Imaginem um lugar onde todos são protegidos, onde há alimentação, vestuário, alojamento e tratamento médico para todos. Conheça a Utopia de Thomas More!
Julia Monsores | 13 de Agosto de 2019 às 14:00
Imaginem um lugar onde todos são protegidos, onde há alimentação, vestuário, alojamento e tratamento médico para todos, onde ninguém tem de trabalhar mais de seis horas por dia. O estadista inglês do século XVI, Thomas More, que desafiou o rei Henrique VIII e foi decapitado, imaginou uma sociedade assim. Chamou-a de Utopia (“lugar nenhum”, em grego). Como outras sociedades ideais, Utopia tinha inconvenientes. Quem não se interessasse pela terra não gostaria de viver lá, pois eram obrigatórios dois anos de “vida no campo” para todos. O tempo disponível devia ser dedicado a aprender, por meio de estudos privados ou palestras públicas.
Além disso, Utopia parecia atrasada em muitos aspectos. Por mais absurdo que pareça, em seu projeto, uma vez por mês, as esposas tinham de pedir perdão aos maridos. Além disso, não havia bens de consumo pessoal nas lojas. E todos deviam vestir-se de preto. As relações sexuais pré-conjugais eram punidas com o celibato por toda a vida, e o adultério castigado com a escravidão. E, como no livro 1984, de George Orwell, alguém vigiava se todos se comportavam bem.
Uma proposta anterior para uma sociedade ideal, a República de Platão, não era mais sedutora. Nela, a elite seria o que Platão designava por “reis filósofos”. Depois vinha o exército e, no fim, os cidadãos comuns. Não havia grande margem para a mobilidade social. Os que usavam a mente não utilizavam as mãos. Quem fosse operário permanecia operário. Havia uma censura rigorosa da literatura – a música e a poesia eram até proibidas. A família era abolida, substituída por internatos do Estado. As pessoas não se casavam: apenas “procriavam” quando necessário.
Será que More e Platão acreditavam que as pessoas um dia viveriam da maneira que eles preconizaram? A Utopia de More era, acima de tudo, uma crítica ao comportamento moral dos Tudor e atacava reis gananciosos e a hipocrisia religiosa. A sociedade ideal de Platão, contudo, era uma fria abstração, que renegava os sentimentos humanos.
Os projetos das sociedades ideais também incluíram ambientes físicos apropriados. More cuidou de descrever como eram as cidades da sua Utopia. Havia 54, todas iguais, com sólidos muros protetores, casas com terraços e grandes jardins, armazéns, salas de jantar comunais e igrejas. Platão foi mais prudente: o mais próximo que chegou do projeto de uma cidade para sua república ideal foi nas descrições da cidade circular e rodeada por um fosso da Atlântida. Entretanto, Platão e More não foram os únicos a antever a vida perfeita ou o lugar perfeito para viver.