Setembro foi o mês da visibilidade bissexual. Entenda por que é importante debatermos o tema e como a invisibilidade pode afetar as pessoas.
Felippe Spinetti | 28 de Setembro de 2020 às 19:00
O mês de setembro foi o mês da visibilidade bissexual. Essencial para uma parcela da população que sofre com inúmeras violências – em especial o apagamento e a invalidação de suas próprias identidades, seja dentro ou fora da comunidade LGBT –, a data movimentou e conscientizou muita gente.
Segundo relatório produzido nos Estados Unidos pela Comissão de Direitos Humanos de São Francisco (2011), a bissexualidade se define pela capacidade de atração física, emocional e/ou romântica por mais de um sexo/gênero. Esta orientação sexual fala sobre o potencial, mas não requer o envolvimento com um ou mais sexo/gênero.
No entanto, a definição ou utilização do termo é variável entre os membros da própria comunidade, que também engloba pessoas que se declaram como pansexuais e omnisexuais.
Dessa forma, o termo bissexual é compreendido como um guarda-chuva para todas as orientações que se sentem atraídas por mais de uma identidade de gênero.
Apesar de cada vez mais pessoas virem a público se declarar como bissexuais, é sistemático o processo de invalidação e apagamento destas identidades. A invisibilidade nesta comunidade está relacionada à falta de reconhecimento e ao fato de a sociedade ignorar evidência de que pessoas bissexuais existem.
Para Kaique Fontes, ativista e integrante do Coletivo Bi-sides, “a invisibilidade é uma ferramenta da bifobia” existente dentro e fora da comunidade, pois “em espaços héteros somos tratados como gays e em espaços gays apenas como héteros”.
Kaique ressalta que existe um problema no que diz respeito a validar a experiência de pessoas que foram ou se disseram bissexuais em algum momento, mesmo quando essas pessoas deixam de se entender dessa maneira. Para ele, o problema específico acontece quando “o discurso das pessoas tende a apagar a bissexualidade de qualquer maneira, de qualquer vivência”.
Além disso, algumas outras formas de preconceito e/ou invalidação da bissexualidade são:
O relatório da Comissão de Direitos Humanos de São Francisco também apresenta alguns exemplos baseados em estudos feitos em larga escala sobre o tema da saúde mental das pessoas bissexuais, entre eles:
Leia também: Saúde mental de LGBTs é algo que precisamos discutir
No Brasil, contudo, ainda não existem pesquisas em larga escala focadas nas demandas da população bissexual em geral, mas os dados dos Estados Unidos servem como um parâmetro para pensar a situação brasileira.
A invisibilização de bissexuais é um processo histórico. Esse apagamento é reforçado pela falta de representatividade e de modelos para as novas gerações.
Muitas pessoas famosas foram taxadas como lésbicas ou gays pelas suas relações com pessoas do mesmo sexo, ainda que tivessem mantido relações de longa data com pessoas do sexo oposto.
A lista é extensa e passa por Freddie Mercury, David Bowie, Cássia Eller, Ana Carolina, Renato Russo, Eleanor Roosevelt, Walt Whitman, Anitta, Preta Gil, Angelina Jolie, Jason Mraz, entre outros. Além dos exemplos citados, há também ativistas como Brenda Howard, nos Estados Unidos, e Marielle Franco, no Brasil.
Para a comunidade bissexual, a visibilidade é uma das principais pautas de luta e existência. Maria Leão, ativista, antropóloga e doutoranda com pesquisa sobre o tema no Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IMS-UERJ) afirma:
“Apesar de existir enquanto identidade social desde os anos 1970 e enquanto comportamento humano desde sempre, a bissexualidade ainda é constantemente apagada e tratada como uma impossibilidade lógica. No entanto, nós, bissexuais, somos uma parte imensa da comunidade LGBTQIA+ que está nas trincheiras das lutas por direitos sexuais desde o começo do movimento homossexual brasileiro. Existimos, resistimos, não continuaremos invisíveis”.