Com "Nos tempos do Imperador", uma nova personagem da história do Brasil está em evidência: a condessa de Barral. Você sabe quem foi ela?
Se você ama acompanhar novelas, com certeza já está ligado em “Nos tempos do Imperador”, folhetim da faixa das 18h da Rede Globo. A trama se passa em 1856 e acompanha a história do imperador D. Pedro II, à época casado com a imperatriz d. Teresa Cristina e pai das princesas Isabel e Leopoldina. Em um período de muitas mudanças, ele é abalado pela chegada da condessa de Barral na corte do Rio de Janeiro.
Interpretada pela atriz Mariana Ximenes na telinha, a condessa de Barral foi uma mulher real que fez parte da vida pública brasileira. Muito culta, refinada e dona de uma personalidade forte, a condessa conquistou o coração do Imperador e marcou a história do Brasil. Confira, abaixo, mais sobre um pouco de sua história:
A verdadeira condessa de Barral
Luísa Margarida Portugal e Barros, mais tarde conhecida como condessa de Barral em virtude de seu casamento, nasceu no dia 13 de abril de 1816, em Salvador, Bahia. À época, o Brasil ainda era colônia de Portugal e havia apenas 8 anos que a imprensa tinha sido liberada no país, com a chegada da Família Real ao Rio de Janeiro.
Filha única de Maria do Carmo Gouveia Portugal e de Domingos Borges de Barros, senhor de engenho e visconde de Pedra Branca, Luísa cresceu em um engenho. Estudou na Europa e adquiriu um nível cultural bastante elevado, com educação diferenciada, incomum para as mulheres brasileiras da época, o que permitiu que circulasse também entre a nobreza francesa. Vivia entre a França e o Brasil.
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Em 1837, casou-se com Eugène de Barral, membro da corte francesa, tornando-se, assim, condessa de Barral. Após o casamento, frequentando a corte francesa, tornou-se dama de companhia e amiga de d. Francisca de Bragança, irmã de Pedro II e princesa de Joinville. Tinha o objetivo de educar a princesa, ensinando-a a se portar nas mais diferentes situações.
Foi a partir da indicação de d. Francisca que Luísa se tornou preceptora das princesas Isabel e Leopoldina, filhas do imperador d. Pedro II. Após muitas negociações, Luísa volta ao Brasil com o filho Dominique, temporariamente sem o marido, indo morar no Rio de Janeiro, para ser tutora das princesas, no ano de 1856.
A volta ao Brasil
Nomeada também como dama de companhia de d. Teresa Cristina, imperatriz do Brasil, Luísa passou a frequentar o Palácio de São Cristóvão e logo começou a exercer sua autoridade e influência sobre o local. Assim, conhece o imperador d. Pedro II, que se encanta por ela quase que imediatamente. A partir daí, os dois passam a ter um romance longo, que dura até o falecimento da condessa, em 1891, na França.
Algumas das cartas trocadas entre o imperador Pedro II e a condessa podem ser encontradas no Instituto Histórico e Geográfico Brasil e no Museu Imperial de Petrópolis, tendo sido tornadas públicas apenas em 1956. É possível ler a transcrição de algumas delas no site do Instituto Moreira Sales.
De acordo com a historiadora Mary Del Priore em seu livro “Condessa de Barral: a paixão do Imperador (Editora Objetiva), a condessa era “[…] dona de personalidade forte, culta, poliglota e elegante, não deixava escolhas: era amada ou detestada. Não se submetia jamais ao despotismo dos homens: nem do pai, nem do marido. Menos ainda ao das mulheres.”
Luísa estava bastante à frente de seu tempo, em uma época na qual as mulheres brasileiras sequer podiam fazer parte da vida pública. Ela fazia o que desejava e à própria maneira, destacando-se não apenas por sua beleza, cultura e por seus modos refinados, mas também por suas conexões, que incluíam celebridades da época, como o compositor Franz Liszt e o conde de Gobineau.
Ficção X realidade
Como em toda obra de ficção que se baseia em eventos reais, algumas mudanças ocorreram para que “Nos tempos do Imperador” pudesse ser realizada. Uma das inserções ficcionais se dá, por exemplo, na imagem de um d. Pedro II abolicionista, que lutava pelo fim da escravidão. Na realidade, a escravidão no Brasil perdurou durante todo o seu governo, por mais de 50 anos, com apenas a Lei do Ventre Livre sendo sancionada, neste meio tempo, nesse aspecto.
Outra inserção é a do personagem Samuel (interpretado por Michel Gomes), malês e ex homem escravizado que dá aulas de árabe para o Imperador. Na época, o povo malês era bastante reprimido e havia uma proibição em relação ao ensino, sendo necessário que dessem aulas de forma clandestina, além de serem costumeiramente reprimidos pelo Império.
Apesar disso, o romance entre a condessa de Barral e o imperador d. Pedro II é um dos pontos mais verossímeis da trama. Há registros, inclusive, das longas caminhadas que os personagens de Mariana Ximenes e Selton Mello costumam dar no Rio de Janeiro da novela.