A ciência explica o que faz mulheres grávidas sentirem desejos por sabores peculiares
A gravidez é uma fase de grandes transformações para a mulher, tanto no corpo quanto nas emoções. Para muitas, os desejos alimentares também fazem parte desse momento único. Com a ansiedade à flor da pele, não é raro ouvir histórias de gestantes que se entregaram aos exageros com doces ou passaram a desejar alimentos que normalmente não consomem.
Desejos incomuns, como o impulso de consumir materiais como tijolos, gelo, areia ou até sabão, são mais frequentes do que se pensa e possuem razões que ultrapassam a simples curiosidade. Caso você ou alguém conhecido tenha vivenciado isso, é importante saber que essa condição é chamada de pica.
O que é o distúrbio alimentar pica?
O termo "pica" descreve o impulso contínuo de consumir substâncias que não são alimentares. Embora possa acontecer com qualquer pessoa, esse comportamento é mais comum durante a gravidez. Esses hábitos, que podem parecer incomuns, podem ser uma maneira do corpo indicar carências nutricionais ou mudanças hormonais típicas desse período.
A Dra. Isabel Botelho, obstetra e ginecologista, esclarece que “o pica não é apenas uma curiosidade ou algo sem importância. Ele pode ser um sinal de que algo não está funcionando como deveria no organismo da gestante.”.
Por que isso acontece na gravidez?
Os motivos que levam ao desenvolvimento do pica durante a gravidez ainda estão sendo estudados, mas há hipóteses bastante sólidas:
- Deficiência de ferro ou zinco: A anemia ferropriva é uma das principais condições associadas ao pica. Gestantes têm uma maior demanda por ferro devido ao aumento do volume sanguíneo e às necessidades do bebê.
- Alterações hormonais: Os hormônios da gravidez podem influenciar os sentidos de gosto e cheiro, gerando desejos incomuns.
- Aspectos emocionais: Estresse, ansiedade ou até fatores culturais podem ter influência.
Curiosamente, a ingestão de itens como gelo (um dos desejos mais comuns) pode ser uma tentativa inconsciente de aliviar sintomas da anemia, como cansaço e boca seca.
Perigos de consumir itens que não são comestíveis
Embora a vontade de consumir esses itens possa parecer inofensiva, ceder a esses desejos pode trazer riscos sérios à saúde:
- Intoxicação: Consumir materiais como areia ou tijolo pode expor a mãe a substâncias tóxicas ou contaminantes.
- Lesões gastrointestinais: A ingestão de objetos duros ou abrasivos pode causar danos ao sistema digestivo.
- Impacto nutricional: O consumo de itens não alimentares pode interferir na absorção de nutrientes essenciais.
Dra. Isabel reforça: “É importante que a gestante procure ajuda ao sentir esses desejos, para que possamos investigar as causas e tratar qualquer deficiência subjacente.”
Diagnóstico e tratamento desse distúrbio
O diagnóstico do pica é clínico e baseia-se na avaliação cuidadosa dos sintomas relatados pela gestante. Os exames de sangue podem identificar deficiências nutricionais, como baixos níveis de ferro, zinco ou outros nutrientes. O tratamento é multidisciplinar, podendo incluir:
- Reposição nutricional: Suplementação de ferro, zinco e vitaminas essenciais.
- Acompanhamento psicológico: Identificar e tratar fatores emocionais que possam contribuir.
- Orientação nutricional: Garantir uma dieta equilibrada e rica em alimentos que atendam às demandas da gravidez.
Quando buscar ajuda?
Se você está grávida e percebe uma vontade persistente de consumir itens não alimentares, é essencial buscar orientação médica. A consulta com um obstetra pode não apenas esclarecer dúvidas, mas também prevenir complicações para você e seu bebê.