O humor é um músculo que todos temos, e exercitá-lo é bom em qualquer situação. Saiba como fazer para ser (um pouco mais) engraçado!
Como você se sentiria se um colega lhe sugerisse fazer aulas de comédia para melhorar seu senso de humor? Fiquei arrasada.
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Naquela noite, em casa, perguntei à minha cara-metade se ele me achava engraçada. Depois, mandei uma mensagem à melhor amiga. E a meu irmão. E à mulher dele. “É claro que acho”, todos me tranquilizaram. O que mais poderiam dizer? Seja como for, eu já me decidira. Algumas pessoas simplesmente não são engraçadas, e eu sou uma delas.
Ninguém nasce engraçado
Mas, de acordo com Jennifer Aaker e Naomi Bagdonas, autoras do livro Humor, Seriously e especialistas no assunto, ninguém nasce com ou sem humor. Em vez disso, ele é como um músculo que é possível fortalecer. Além disso, achar nosso lado engraçado nos deixa mais competentes e confiantes, fortalece os relacionamentos, destrava a criatividade, aumenta a resiliência e facilita gostarem de nós. Ajuda em qualquer situação.
Sem dúvida, isso explica por que os futuros mestres do universo estão se matriculando animadamente no curso de humor que Jennifer e Naomi dão na Escola de Pós-Graduação em Administração da Universidade Stanford. Elas concordaram em também me ensinar a achar meu senso de humor.
Minha primeira interação com as duas é por e-mail e, como seria de esperar, elas são muito divertidas – não do tipo que conta uma piada por minuto, mas inteligentes e afetuosas. Começam me mandando um longo questionário sobre o que acho engraçado, o que não acho e como tento fazer os outros rirem. Parece que o resultado revelará meu tipo de humor.
Mitos sobre o humor
Na primeira ligação, Jennifer, psicóloga social, explica que muitos deixam o humor para trás quando se tornam adultos: uma criança de 4 anos ri 300 vezes por dia. Uma pessoa de 40 leva dez semanas para rir tudo isso.
Em seguida, discutimos as concepções erradas mais comuns que atrapalham o caminho rumo à comédia. A primeira, diz Jennifer, é a crença de que não há lugar para o humor em certas situações, principalmente no trabalho. Tememos prejudicar nossa credibilidade e não sermos levados a sério, mas 98% dos altos executivos dizem que preferem funcionários com senso de humor, e 84% dos chefes acreditam que esses funcionários trabalham melhor.
Depois, há a ideia de que é arriscado demais soltar nosso humor – que a piada será recebida com silêncio ou, pior, ofenderá alguém. Mas, só porque não fez todo mundo cair na gargalhada, sua piada não é um fracasso, argumenta Naomi. O segredo é mostrar que você está se divertindo. Se não se sente à vontade para contar piadas, deixe-as para os outros. É muito mais importante mostrar simplesmente que você tem senso de humor.
Estilos de humor
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Jennifer e Naomi explicam que há quatro estilos primários de humor: o Stand-Up (exibido, adora um público), o Queridinho (humor gentil e animador), o Ímã (aquele que agrada e anima o público) e o Franco-atirador (sarcástico, irritado e que prefere perder o amigo a perder a piada).
Qual eu sou? Estou torcendo por Queridinho ou Ímã. Mas o resultado vem como Franco-atirador. Meu humor é “um gosto adquirido”, “tende a ser seco e sarcástico”, com a “crença de que não há tópicos proibidos”.
“Você só precisa ser conscienciosa ao escolher o alvo”, diz Naomi. “Ou ativar outros estilos de humor quando a situação exigir.”
Se quiser aumentar meu alcance, preciso de dicas – e as professoras têm uma abundância delas. Na pesquisa para o curso, elas entrevistaram comediantes convencionais (como os redatores do programa Saturday Night Live) e dignitários famosos (a ex-secretária de Estado americana Madeleine Albright). Em todos os níveis, as mesmas regras básicas se aplicam.
“O primeiro nível de humor é só citar o que é verdade”, diz Naomi. “As pessoas riem de coisas reais; portanto, garimpe sua vida atrás de verdade e incongruência.” Talvez você no trabalho seja o presidente executivo, mas em casa é o estagiário dos filhos adolescentes. Ou talvez a máquina de venda da academia só tenha balas.
Analisando piadas
Toda piada segue a estrutura fundamental de preparação e clímax. A preparação é a observação ou a verdade, o clímax é o que surpreende e diverte. As técnicas mais óbvias são exagerar ou aplicar a regra de três, em que você lista dois elementos normais e acrescenta um terceiro inesperado. Em 2017, por exemplo, a comediante Amy Schumer abriu um espetáculo em Denver dizendo: “Ano passado, fiquei muito rica, famosa e humilde.”
Naomi tem sua própria técnica favorita. “Uso o retorno o tempo todo em conferências”, diz ela. “Presto atenção na pessoa que fala antes de mim; o que fez o público rir é a primeira coisa a que faço referência. Isso provoca simpatia, porque agora eu e o público temos uma piada interna.”
E lembre-se: a meta não é provocar gargalhadas. Você só quer criar uma conexão entre banalidades genéricas.
Por falar nisso, levante a mão quem já começou um e-mail dizendo “espero que você esteja bem”. Admito a Jennifer e Naomi que já, e elas fazem uma careta. Esperar que alguém esteja bem é agir como um robô. Fale como um ser humano. Elas também sugerem um final criativo para quebrar a monotonia dos e-mails. Elas veem meu “Atenciosamente” e o melhoram com “Até mais, com muita cafeína”.
O poder do humor
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Elas estão tão convencidas do poder do humor que também o defendem para ajudar as pessoas a evitar situações embaraçosas – e sair delas. Já se comprovou que o humor aumenta a criatividade. A pesquisa mostra que quem assiste a um vídeo engraçado antes de resolver um quebra-cabeça tem o dobro da probabilidade de sucesso. E, quando cometemos erros, aprender a rir deles tem impacto positivo sobre nossa psicologia. Alivia a pressão. Se mostrar aos colegas ou até ao cônjuge irritado que você não tem medo de rir dos próprios tropeços, eles se sentirão mais seguros para assumir os deles.
Mas rir não é saída para tudo. “O que achamos engraçado ou adequado não é universal”, admite Jennifer. “Se não tiver certeza de qual é a linha, experimente seu humor num círculo seguro de cobaias de confiança.”
Se errar o alvo, assuma. Recuperar-se de uma falha humorística é um processo em três estágios. O primeiro é simplesmente reconhecer o que aconteceu. O segundo é diagnosticar o que deu errado. Finalmente, é preciso consertar. Peça desculpas e aprenda.
Depois dessa aula especializada, tentei avaliar se meu humor mudou. Gosto de pensar que meus e-mails melhoraram; estão menos sem graça, com um kkk ocasional. O retorno às conversas anteriores com certeza aqueceu os telefonemas gelados. E tranquilizei o temor do meu crítico interno de eu não ser engraçada. Não sou comediante, mas consigo contar uma piada – e basta. Rio muito, por exemplo, quando recebo um e-mail me parabenizando pelo meu MBA honorário de Stanford. Tenho mestrado em comédia. Agora, só preciso pôr isso em meu perfil no LinkedIn. E isso só é meia piada.
Por Emma Broomfield de The Sunday Times
The Sunday Times (27 de setembro de 2020), © 2020 News UK & Ireland Limited, thetimes.co.uk