Um museu incomum traz um vislumbre do cotidiano na antiga Alemanha Oriental. Confira essa história emocionante e surpreendente!
Julia Monsores | 16 de Novembro de 2019 às 19:00
Em 1985, Friso De Zeeuw, então com 33 anos e jovem político holandês em sua primeira visita de trabalho a Berlim Ocidental, ficou fascinado com a cidade dividida.
Ele e seu colega conseguiram um visto de turista de um dia para visitar a República Democrática Alemã (RDA), e assim foram ao outro lado.
“Fizemos de tudo”, diz De Zeeuw, hoje com 67 anos e professor aposentado de desenvolvimento urbano da Universidade de Delft, “inclusive contrabandear marcos ocidentais para trocar por orientais na taxa de 7 por 1. Então o problema foi que não havia em que gastar.”
Eles então acabaram comprando uma pilha de livros e discos. “Sempre tive essa vontade esquisita de colecionar coisas”, diz De Zeeuw, “mas fiquei fascinado pelo absurdo de Berlim, e isso deu sentido e propósito à ânsia de colecionar”. De volta a Berlim Ocidental, ele comprou medalhas da Alemanha Oriental. Com a mulher, voltou todo ano à cidade dividida.
Quando o Muro de Berlim caiu em 1989 e o ex-Estado-satélite soviético se reunificou com a parte ocidental da Alemanha um ano depois, o casal começou a percorrer as feiras de usados em busca de itens interessantes. Primeiro vieram as bandeiras e medalhas, mas logo surgiram outros itens, como garrafas de cerveja não abertas e rolos de papel higiênico. Com essa pequena coleção, veio o interesse crescente pelo contexto e pela história.
Quando lhe perguntam qual seu item favorito, De Zeeuw não aponta o velho carro Trabant na frente de casa. (“Quem quisesse um desses teria de esperar quinze anos, sem escolher a cor”). Mas um escudinho de papelão vermelho com as palavras “Melhor garçonete do mês”, antes usado com orgulho pela funcionária de um restaurante que se destacou pela ética profissional.
“Achei tocante por ser tão provinciano e um lembrete físico de como as pessoas trabalhavam na RDA, organizadas em brigadas.” O casal comprou mais coisas. “No fim, decidimos que tínhamos de parar ou criar um museu”, diz De Zeeuw. Os De Zeeuws se mudaram para uma casa nova em Monnickendam, cidade natal de Friso uns 20 quilômetros ao norte de Amsterdã. E com uma garagem grande o suficiente para expor a coleção crescente em vitrines.
Eles abriram uma fundação. E, em 2 de setembro de 2000, o DDR Museum foi oficialmente inaugurado por Marius Ernsting. Ex-presidente do Partido Comunista Holandês (CPN), que se desfez em 1991. De Zeeuw planeja comemorar a queda do Muro de Berlim em 9 e 10 de novembro com um evento, na cidade holandesa de Baarn, que terá exposição de carros Trabant, “jogo da ditadura”, palestras e o lançamento do livro De tastbare DDR (“A RDA tangível”).