O humor é um músculo que todos temos, e exercitá-lo é bom em qualquer situação. Saiba como fazer para ser (um pouco mais) engraçado!
Redação | 17 de Janeiro de 2022 às 11:00
Como você se sentiria se um colega lhe sugerisse fazer aulas de comédia para melhorar seu senso de humor? Fiquei arrasada.
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Naquela noite, em casa, perguntei à minha cara-metade se ele me achava engraçada. Depois, mandei uma mensagem à melhor amiga. E a meu irmão. E à mulher dele. “É claro que acho”, todos me tranquilizaram. O que mais poderiam dizer? Seja como for, eu já me decidira. Algumas pessoas simplesmente não são engraçadas, e eu sou uma delas.
Mas, de acordo com Jennifer Aaker e Naomi Bagdonas, autoras do livro Humor, Seriously e especialistas no assunto, ninguém nasce com ou sem humor. Em vez disso, ele é como um músculo que é possível fortalecer. Além disso, achar nosso lado engraçado nos deixa mais competentes e confiantes, fortalece os relacionamentos, destrava a criatividade, aumenta a resiliência e facilita gostarem de nós. Ajuda em qualquer situação.
Sem dúvida, isso explica por que os futuros mestres do universo estão se matriculando animadamente no curso de humor que Jennifer e Naomi dão na Escola de Pós-Graduação em Administração da Universidade Stanford. Elas concordaram em também me ensinar a achar meu senso de humor.
Minha primeira interação com as duas é por e-mail e, como seria de esperar, elas são muito divertidas – não do tipo que conta uma piada por minuto, mas inteligentes e afetuosas. Começam me mandando um longo questionário sobre o que acho engraçado, o que não acho e como tento fazer os outros rirem. Parece que o resultado revelará meu tipo de humor.
Na primeira ligação, Jennifer, psicóloga social, explica que muitos deixam o humor para trás quando se tornam adultos: uma criança de 4 anos ri 300 vezes por dia. Uma pessoa de 40 leva dez semanas para rir tudo isso.
Em seguida, discutimos as concepções erradas mais comuns que atrapalham o caminho rumo à comédia. A primeira, diz Jennifer, é a crença de que não há lugar para o humor em certas situações, principalmente no trabalho. Tememos prejudicar nossa credibilidade e não sermos levados a sério, mas 98% dos altos executivos dizem que preferem funcionários com senso de humor, e 84% dos chefes acreditam que esses funcionários trabalham melhor.
Depois, há a ideia de que é arriscado demais soltar nosso humor – que a piada será recebida com silêncio ou, pior, ofenderá alguém. Mas, só porque não fez todo mundo cair na gargalhada, sua piada não é um fracasso, argumenta Naomi. O segredo é mostrar que você está se divertindo. Se não se sente à vontade para contar piadas, deixe-as para os outros. É muito mais importante mostrar simplesmente que você tem senso de humor.
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Jennifer e Naomi explicam que há quatro estilos primários de humor: o Stand-Up (exibido, adora um público), o Queridinho (humor gentil e animador), o Ímã (aquele que agrada e anima o público) e o Franco-atirador (sarcástico, irritado e que prefere perder o amigo a perder a piada).
Qual eu sou? Estou torcendo por Queridinho ou Ímã. Mas o resultado vem como Franco-atirador. Meu humor é “um gosto adquirido”, “tende a ser seco e sarcástico”, com a “crença de que não há tópicos proibidos”.
“Você só precisa ser conscienciosa ao escolher o alvo”, diz Naomi. “Ou ativar outros estilos de humor quando a situação exigir.”
Se quiser aumentar meu alcance, preciso de dicas – e as professoras têm uma abundância delas. Na pesquisa para o curso, elas entrevistaram comediantes convencionais (como os redatores do programa Saturday Night Live) e dignitários famosos (a ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright). Em todos os níveis, as mesmas regras básicas se aplicam.
“O primeiro nível de humor é só citar o que é verdade”, diz Naomi. “As pessoas riem de coisas reais; portanto, garimpe sua vida atrás de verdade e incongruência.” Talvez você no trabalho seja o presidente executivo, mas em casa é o estagiário dos filhos adolescentes. Ou talvez a máquina de venda da academia só tenha balas.
Toda piada segue a estrutura fundamental de preparação e clímax. A preparação é a observação ou a verdade, o clímax é o que surpreende e diverte. As técnicas mais óbvias são exagerar ou aplicar a regra de três, em que você lista dois elementos normais e acrescenta um terceiro inesperado. Em 2017, por exemplo, a comediante Amy Schumer abriu um espetáculo em Denver dizendo: “Ano passado, fiquei muito rica, famosa e humilde.”
Naomi tem sua própria técnica favorita. “Uso o retorno o tempo todo em conferências”, diz ela. “Presto atenção na pessoa que fala antes de mim; o que fez o público rir é a primeira coisa a que faço referência. Isso provoca simpatia, porque agora eu e o público temos uma piada interna.”
E lembre-se: a meta não é provocar gargalhadas. Você só quer criar uma conexão entre banalidades genéricas.
Por falar nisso, levante a mão quem já começou um e-mail dizendo “espero que você esteja bem”. Admito a Jennifer e Naomi que já, e elas fazem uma careta. Esperar que alguém esteja bem é agir como um robô. Fale como um ser humano. Elas também sugerem um final criativo para quebrar a monotonia dos e-mails. Elas veem meu “Atenciosamente” e o melhoram com “Até mais, com muita cafeína”.
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Elas estão tão convencidas do poder do humor que também o defendem para ajudar as pessoas a evitar situações embaraçosas – e sair delas. Já se comprovou que o humor aumenta a criatividade. A pesquisa mostra que quem assiste a um vídeo engraçado antes de resolver um quebra-cabeça tem o dobro da probabilidade de sucesso. E, quando cometemos erros, aprender a rir deles tem impacto positivo sobre nossa psicologia. Alivia a pressão. Se mostrar aos colegas ou até ao cônjuge irritado que você não tem medo de rir dos próprios tropeços, eles se sentirão mais seguros para assumir os deles.
Mas rir não é saída para tudo. “O que achamos engraçado ou adequado não é universal”, admite Jennifer. “Se não tiver certeza de qual é a linha, experimente seu humor num círculo seguro de cobaias de confiança.”
Se errar o alvo, assuma. Recuperar-se de uma falha humorística é um processo em três estágios. O primeiro é simplesmente reconhecer o que aconteceu. O segundo é diagnosticar o que deu errado. Finalmente, é preciso consertar. Peça desculpas e aprenda.
Depois dessa aula especializada, tentei avaliar se meu humor mudou. Gosto de pensar que meus e-mails melhoraram; estão menos sem graça, com um kkk ocasional. O retorno às conversas anteriores com certeza aqueceu os telefonemas gelados. E tranquilizei o temor do meu crítico interno de eu não ser engraçada. Não sou comediante, mas consigo contar uma piada – e basta. Rio muito, por exemplo, quando recebo um e-mail me parabenizando pelo meu MBA honorário de Stanford. Tenho mestrado em comédia. Agora, só preciso pôr isso em meu perfil no LinkedIn. E isso só é meia piada.
The Sunday Times (27 de setembro de 2020), © 2020 News UK & Ireland Limited, thetimes.co.uk