As chamadas soft skills são cada vez mais essenciais no ambiente corporativo, para garantir o bem-estar dos colaboradores
Manter os talentos dentro de uma empresa não é uma missão simples, especialmente quando os colaboradores estão claramente insatisfeitos com o ambiente de trabalho. Segundo o relatório State of the Global Workplace 2024, da Gallup, apenas 31% dos trabalhadores brasileiros se sentem engajados com suas funções, enquanto 46% relatam níveis elevados de estresse diário, um dos índices mais altos da América Latina.
O estudo também aponta que a queda no engajamento dos trabalhadores resulta em uma perda de US$ 8,9 trilhões para a economia global, o que representa cerca de 9% do PIB mundial. Diante disso, o que pode ser feito para aumentar o bem-estar e a satisfação dos colaboradores no ambiente de trabalho?
Empresas devem criar um ambiente agradável
“É crucial que empresas e profissionais assumam a responsabilidade conjunta de criar ambientes de trabalho que não só promovam o desempenho, mas também a saúde mental e o bem-estar. O futuro do trabalho requer um novo conjunto de habilidades que integrem crescimento pessoal, resiliência e uma visão sustentável de sucesso”, explica Thais Requito, professora de Mindfulness e Inteligência Emocional formada pelo Centro de Mindfulness da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e pioneira no ensino dessas técnicas na América Latina.
A importância das soft skills no dia a dia corporativo
Para Thais, a felicidade no trabalho é multifatorial e depende de diversos aspectos, que vão do ambiente aos benefícios oferecidos, passando pela cultura, possibilidade de desenvolvimento, entre outros fatores.
“Nem tudo o que envolve o trabalho pode ser escolhido ou influenciado diretamente pelo profissional, mas há alguns fatores que podemos gerenciar e que impactam substancialmente a nossa satisfação e felicidade no trabalho”, diz.
5 principais fatores para mais felicidade no trabalho
Segundo a especialista, são cinco os principais fatores mencionados: autorregulação; automotivação gentil; construção de significado; produtividade sustentável; e conexão com os colegas de trabalho. A seguir, Thais explica mais sobre esses comportamentos.
1. Autorregulação
“A autorregulação é a habilidade de reconhecer, nomear e gerenciar emoções, especialmente aquelas difíceis. Em um ambiente de trabalho muitas vezes estressante, essa competência se torna vital, e profissionais que conseguem identificar suas emoções e reações podem lidar melhor com desafios e conflitos. Ao praticar a autoconsciência e a autorregulação, você se torna mais resiliente, o que não apenas melhora seu bem-estar pessoal, mas também contribui para um ambiente de trabalho mais saudável e produtivo”, começa.
2. Automotivação gentil
“A capacidade de motivar a si mesmo é fundamental para qualquer profissional que deseja alcançar seus objetivos. Praticar a autocompaixão significa tratar-se com gentileza, especialmente diante de falhas e desafios. Ao abandonar a autocobrança excessiva e a autocrítica, você cria um ambiente interno que favorece o crescimento e a superação. Essa abordagem não apenas aumenta a motivação, mas também proporciona uma sensação de realização e felicidade, tornando mais fácil enfrentar os altos e baixos da vida profissional”, ensina.
3. Construção de significado
“Encontrar significado nas tarefas diárias é um dos pilares para a felicidade no trabalho. O conceito de ‘job crafting’ permite que os profissionais busquem encontrar consistência entre suas funções e seus valores, habilidades e interesses, fortalecendo o senso de propósito. Quando você se sente conectado ao que faz, o trabalho se transforma em uma extensão de quem você é, o que aumenta a satisfação e o engajamento. Esse alinhamento entre valores e atividades diárias é essencial para um trabalho mais significativo e gratificante”, conta.
4. Produtividade sustentável
“Cultivar a atenção plena é essencial para equilibrar a produtividade com momentos de pausa. É comum confundirmos estar ocupado com ser produtivo, mas é crucial entender que esses conceitos não são sinônimos. A gestão eficaz do tempo envolve alternar períodos de intensidade com descansos, evitando a armadilha da multitarefa. Quando aprendemos a focar no que realmente importa, conseguimos aumentar nossa eficiência e reduzir o estresse, resultando em um trabalho de maior qualidade e satisfação pessoal”, explica.
5. Conexão com colegas
“Ter amigos no trabalho é mais do que uma questão social; trata-se de construir um ambiente que promova segurança psicológica e colaboração. Estudos mostram que equipes com boas relações interpessoais são mais eficientes e inovadoras. Para cultivar relacionamentos saudáveis, é importante adotar uma atitude colaborativa, tratando os colegas como seres humanos complexos, e não apenas como representantes de suas funções. Além disso, trocar a culpa pela curiosidade pode levar a uma melhor compreensão mútua e a resultados mais eficazes”, conclui.
Além dessas competências, a professora destaca a importância da capacidade de adaptação e resiliência. Profissionais que sabem se adaptar são capazes de enfrentar desafios e aproveitar novas oportunidades, garantindo seu desenvolvimento tanto pessoal quanto profissional.
“As chamadas soft skills, como comunicação eficaz e resolução de conflitos, tornaram-se cada vez mais importantes em um contexto de trabalho que valoriza a interdependência. A habilidade de se comunicar claramente evita mal-entendidos e melhora a eficiência do trabalho em equipe, contribuindo para um ambiente mais produtivo”, conclui Thais.