Por causa de uma falha na Justiça, Marcos Mariano passou 19 anos preso por um crime que não cometeu. Confira essa história completa aqui!
Redação | 25 de Fevereiro de 2022 às 14:00
O meu caso é considerado um dos maiores erro da Justiça brasileira. Fui preso duas vezes, passei 19 anos na cadeia, fiquei cego dentro do presídio. Perdi a minha vida, por um crime que não cometi.
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A primeira vez foi em 1976. Fui confundido com um criminoso que tinha o mesmo nome que o meu e morava no mesmo lugar, na Cidade do Cabo (PE). Bastava que eles tivessem conferido o nome dos pais e teriam visto que era diferente, que eu não era o assassino. Eu dizia que era inocente, mas depois que você passa do portão do presídio não adianta jurar que é inocente porque ninguém mais acredita em você.
Depois de seis anos de prisão, apareceu o verdadeiro criminoso. Ele confessou em julgamento, diante do juiz, da família da vítima e da cidade inteira. Meus amigos choravam. O juiz então mandou me soltar, pediu desculpas em nome da lei e me instruiu a mover uma ação pública contra o Estado. Mas, na época, resolvi não mover ação nenhuma. Eu era novo ainda, tinha saúde, tinha minha família, minhas dez filhas. Resolvi recomeçar a vida.
Três anos depois, fui parado numa blitz, e, por causa da mesma confusão de nome, o policial achou que eu fosse um foragido e me prendeu. O juiz, sem verificar o meu caso, me mandou de novo para o presídio. Passei mais 13 anos lá. Nesse período, o outro Marcos Mariano também foi preso e acabou morrendo dentro da cadeia.
Um dia, decidiram fazer um mutirão no Tribunal para rever os processos. Era uma segunda-feira, 24 de agosto de 1998. Eu tinha acabado de almoçar, estava deitado no beliche, quando o faxineiro chegou e disse que o advogado do presídio tinha mandado me chamar. Eu me levantei e fui até a sala dele, no setor penal. Quando cheguei, ele falou: “Marcos, o Tribunal de Justiça absolveu você por unanimidade. Mais uma vez ficou provada sua inocência. Você vai embora agora, imediatamente.”
Na hora, fiquei pasmo, sem ação. Achava inacreditável o que ouvia, já estava cego dos dois olhos e tuberculoso, imaginava que só ia sair de lá morto. Mas, finalmente, eles tinham visto que eu era um cidadão de bem. Fiquei numa felicidade enorme.
Como eu não tinha o novo endereço da minha mulher Lúcia, nem o telefone, tive de aguardar que ela viesse para a visita para poder ir embora. Fiquei mais três dias no presídio, mas não voltei para a cela, fiquei na sala do diretor. Quando ela chegou, me abraçou chorando. Eu chorei também.
O diretor do presídio mandou me levar para casa de carro. No caminho, passou muita coisa pela minha cabeça, mas eu estava livre, era o que importava. Tinha provado para todos que não era um criminoso.
Apesar de tudo, considero esses os dois dias mais felizes da minha vida. Ganhei uma indenização do Estado, mas ainda não me pagaram tudo, pois estão recorrendo e tentando diminuir o valor. Mesmo assim, minha vida mudou radicalmente. Hoje moro numa casa boa, com minha mulher e meu filho, Leonardo. Reencontrei minhas outras 10 filhas. Quando me perguntam se perdoei o que fizeram comigo, digo que perdoei todos: juízes e policiais. Se Jesus que não tinha pecado foi crucificado e perdoou, tenho de perdoar.
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