Curtis Whitson sabia que a cachoeira estava próxima. Ele já descera de jangada o Arroyo Seco, um rio da região central da Califórnia. Imaginou que
Curtis Whitson sabia que a cachoeira estava próxima. Ele já descera de jangada o Arroyo Seco, um rio da região central da Califórnia. Imaginou que conseguiria pular da balsa inflável na água rasa, descer de rapel as rochas nas laterais da cascata e continuar seu caminho, como na viagem anterior.
Só que esse ano era diferente. A neve pesada e as chuvas de primavera
tinham transformado a cachoeira, geralmente administrável, em algo
feroz. Além disso, nesse ano, em vez do colega de acampamento, os companheiros de Whitson eram o filho Hunter, de 13 anos, e a namorada, Krystal Ramirez.
No fim da tarde do terceiro dia do acampamento, quando os três se aproximaram da cascata, Whitson soube, pelo rugir cada vez
mais alto da água no desfiladeiro, que estavam com um problema sério.
Não haveria como descer as rochas de rapel, como planejado. “A água jorrava por lá com uma força tremenda”, recorda Whitson, de 45 anos.
Poderiam chegar até a margem, mas será que alguém os encontraria?
Não havia sinal de celular, e eles não tinham visto ninguém nos últimos
três dias. Whitson também sabia que dividiriam o terreno com cascavéis e
pumas.
Enquanto pensava no que fazer, Whitson teve sorte: ouviu vozes vindas
do outro lado da cachoeira. Gritou, mas o som da água encobriu sua voz.
Temos de mandar uma mensagem a essas pessoas, pensou. Ele pegou uma vareta e, com o canivete, gravou “Socorro” na madeira. Depois, amarrou nela um pedaço de corda, para as pessoas perceberem que não era uma vareta comum. Ele tentou jogá-la na cachoeira, mas ela flutuou na direção errada.
“Precisamos fazer alguma coisa!”, gritou Whitson ao filho. “Temos
alguma opção?”
WHITSON SABIA QUE ERA IMPROVÁVEL,
MAS ESCREVEU “AJUDEM, POR FAVOR”.
Então ele avistou sua garrafa d’água de plástico verde. Whitson a pegou e gravou “Socorro!” nela. Krystal também lembrou que ele tinha caneta e papel na mochila, que ela trouxera para se divertirem com jogos.
Whitson sabia que a probabilidade era pequena. Mas rabiscou: “15/6/19 Estamos presos na cachoeira. Ajudem, por favor”, e enfiou o bilhete na garrafa.
Dessa vez, o lançamento por cima da cachoeira foi perfeito. “Pronto, era o que podíamos fazer”, disse Whitson a Hunter.
levaram meia hora para subir o rio até a praia onde tinham almoçado. Acenderam uma fogueira e estenderam uma lona. Sem nenhuma expectativa de que a mensagem na garrafa chegasse a alguém, deram outra ajudinha à sorte: escreveram SOS com pedras brancas sobre a lona azul. Quando a noite fechou, puseram uma lanterna de cabeça com luz piscante no alto de uma pedra para que o SOS pudesse ser visto de cima.
Por volta das 22h30, decidiram que provavelmente não seriam resgatados naquela noite e pegaram os sacos de dormir. Antes de se deitar, Krystal atiçou o fogo, para manter os pumas a distância.
Então, pouco depois da meia-noite, eles ouviram o sobrevoo de um helicóptero. Whitson virou-se para o filho e começou a sacudi-lo.
“Eles estão aqui!”, dizia.
Whitson correu até a lanterna de cabeça e começou a piscá-la para o helicóptero. Ele, Krystal e Hunter acenaram e gritaram até ouvir as palavras mágicas. “Aqui é Busca e Resgate. Vocês foram encontrados.”
O helicóptero deu uma volta enquanto o piloto procurava um bom lugar para pousar. Como não encontrou, a tripulação anunciou pelo alto-falante que eles só seriam resgatados pela manhã e que deviam manter a fogueira acesa.
Na manhã seguinte, o helicóptero voltou e baixou um tripulante pelo cabo. Então, os socorristas tiraram Hunter, Krystal e Whitson da garganta, um a um, e os puseram, junto com seu equipamento, no lugar mais próximo onde o helicóptero conseguiu pousar em segurança.
Foi um momento de pura felicidade quando os três conversaram com os
socorristas que os resgataram. Todos se espantaram com a improbabilidade
da situação.
“Eles disseram que, nos 25 anos em que vêm fazendo esse tipo de resgate,
ninguém foi salvo por uma mensagem na garrafa”, conta Whitson.
Quando os socorristas os deixaram de volta no camping de Arroyo Seco,
os três souberam mais um pouco sobre os eventos improváveis que os
salvaram: dois homens tinham visto a garrafa d’água flutuando.
Quando a pegaram, notaram que estava escrito “Socorro!”, o que atiçou sua curiosidade. Então, perceberam que havia um bilhete dentro. Depois de lerem, correram até o camping, entregaram a garrafa e foram embora sem deixar seus nomes.
“A questão não era notoriedade, não era dizer seu nome”, afirma Whitson.
“Era só uma questão de: aqui está a garrafa, aqui está o bilhete, aqui está
o que sabemos.”
Alguns dias depois da divulgação da notícia do resgate, um dos salvadores
entrou em contato com Whitson. Foi aí que ele soube o restante da história.
Na verdade, havia duas meninas caminhando com os homens naquele
dia. Foram elas que avistaram a garrafa e nadaram para pegá-la. Whitson
está planejando um grande churrasco para conhecer o grupo e agradecer.
“Imagino que vá ser um dos melhores momentos da minha vida”, diz ele.
por Jen McCaffery