Entenda por que o resgate da brasileira no Monte Rinjani, na Indonésia, é tão difícil. Veja os desafios da trilha e os riscos desse tipo de aventura.
O caso da jovem brasileira que caiu durante uma trilha no Monte Rinjani, um dos vulcões mais altos e desafiadores da Indonésia, tem mobilizado as redes sociais e levantando muitos questionamentos. A principal dúvida é sobre o motivo na demora do resgate, com alguns internautas até mesmo acusando as autoridades locais de negligência. Contudo, o que poucos compreendem é a complexidade envolvida em operações de salvamento em regiões remotas e de difícil acesso como o Rinjani, onde o terreno, o clima e a infraestrutura limitam drasticamente a agilidade das equipes de resgate.
Entenda o caso
No dia 21 de junho, Juliana Martins, uma turista brasileira de 26 anos moradora de Niterói, no Rio de Janeiro, sofreu uma queda grave durante uma trilha guiada no Monte Rinjani, vulcão ativo de 3.726 m em Lombok, Indonésia. O cenário é amplamente procurado por turistas, que descrevem o local como ‘surreal’ e dizem parecer de outro mundo.
Desorientada e ferida em terreno íngreme, Juliana foi avistada por um drone de turistas, que acionaram o resgate e as autoridades locais. De acordo com informações divulgadas, a jovem caiu mais de 300 metros para baixo da trilha e segue esperando ajuda. Ao todo, a jovem niteroiense está há mais de 50 horas aguardando resgate.
Veja o vídeo do local onde a jovem está:
Por que o resgate em trilhas como o Monte Rinjani é tão complicado?
1. Geografia hostil
O Monte Rinjani tem um terreno acidentado, as trilhas são estreitas e íngremes, além de altitudes elevadas. Esses fatores exigem esforço físico extremo e dificultam tanto o deslocamento dos trilheiros quanto o acesso das equipes de resgate.
2. Acesso remoto
Mesmo com o uso de veículos, é possível chegar apenas até determinadas bases, não sendo possível chegar ao local da queda sem realizar a trilha. Partindo das bases, o percurso continua a pé por horas. Apenas guias e carregadores locais conhecem bem as rotas, o que limita o número de pessoas aptas a auxiliar nos resgates.
3. Clima imprevisível
Em altitudes elevadas como é o caso do Rinjani, o clima muda rapidamente. Neblina ou chuva repentina tornam o terreno escorregadio e a visibilidade quase nula. Quando esses eventos climáticos se unem ao relevo, tornam as trilhas escorregadias, reduzem drasticamente a visibilidade e aumentam o risco de acidentes.
4. Limitações do uso de helicópteros
O emprego de aeronaves em operações de resgate em áres vulcânicas é limitado por vários motivos: o risco de deslizamentos, a possibilidade de agitar fuligem vulcânica e os ventos fortes que dificultam pousos e manobras em áreas estreitas ou irregulares.
5. Dificuldade de localização
A sinalização no parque é precária, e o relevo irregular torna a busca por uma pessoa ferida extremamente complexa. Com neblina densa, a visibilidade despenca e a comunicação entre as equipes se torna um desafio técnico constante.
Como funcionam os resgates similares?
No Monte Rinjani, os resgates geralmente são conduzidos por equipes locais compostas por guias experientes, carregadores e voluntários, que, na ausência de transporte mecanizado, realizam a evacuação de feridos a pé ou em macas.
A infraestrutura para esse tipo de operação é bastante limitada, como pode-se observar no caso do resgate da jovem brasileira. Há poucos helicópteros disponíveis, e mesmo esses não operam durante a noite ou em condições climáticas adversas. Além disso, a comunicação entre as equipes costuma ser feita por rádios portáteis, que nem sempre funcionam adequadamente devido ao relevo acidentado da região.
A complexidade desse tipo de resgate já foi evidenciada em episódios anteriores, como em 2018, quando mais de 500 montanhistas, entre estrangeiros e indonésios, ficaram presos no Rinjani após um terremoto de magnitude 6,4, seguido por avalanches. A operação de resgate envolveu esforços conjuntos por terra e ar, mas levou dias até que todos fossem retirados com segurança.
O que fazer em caso de acidente durante trilha?
A principal dica para quem pretende realizar uma trilha é se planejar com antecedência para evitar acidentes. Sendo assim, antes de partir, informe a alguém de confiança sobre o itinerário, horário de saída e previsão de retorno. Além disso, é fundamental levar consigo um mapa da região, de preferência impresso, e contratar um guia credenciado que conheça bem o terreno.
Equipamentos fazem a diferença
Estar bem equipado pode evitar problemas e facilitar o resgate em caso de emergência. Use roupas adequadas em camadas, botas resistentes, bastões de caminhada, lanterna e, principalmente, um meio confiável de comunicação, como rádio ou telefone via satélite. Além disso, é sempre bom ter água, comida e um kit de primeiros socorros com você.
Localização e comunicação
Aplicativos de navegação offline, rastreadores GPS e dispositivos de comunicação por satélite são aliados importantes em locais sem sinal de celular e podem ser determinantes para o sucesso de um resgate.
Atenção aos sinais de alerta
Fique atento aos sintomas de desidratação, tontura, exaustão, hipotermia ou problemas relacionados à altitude. Reconhecer esses sinais precocemente pode evitar complicações graves e agilizar a busca por ajuda.
Embora as trilhas sejam experiências enriquecedoras até benéficas para a saúde, o caso de Juliana expõe os riscos envolvidos nesse tipo de atividade, reforçando a necessidade de preparo, infraestrutura adequada e atuação eficiente das autoridades em destinos de ecoturismo.
Locais remotos e desafiadores exigem não apenas entusiasmo, mas também cautela e responsabilidade. Por isso, antes de se aventurar, informe-se bem, escolha guias experientes e invista em equipamentos apropriados. O contato com a natureza pode ser inesquecível, mas a segurança deve sempre vir em primeiro lugar.