Chá, Coca-Cola, bicarbonato de sódio e folhas de gelatina podem ter usos diferentes daqueles que os rótulos indicam. Leia esse texto e descubra!
Redação | 6 de Março de 2019 às 11:00
Quando trabalhavacomo redator publicitário, fui convidado a participar de uma reunião sobre a Nestea em que pediram que gerássemos usos alternativos para o chá em pó. Achei que era a coisa mais idiota que já tinham me pedido.
Um gerente de contas que estava presente contou que certa vez, velejando pelo rio Hudson num fim de semana em Nova York, ficou com uma grave queimadura de sol. Então foi para casa, despejou na banheira uma caixa inteira de pó de Nestea, encheu a banheira de água e ficou de molho. Todos achamos que ele tinha ficado maluco.
– Acho que não é isso que o slogan “Mergulhe com Nestea” quer dizer – disse eu.
– Não, gente, é verdade – insistiu ele. – O tanino do chá alivia a dor das queimaduras de sol. Façam o teste. Vocês vão me agradecer.
Desde então, como escritor de livros que ensinam as pessoas a fazer todo tipo de coisas, descobri que muita gente vive escrevendo às empresas para relatar usos alternativos dos produtos, só que as companhias raramente anunciam essas informações. Assim, a Dr. Oetker não divulga a ninguém que suas folhas de gelatina incolor servem de gel para cabelo, e a Procter & Gamble se recusa a anunciar que as folhas do seu amaciante mais famoso são um ótimo repelente de mosquitos.
Naquela manhã da reunião sobre o Nestea, geramos uma dúzia de opções para o produto. Mas a Nestlé decidiu não anunciá-las. Eles nunca se gabaram do fato de Nestea servir de aromatizante de ambientes, amaciar a carne e remover calos dos dedos por medo de manchar a sacrossanta imagem da marca.
(Falando em manchas, aliás, elas podem ser facilmente removidas de artigos de prata com pasta de dentes Colgate Total 12).
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A razão de os bambambãs das grandes empresas manterem esses segredos muito bem guardados é clara. Se a Coca-Cola revelasse que seu produto limpa vasos sanitários, arranca a ferrugem dos terminais da bateria do carro e remove manchas de óleo da garagem, talvez você se perguntasse: o que será que ela faz no meu estômago?
(Na verdade, o ácido gástrico do estômago é mais forte do que o ácido fosfórico da Coca-Cola, de modo que você pode tranquilamente tomar seu refri e limpar o vaso sanitário com ele ao mesmo tempo.)
Ainda assim, seria bom as empresas darem ouvidos aos consumidores, que conhecem os produtos melhor do que quem os inventou. Neste mesmo instante, muitos americanos estão com uma caixa aberta de Arm & Hammer Baking Soda (bicarbonato de sódio para fins culinários) dentro da geladeira para eliminar odores, embora originalmente o produto sirva para fazer bolos e massas.
A empresa proprietária da Arm & Hammer percebeu anos atrás que as pessoas usavam bicarbonato em muito mais coisas do que bolos. Então os consumidores passaram a sugerir que eles fizessem um detergente para roupas, e logo a empresa começou a vender seus produtos com bicarbonato de novas maneiras. Além disso, também é possível usar bicarbonato para escovar os dentes, tirar odores do carpete e limpar riscos de lápis de cera na parede.
A Kimberly-Clark iniciou a venda dos lenços de papel Kleenex em 1924, como removedores de maquiagem para mulheres. Pouco tempo depois as consumidoras descobriram que os lenços de papel eram ótimos lenços descartáveis, e os executivos logo perceberam que há muito mais gente que assoa o nariz do que limpa o rosto, portanto…
Em 1953, um cientista da Rocket Chemical Company elaborou, para o programa espacial, uma poderosa fórmula impermeabilizante. Borrifada na nave da missão espacial Mercury Friendship 7, a invenção, aperfeiçoada na 40ª tentativa e batizada de WD-40, protegeu de ferrugem e corrosão o revestimento externo da nave.
Quando os funcionários começaram a furtar o produto para usá-lo em portas que rangiam e cadeados emperrados, a empresa, muito esperta, decidiu vender o WD-40 para todo mundo.
Uma coisa é certa: quando enfrentamos um problema complexo, nós, seres humanos, somos capazes de inventar muitas soluções criativas usando o que tivermos à mão.
Na Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos recebiam em sua ração uma embalagem de chiclete (aqueles de fita, embalados individualmente). E dizem que, após mascá-lo, eles o utilizavam para remendar pneus, tanques de gasolina, botes salva-vidas e peças de avião.
Conheço um cara que, depois de voltar dos pântanos do Vietnã, descobriu que Vick Vaporub curava a micose das unhas dos pés. Quando mandaram soldados americanos ajudarem as Nações Unidas a distribuir suprimentos contra a fome na Somália, jornalistas e soldados cansados de guerra trocavam entre si fraldas descartáveis, que empregavam em banhos de esponja no calor do deserto.
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Mas agora falando sério: será mesmo importante o modo como utilizamos esses produtos? Que diferença faz se usamos Listerine para enxaguar a boca, como desodorante num caso de emergência ou como loção antipulgas para cachorro? O número de pessoas com essas necessidades a serem atendidas aumenta o universo de clientes de modo exponencial. O fabricante de Listerine deveria dar pulos de alegria, não?
Então, tudo se resume ao seguinte: em vez de escondê-los, as empresas deveriam beijar os pés dos clientes inovadores que pensam fora da caixinha e divulgar esses usos pouco convencionais de nossos produtos favoritos.
Já pensando nisso, podemos aproveitar para polir nossos sapatos com protetor labial ChapStick . Então, assim, quando beijarem nossos pés, seus lábios não correrão o risco de rachar.
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