a um acordo sobre ter ou não um cachorro. Durante a minha infância e até antes de nos casarmos, eu tive quatro cachorros e mais um monte de gatos, mas meu marido nunca teve um cachorro adotado.
Não sabia como é divertido e prazeroso ter um bichinho. Ao longo da manhã falei sobre os filhotes e, na volta do passeio, consegui fazer meu marido parar onde eles estavam e escolher um para nós. Eles deviam ter uns 2 meses de vida. Andavam desengonçados ainda e eram bem barrigudinhos, provavelmente por causa de vermes.
“Eu estava decidida: ou pegaríamos o filhote magro, cheio de pulgas, ou não levaríamos nenhum.”
Mas eram todos lindos! Filhotes são sempre muito fofos e eu sabia que seria uma escolha difícil. Renato já procurava o mais fortinho, quando avistou, no canto de um buraco, separado dos outros e junto ao lixo, um filhote mirrado. Ele parecia dormir, pois estava quietinho. Meu marido o retirou de lá e continuou a busca por um cãozinho graúdo, mas o magrelo voltou para o buraco. Achamos estranho e, mais uma vez, Renato o pegou. Olhando de perto, vi que estava doente. Uma das patinhas traseiras estava muito machucada e quase não tinha mais carne.
Aquele tipo de mosca que fica no lixo o atacou e deixou alguns pequenos ossos à mostra. Vê-lo daquele jeito me deixou arrasada. Estava decidida: ou levaríamos o filhote magrinho, caramelo, cheio de pulgas e carrapatos, ou não levaríamos nenhum. Tenho certeza de que se não fizéssemos isso ele acabaria morrendo. Então, meu marido deixou o filhote mais forte que havia escolhido e ficamos com o nosso “Fininho”, nome pelo qual passamos a chamá-lo. Achamos que ele não iria aguentar a viagem de 40 quilômetros de volta para casa, pois estava muito abatido.
No caminho, eu me perguntava o que fazer com um animalzinho doente num fim de tarde de domingo. Não havia clínica veterinária que pudesse estar aberta e não sabia como cuidar dele. Com a cabeça a mil, acabei me lembrando de uma amiga, Cleia, que adora animais e é dona de cachorros, gatos e galinhas. Certamente ela poderia ajudar. Ao chegarmos à sua casa, ela aplicou um spray contra “bicheira” na pata do Fininho, de onde saíram diversas larvas. Após os primeiros socorros, ligou para a veterinária que conhecia, Dra. Marli, e para a nossa sorte, ela estava de plantão! A Dra. Marli foi um anjo para o Fininho.
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Cuidou dele e não nos cobrou um tostão, mas avisou que não poderia garantir sua sobrevivência. Ele estava extremamente anêmico e talvez precisasse de uma transfusão de sangue. Além disso, a pata traseira não estava nada bem. Depois que ele estivesse mais forte, teria de passar por uma cirurgia.
Após três dias internado no consultório da Dra. Marli, Fininho já estava com uma aparência muito melhor. Levei-o para casa com a pata enfaixada, sem saber muito bem como cuidaria, pois o Renato e eu trabalhávamos o dia todo e, na época, eu ainda estudava à noite.
No entanto, mais uma vez pudemos contar com a sorte e conseguimos outras pessoas para ajudar nosso filhote: os “avós” de Fininho, meus pais, aceitaram ficar com ele em casa por um tempo. Seguindo as instruções da veterinária, Fininho comia três vezes por dia alimentos ricos em ferro, como bife de fígado e feijão. Ele passou 15 dias na casa dos meus pais e nós o visitávamos sempre depois do trabalho. Durante esse tempo, Fininho se recuperou, conforme o previsto, mas ainda faltava resolver o problema da patinha.
“Não conseguimos imaginar nossa vida sem ele”
Como já havíamos deixado agendada a cirurgia, buscamos o Fininho na casa dos “avós” e o levamos para o Hospital da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Infelizmente, os médicos tiveram de amputar sua pata, pois os danos eram irreversíveis. E, embora nós não tivéssemos pedido, eles também o castraram, pois teria muita dificuldade para cruzar. O engraçado nesta história é que, sempre que eu conversava com meu marido sobre termos um cachorro, pensava também na segurança da nossa casa. Mas, apesar do tamanho do Fininho e dos latidos fortes, esse meu vira-lata com um quê de labrador é muito dócil.
Alegre e companheiro, cada vez que voltamos para casa ele faz festa. Aliás, faz festa para todo mundo que passa pelo portão! Para nós o Fininho é um vencedor! Ficou completamente curado de todos os problemas que teve e parece não sentir falta da perna. Só nos dá trabalho na hora do banho. Ele não gosta nem um pouco e aproveita qualquer distração nossa para fugir e se esconder. Esse ex-magrelinho é tão querido que não conseguimos nos imaginar sem ele. Vê-lo correr e brincar pelo quintal, fazendo a alegria das crianças da rua onde moro, é, sem dúvida, uma das melhores coisas dessa vida!
Sandra Tavares