Realizar grandes mudanças exige uma ideia inovadora e execução cuidadosa...na maioria das vezes. Confira 7 "acidentes" que mudaram a história!
Redação | 1 de Outubro de 2020 às 01:01
Alterar o curso dos eventos humanos exige uma grande ideia e execução cuidadosa… na maioria das vezes. Confira agora 7 instantes decisivos que mudaram a história.
Percy Spencer era tão fascinado pelo naufrágio do Titanic que virou cientista. Entrou na marinha americana, tornou-se radiotécnico e, finalmente, especialista civil em radar durante a Segunda Guerra Mundial, tendo recebido um prêmio de Distinção no Serviço Público por seu trabalho. E fez tudo isso sem jamais terminar o ensino médio.
Depois da guerra, Spencer foi trabalhar na Raytheon Manufacturing, fornecedora de material bélico. Certo dia, andando perto do equipamento de radar, pôs a mão no bolso da camisa… e encontrou uma massa gosmenta. Spencer costumava levar uma barra de pé de moleque para dar aos esquilos na hora do almoço. Ele conhecia o radar a ponto de desconfiar que as ondas de calor do magnétron poderiam ser as responsáveis, mas não tinha certeza. Então, pôs um saco de milho de pipoca diante da máquina – e o milho estourou. Depois, um ovo cru, que explodiu devidamente na cara de um colega cético.
Spencer refinou a descoberta com a Raytheon e a vendeu a empresas aéreas, ferrovias, restaurantes e navios de cruzeiro como “Radarange” – hoje, forno de micro-ondas. Felizmente, as unidades de micro-ondas avançaram muito desde 1947, quando tinham quase 1,80 metro de altura, pesavam 340 quilos e custavam 3 mil dólares, o que hoje equivale a uns 35 mil dólares.
O dia 2 de agosto de 1943 começou numa noite nublada e sem lua no sul do Pacífico para o tenente da Marinha John F. Kennedy, de 26 anos. Quando ele e sua tripulação patrulhavam as Ilhas Salomão na embarcação PT-109, um contratorpedeiro japonês atravessou a neblina e cortou o navio menor ao meio. Uma enorme bola de fogo encheu o céu, e dois homens a bordo do PT 109 morreram. Agrupados junto aos destroços, Kennedy e mais dez sobreviventes perceberam que a única opção era nadar até uma ilha próxima. Kennedy, ex-integrante da equipe de natação da Universidade Harvard, arrastou pessoalmente com os dentes um dos camaradas feridos durante cinco horas, em águas infestadas de tubarões e crocodilos, até a ilha Kasolo, onde comeram cocos para sobreviver.
Vários dias depois, os homens acenaram para dois nativos das Ilhas Salomão que passavam numa canoa; eles concordaram em levar uma mensagem às forças aliadas. O despacho foi gravado numa casca de coco: “ILHA NAURO …COMANDANTE …NATIVOS SABEM POSIÇÃO …PODE PILOTAR …11 VIVOS …PRECISA BARCO PEQUENO …KENNEDY.” Os ilhéus entregaram o coco e logo os homens foram resgatados.
Anos depois, o juiz Ernest W. Gibson Jr., coronel durante a guerra no sul do Pacífico, surpreendeu o recém-eleito presidente Kennedy com um presente. Era o coco em que ele gravara a mensagem. Kennedy mandou revesti-lo de plástico e o usou como peso de papel enquanto foi presidente. Hoje, está em exposição permanente na Biblioteca John F. Kennedy, em Boston.
Por mais diferentes que sejam, Stephen King e o escritor de livros para crianças Dr. Seuss têm duas coisas em comum. Ambos fizeram imenso sucesso e ambos escaparam por pouco de uma vida de obscuridade.
Theodor Geisel, nome real do médico, escreveu A Story No One Can Beat, seu primeiro livro infantil, em meados da década de 1930. Na época ilustrador publicitário, Geisel mandou seu singular manuscrito a 27 editoras. Todas o rejeitaram. Depois da última recusa, Geisel saiu pisando forte pela Madison Avenue, em Nova York, decidido a queimar o manuscrito e, talvez, a carreira de escritor.
Enquanto esfriava a cabeça, ele esbarrou em Mike McClintock, ex-colega de quarto na faculdade, que por acaso editava livros infantis na Vanguard Press. Geisel abriu o coração a McClintock, que pediu para ver a história. Ele sugeriu algumas mudanças, e a Vanguard publicou o livro em 1937 com novo título: And to Think That I Saw It on Mulberry Street. De acordo com Geisel, “se estivesse andando pelo outro lado da Madison Avenue, hoje eu estaria no ramo da lavagem a seco.”
O primeiro livro publicado de Stephen King falava de uma adolescente que sofria bullying na escola e que descobre ter poderes mentais fantásticos, que usa para se vingar dos seus perseguidores. O pior crítico de King não foram os editores; foi ele mesmo, que detestou tanto a história que a jogou fora após escrever apenas três páginas, de acordo com seu livro de memórias Sobre a escrita. Algumas horas depois, a esposa encontrou as páginas amassadas e cobertas de cinzas de cigarro no cesto de lixo. Ela as pegou, começou a ler e não conseguiu parar. “Ela quis que eu continuasse”, escreveu King mais tarde. “Queria saber o restante da história.” Assim, ele continuou. Carrie vendeu mais de um milhão de exemplares no primeiro ano de lançamento.
Seria um caso a ser lembrado antes mesmo que o suspeito estacionasse seu Ford Bronco branco naquela noite quente de Los Angeles em 1994. O. J. Simpson, lenda do futebol americano, porta-voz de locadora de automóveis, às vezes astro do cinema, foi acusado de matar a esposa Nicole Brown Simpson e Ron Goldman, um garçom local, nos degraus da luxuosa casa de Nicole em Brentwood, na Califórnia. As provas contra O. J. pareciam conclusivas, com sangue no Bronco e numa luva igual a outra encontrada perto do corpo de Goldman. As “provas de DNA” ficaram conhecidas com o julgamento de O. J. Simpson, e não a seu favor. O testemunho de homem chamado Kato Kaelin, que morava na casa de hóspedes de O. J. e declarou não saber onde estava o ex-jogador na hora do crime, também não lhe foi favorável.
A equipe de O. J. Simpson tinha muitas linhas a seguir. O julgamento aconteceu poucos anos depois dos distúrbios de 1992 em Los Angeles, causados pela absolvição de policiais brancos acusados de agredir um motorista negro, e a polarização racial era palpável na cidade. Na verdade, a defesa se esforçou para imputar a Mark Fuhrman, um dos agentes do Departamento de Polícia de Los Angeles que investigavam o caso, um histórico de declarações racistas.
Ainda assim, muitos observadores acreditavam que O. J. seria condenado. E aí o promotor lhe pediu que experimentasse a luva ensanguentada encontrada na cena do crime. A imagem de O. J. Simpson tentando espremer a mão carnuda nos dedos finos da luva foi uma virada no julgamento, assim como a declaração final hoje histórica do advogado de defesa Johnnie Cochran: “If it doesn’t fit, you must acquit” – se não couber, vocês têm de absolver. E o júri absolveu.
No verão de 1928, o médico escocês Alexander Fleming estava com tanta pressa de sair de férias que, sem querer, esqueceu uma pilha de placas de Petri na pia do laboratório. Como se não bastasse, as placas estavam cobertas de estafilococos, bactérias que provocam furúnculos, dor de garganta e infecção intestinal. (Vamos torcer para que o médico pelo menos tenha lavado as mãos antes de sair.)
Semanas depois, quando voltou, o Dr. Fleming encontrou algo interessante na bagunça da pia: uma das placas de Petri estava cheia de bactérias, a não ser onde crescia um certo mofo. A área em volta estava limpa, como se protegida por uma barreira invisível. Num exame mais atento, o Dr. Fleming percebeu que o mofo, uma forma rara de Penicillium notatum, secretara um “suco de mofo” que matava várias cepas de bactérias fatais. O Dr. Fleming publicou sua extraordinária descoberta… e quase ninguém notou.
Na verdade, anos depois, o patologista australiano Howard Walter Florey achou o artigo de Fleming por acaso, folheando revistas médicas velhas. Com o bioquímico Ernst Boris Chain, o Dr. Florey começou a examinar o efeito terapêutico do suco de mofo e, em 1941, recolheu penicilina suficiente para usar na primeira cobaia humana, um policial de 43 anos que sofria de uma infecção bacteriana terminal que pegara depois de se arranhar nas roseiras do jardim. O resultado foi espantoso: a febre do paciente caiu e o apetite voltou, e a penicilina usada para tratá-lo foi louvada como remédio milagroso. Infelizmente, quando o estoque acabou, a infecção do policial voltou e ele morreu.
Ainda assim, o Dr. Fleming dividiu o Prêmio Nobel com o Dr. Florey e Chain pelo trabalho no remédio mágico. “Claro que eu não planejava revolucionar a medicina com a descoberta do primeiro antibiótico do mundo”, observou ele, “mas suponho que foi exatamente o que fiz.”
O engenheiro suíço George de Mestral era um inventor nato. Com 12 anos, projetou e patenteou um avião de brinquedo. Quando cresceu, considerou a natureza a maior inventora do planeta, e ficava de olho em fenômenos naturais que a ciência pudesse imitar. É aí que entra seu fiel pointer irlandês.
Depois de um dia caminhando nas montanhas suíças, Mestral notou que o cachorro estava coberto de carrapichos, assim como suas próprias calças. Ele pôs os carrapichos no microscópio e encontrou, na ponta dos espinhos, “ganchinhos” que se prendiam a quase qualquer tipo de pelo ou tecido. Como não gostava de zíperes, que tendiam a congelar no inverno alpino, Mestral passou os dez anos seguintes tentando reproduzir a atração irresistível dos carrapichos por seu parceiro de caminhada.
Depois de incontáveis tentativas e coçadinhas na barriga, Mestral encontrou o material correto para sua invenção: o náilon, forte o suficiente para os ganchos se prenderem mas flexível a ponto de se soltar com o puxão certo. Em 1952, Mestral pediu a patente, aprovada três anos depois. Ele deu à invenção o nome Velcro, combinação de veludo e crochet, palavra francesa que significa “ganchinho”.
Em certa tarde de 1971, Glenn Cowan treinava para o Campeonato Mundial de Tênis de Mesa, em Nagoya, no Japão, e percebeu que era o único americano na sala. Ele perdera o ônibus da equipe para voltar ao hotel! Sem se intimidar, o californiano de 19 anos pulou no ônibus da equipe nacional chinesa. A maioria dos atletas chineses observou o americano descabelado com desconfiança; os Estados Unidos tinham rompido relações diplomáticas com a China em 1949, e a equipe fora proibida até de falar com americanos.
Mas Zhuang Zedong, o astro do time, avançou para apertar a mão de Cowan. Os dois conversaram por meio de um intérprete, e Zhuang presenteou o americano com uma gravura em silkscreen da cordilheira chinesa de Huangshan. Cowan, que se descrevia como hippie, retribuiu o gesto no dia seguinte dando a Zhuang uma camiseta com o símbolo da paz e as palavras “Let It Be”.
Depois que essa troca espontânea de afabilidade correu o mundo, o líder chinês Mao Tsé-Tung convidou toda a equipe americana para uma visita.
Um ano depois, o presidente Richard Nixon fez sua viagem histórica a Pequim.