Uma pesquisa do Gallup feita em 18 países revelou que o islandês é o povo mais feliz. Todos os 267.809 islandeses. Lá, 82% estão satisfeitos com suas
Uma pesquisa do Gallup feita em 18 países revelou que o islandês é o povo mais feliz. Todos os 267.809 islandeses. Lá, 82% estão satisfeitos com suas vidas pessoais. Em seguida, aparecem Canadá, Alemanha, Tailândia e EUA.
Algumas pessoas diriam que o resultado é um mero acaso estatístico. A Islândia é um país tão pequeno, que qualquer cidadão pode marcar uma audiência com o presidente.
Povo festeiro e povo feliz!
De fato, a Islândia não é nenhuma utopia. Os islandeses são grandes beberrões, com uma tradição de pesca e farra. Quase um terço dos nascimentos ocorre fora do casamento. Mas é isso que torna o estudo tão interessante. Os islandeses têm problemas como todos nós, mas estão felizes com sua sorte.
Por quê? Vejamos Thorir Hlynur Thorrison, 28 anos. Nas férias, ele passou um mês trabalhando 16 horas por dia, sete dias por semana, como instrutor de pesca. Foi “o paraíso na Terra”, diz. Depois de uma única noite de descanso, voltou ao emprego, num barco pesqueiro, trabalhando seis horas sim, seis horas não, direto.
Chamaríamos Hlynur de workaholic, um trabalhador compulsivo, mas a maioria de seus compatriotas é assim. Compensa. Com um produto interno bruto per capita de US$ 19.905, os islandeses estão entre os povos mais ricos do mundo. Seus impostos revertem em excelente educação e serviços de saúde. A Islândia possui a menor taxa de mortalidade infantil do mundo, e quase a maior longevidade.
Necessidades supridas
Os severos suíços também têm um bom governo e suas necessidades materiais atendidas, entretanto, ninguém pode dizer que vivem satisfeitos.
O sociólogo Thorolfur Thorlindsdon, da Universidade da Islândia, acha que o segredo não está nas facilidades do país, mas nas antigas dificuldades, que ensinaram os islandeses a aproveitar o que possuem.
Isolado no frio do Atlântico Norte, castigado por um mar hostil e condenado a 20 horas diárias de escuridão no inverno, o povo há séculos depende da pesca. “Nossa cultura é colorida pela natureza rude”, diz Thorlindsson. “Por isso os islandeses são tolerantes com os problemas da vida. Eles não esperam o mesmo tipo de estabilidade das outras nações.”
A Islândia, conhecida como a terra do “fogo e do gelo”, está habituada a viver com forças opostas. É um dos mais ativos países vulcânicos do mundo, mas possui 7.258 quilômetros quadrados de geleiras – calor e frio, juntos. Não é de se estranhar que esta sociedade possa conciliar outras forças opostas: individualismo e necessidades da comunidade.
Esta nação possui um antigo respeito pela independência. No séculos X, a Islândia já era um estado democrático, e ainda hoje os islandeses valorizam bastante sua liberdade.
Senso de comunidade
Mas aqui está o paradoxo: este individualismo existe com um senso comunitário. Há anos conheço uma família islandesa que abriga um alcoólatra e uma criança ilegítima, sem deixá-los desamparados, como farrapos humanos, para serem resgatados por alguma instituição governamental.
“Os islandeses possuem organizados sistemas de apoio”, diz Thorlindsson.
Tolerância não é discurso vazio na Islândia. A palavra para “estúpido” é heimskur, que significa “de casa” – ou, como diríamos, provinciano ou bairrista. Os islandeses acreditam que só um idiota não enxerga a posição do próximo.
A maioria dos islandeses viaja para outros países depois de ficar adulto. Aprendem que a sua não é a única maneira de fazer as coisas. Entretanto, isto não afeta a satisfação com sua pátria e sua história.
Richard C. Moraes