Romance, épico ou poesia. Conheça 20 livros de autores nordestinos que você não pode deixar de ler para mergulhar no mundo cultural da região.
Matheus Murucci | 3 de Agosto de 2021 às 16:00
O Nordeste brasileiro tem uma contribuição imensa para a cultura do nosso país. São várias as manifestações artísticas de grande valor e impacto que são produzidas por lá. Seja na música, no artesanato, nas danças, no teatro – existem várias formas de expressar os costumes locais. Uma das expressões mais reconhecidas nacionalmente é a literatura, em que muitos autores nordestinos narram os cenários e vivências dessa região do Brasil.
Preparamos uma lista com 20 indicações de livros que você não pode deixar de ler para conhecer mais sobre o Nordeste. São narrativas de várias épocas e pontos de vistas, entre romances ficcionais, poesia e literatura de cordel. Qualquer um desses livros é uma oportunidade de mergulho na história e cultura do Nordeste brasileiro.
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“O navio negreiro” é um dos livros mais importantes da literatura brasileira. Trata-se de um poema longo em que o baiano Castro Alves narra a situação violenta à qual os africanos passavam, após seus sequestros, dentro do navio negreiro, para serem escravizados aqui no Brasil. O texto é marcado por ter imagens bem fortes pelas quais os negros eram submetidos. É tido como um livro abolicionista, já que foi publicado em 1869, quando ainda havia escravidão no país. É importante sua leitura para compreendermos esse trágico e criminoso passado.
“Minha terra tem palmeiras/Onde canta o sabiá,/As aves que aqui gorjeiam,/Não gorjeiam como lá.” – é muito provável que você já tenha lido ou ouvido estes versos por aí. Eles estão no início do poema “Canção do exílio”, presente no livro “Primeiros cantos”, de Gonçalves Dias, um dos autores nordestinos de maior expressão até hoje. O maranhense fez parte do romantismo brasileiro.
O cenário deste clássico da literatura brasileira é Ilhéus, no Sul da Bahia. A protagonista é uma sertaneja chamada Gabriela. O livro de Jorge Amado narra seu romance com o árabe Nacib e mostra os costumes da sociedade nos anos de 1920. A história de Gabriela ficou conhecida nacionalmente pelas novelas realizadas, que adaptavam para o audiovisual os escritos do autor baiano.
O alagoano Graciliano Ramos narra a vida de uma família nordestina no sertão. Com uma mistura de lirismo e crueza, ele contextualiza o cotidiano dessa família de retirantes, vivendo diante da seca e da miséria. É um dos livros mais renomados da nossa literatura e virou filme em 1963, pelas lentes de Nelson Pereira dos Santos.
É o último e um dos mais relevantes livros do modernista recifense Manuel Bandeira. Ele narra, em poemas, a infância, a boemia e os afetos que o circundavam na época. É um registro importante literariamente, pois Bandeira quebra alguns paradigmas em relação ao estilo de escrita tradicional na poesia. Sua escrita é lírica e simples ao mesmo tempo.
Nascida no Bodocó, em Pernambuco, Cida Pedrosa foi vencedora dos prêmios Jabuti de Poesia e de Livro do Ano, em 2020, com “Solo para Vialejo”. No livro, um longo poema passa por temas como a música e a família. Os grandes destaques da leitura são as repetições, que a autora usa como signo de urgência, e a musicalidade dos versos.
João Cabral de Melo Neto é um dos autores nordestinos de maior influência na nossa literatura. O poeta do Recife usa o regionalismo para contar a saga de Severino, um sertanejo que migra para a cidade com o intuito de melhorar de vida. A narrativa é contada em primeira pessoa, com a perspectiva do protagonista e, ao desenrolar dos fatos, vemos diversos cenários.
“Torto arado” teve grande repercussão após ser vencedor do Prêmio Oceanos e do Prêmio Jabuti, ambos da muita importância no nosso universo literário. Autor de “Salvador”, Itamar Vieira Júnior escreveu uma ficção para abordar questões de extrema relevância: a vida no campo e a escravização contemporânea. Itamar desponta como um dos autores nordestinos de grande expressão na literatura atual.
O livro de Bell Puã é marcado pelos versos poéticos que mostram muita força e resistência. Ela escreve como forma de combater o racismo e o machismo, além de fincar o lugar de empoderamento da mulher negra. Artista do slam (batalhas de poesia), Bell foi indicada ao Prêmio Jabuti de Poesia por este livro.
Adelaide Ivánova escreve “O martelo” como forma de combater as estruturas do machismo presentes na sociedade. Com poemas ácidos, políticos e enfrentadores, a poeta e fotógrafa do Recife desponta como um dos grandes nomes da poesia brasileira contemporânea.
Uma senhora de idade conta detalhes muito pessoais de sua vida sexual. Esse é o mote principal de “A casa dos budas ditosos”. Nele, João Ubaldo Ribeiro compõe uma personagem que não tem o menor pudor de explanar a sua intimidade. O livro foi adaptado para o teatro, em um monólogo interpretado pela atriz Fernanda Torres.
“Memorial de Maria Moura” é o último romance da escritora de Fortaleza, Rachel de Queiroz, e tido como um dos seus maiores feitos literários. O livro tem um tom bastante regionalista e conta a história de Maria Moura, que fica órfã com apenas 17 anos, quando seus familiares começam a querer roubar suas terras de direito. Tormuo-se uma famosa minissérie na televisão, em que a protagonista foi interpretada por Gloria Pires.
Impossível fazer uma lista cultural do Nordeste e não citar Ariano Suassuna, um dos maiores e mais reconhecidos autores nordestinos. Seus livros contam histórias com muito humor e regionalismo. Em “Auto da Compadecida” não é diferente. Escrito originalmente para o teatro, os protagonistas Chicó e João Grilo atravessam situações na seca nordestina e lidam com personagens típicos daquele cenário, como padres e cangaceiros. A história ficou muito famosa quando ganhou uma adaptação para a televisão.
O pernambucano Marcelino Freire conta histórias de brasileiros em situações de pobreza. Ao longo de 16 narrativas, ele relata momentos extremos, nos quais as personagens precisam abdicar de seus valores morais para conseguirem sobreviver.
A cordelista Izabel Nascimento reuniu os escritos publicados nas suas redes sociais e os publicou em “Sementes de girassóis”. O livro trata, majoritariamente, de temas como a alegria e a arte. É uma boa oportunidade para conhecer a literatura de cordel contemporânea.
Outra oportunidade de adentrar no que está sendo feito de novo na cena do cordel é o livro de Jarid Arraes. Ela conta, com o lirismo típico do cordel, a história de mulheres negras que tiveram e têm relevância na História do Brasil. A poeta, de Juazeiro do Norte, é um dos nomes relevantes da literatura atual.
A escrita do maranhense Aluísio de Azevedo é marcada pelo forte naturalismo, e em “O mulato” não é diferente. O livro conta a história de Raimundo, um jovem que retorna ao Maranhão após estudar direito fora do país. Filho bastardo, ele precisa enfrentar diversos preconceitos, inclusive o racial, ponto central desta história. É um clássico da literatura brasileira escrito por um dos mais renomados autores nordestinos.
Este livro é tido como um grande marco na nossa literatura. Fala sobre a decadência dos engenhos no Nordeste do início do século XX. Foi o primeiro romance do paraibano José Lins do Rego, que o publicou de forma independente. Culminou num grande sucesso que pode, até hoje, ser usado como referência para entender o Brasil pós-colonialismo.
Este é o único livro do poeta nascido em Cruz do Espírito Santo, na Paraíba. Com uma escrita parnasiana, o livro tem um tom intimista e fala de temas melancólicos. Publicado em 1912, ganhou notoriedade somente dois anos depois da morte de Augusto. É, até hoje, um título importante para pensar a literatura nordestina e brasileira.
Nascido no Ceará, Xico Sá utiliza as memórias da sua juventude para contar a história de um garoto que percorre as ruas do Cariri, no caminhão de seu pai. Cenários, pessoas e percursos fazem parte do retrato afetivo narrado por ele. Virou filme em 2015.