Os filmes épicos ajudaram a construir a imagem de que os embates entre gladiadores eram lutas mortais, nas quais os infelizes eram atirados na arena e
Redação | 3 de Julho de 2019 às 21:00
Os filmes épicos ajudaram a construir a imagem de que os embates entre gladiadores eram lutas mortais, nas quais os infelizes eram atirados na arena e obrigados a matar para viver e divertir plateias.
O drama começava pelo grito de guerra dos gladiadores: “Nós, que vamos morrer, saudamos a todos!”
Essas lutas não eram de fato orgias de sangue morte inevitáveis, mas duelos cuidadosamente organizados. Além disso, eram supervisionados por árbitros.
As sequências de golpes, fintas e esquivas arrancavam gritos calorosos da multidão. E, embora a saudação de luta sugira outra coisa, muitos gladiadores viviam para lutar novamente.
É claro que, quando lutavam, os gladiadores arriscavam suas vidas. Mas o elemento de perigo era parte importante do esporte – ele sustentava o espetáculo.
De acordo com o professor Fritz Krinzinger, do Instituto Arqueológico Austríaco, os gladiadores nesse aspecto se assemelhavam aos modernos corredores de Fórmula 1.
Corriam perigo toda vez que se apresentavam e estavam dispostos a arriscar a vida pelo esporte. A julgar pelos admiráveis grafites encontrados nos muros de Pompéia, a combinação de músculos e bravura dos gladiadores tinha um apelo particular entre as mulheres:
“Cedalus, o trácio, fazia todas as mulheres suspirarem.”
Os nomes sugestivos de alguns gladiadores – Eros, Narciso – mostram preocupação de enfatizar o lado sensual dos lutadores.
Os organizadores das lutas faziam o possível para proteger seus pupilos dentro e fora da arena. Gladiadores em forma eram um investimento. A morte de um deles era a perda de uma soma considerável. Por isso os organizadores observavam cada luta e preocupavam-se que os árbitros soubessem quais gladiadores deviam ser poupados.
Inscrições sobre os resultados das lutas provam que veteranos podiam ser derrotados e, ainda assim, deixar a arena vivos.
Contrariamente ao mito popular, nem a multidão nem o dignitário que presidia o espetáculo necessariamente decidia quem iria viver ou morrer no final de uma luta.
Os interesses financeiros dos lanistae, empresários que compravam e recrutavam gladiadores para alugá-los para eventos, eram prioritários.
Os organizadores também odiavam que alguém de valor fosse morte sem necessidade. Segundo Suetônio, César ordenou, num espetáculo montado para sua filha Júlia, “que gladiadores famosos que não tivessem agradado ao público fossem retirados à força e poupados”.
Para os lutadores que saíam vitoriosos, as recompensas podiam ser altas. Após o embate, o vencedor subia alguns degraus. Lá, recebia uma bolsa de dinheiro e um ramo de palma, que ficava em seu poder mesmo se ele fosse escravo.
No caso de um desempenho excepcional, ele recebia uma coroa de louro.
Isso era altamente compensador para os combatentes, pois a maioria dos gladiadores vinha das camadas mais baixas: eram escravos, criminosos ou soldados capturados. Alguns deles, os auctorati, eram voluntários. Esses lutadores podiam comprar sua liberdade.
Apesar dos riscos e das severas condições, o ofício de gladiador podia ser muito glamouroso: fama, sucesso e liberdade eram as recompensas para as estrelas que faziam da luta um grande espetáculo dramático.