Para ter conhecimento das plantas, não há melhor opção do que ter um herbário. Confira aqui o que é e como montar seu próprio herbário.
Para ter conhecimento das plantas, não há caminho mais seguro, mais satisfatório, que criar seu próprio herbário. O termo hoje significa o que o naturalista sueco Carolus Linnaeus, do século XVII, chamava de herbarium vivum: uma coleção de plantas ou partes de plantas colhidos no mato ou no jardim, trituradas e secas, e depois dispostas para permanente exibição e referência.
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A seguir, entenda como funciona um herbário, qual é sua importância e descubra como você pode montar um por conta própria.
O que o herbário te ensina
As várias atividades envolvidas na criação de um herbário — procurar, identificar, colher, triturar e secar plantas — são na verdade uma educação prática sobre a diversidade das formas e estruturas das plantas, e como as espécies diferem entre si.
Começando com apenas umas poucas espécies, o estudioso das plantas pode ampliar o herbário numa coleção cada vez maior. Cada nova espécie positivamente identificada torna-se uma referência permanente para comparar com outros espécimes colhidos em futuras expedições no campo.
Um herbário é portanto mais que uma exposição atraente. Pode ser usado como um instrumento de busca funcional que revela as diferenças sempre intrigantes que ocorrem entre membros individuais de uma mesma espécie.
Coletando espécimes
Não é necessário equipamento sofisticado e caro para a coleta de espécimes de plantas que irão compor um herbário. Para cortar brotos ou galhos, use um canivete de lâmina forte e afiada — ou uma tesoura resistente.
Tenha uma pá de jardinagem para desenterrar raízes ou troncos subterrâneos, algumas sacolas de plástico (para transportar os espécimes), um caderno de notas e um lápis. É tudo o que você precisa como equipamento essencial. Os praticantes cautelosos também usam luvas para proteger-se de arranhões ou do contato com plantas tóxicas como as urtigas.
Qual extensão tem de ser cortada da planta e quanto desenterrar da raiz?
Isso depende sobretudo do tamanho da prensa de plantas e das placas de montagem que o colecionador planeja usar. As prensas menores — digamos, de 20 por 30 cm, ou mais ou menos o tamanho de uma folha de papel A4 — são mais práticas para se levar nas idas ao campo, possibilitando ao colecionador prensar os espécimes imediatamente após colhê-los.
O fato de serem pequenas, porém, limita os espécimes que podem ser colhidos e prensados elas, pois mesmo algumas folhas individuais de muitas plantas não se encaixam nessas dimensões. Os botânicos profissionais, de universidades e museus, preferem folhas de herbário maiores, que chegam a ter 30 por 40 cm, possibilitando melhor exposição das plantas e suas partes.
A folha de herbário ideal deve exibir, intactas, todas as partes significativas de um espécime colecionado, incluindo raiz, caules, folhas (de frente e de costas), botões, flores e frutos. Para preservar esses espécimes, os botânicos empregam vários métodos de prensagem e secagem. Mas com pouca ou nenhuma despesa, qualquer um pode montar uma prensa de planta eficaz, obtendo o mesmo efeito.
Cuidado ao colher espécimes
Um esforcinho a mais nas idas ao campo poupa tempo a longo prazo, e também aumenta o valor herbário como fonte de pesquisa. Por exemplo, como algumas espécies são identificadas pela disposição das folhas, tenha o cuidado de cortar um pedaço suficiente do caule ou galho para mostrar como as folhas se ligam a eles.
Como as plantas mudam de estação para estação, é bom colher espécimes no mesmo lugar em diferentes épocas do ano. As flores de primavera de uma planta prensadas num herbário, por exemplo, complementam magnificamente seus frutos de verão. Para as árvores e arbustos decíduos, alguns galhos colhidos no inverno mostram a estrutura e a disposição dos botões latentes.
Mantendo registros
Registros precisos são a alma das coleções científicas. Não adie as anotações com a desculpa de que será melhor fazê-las “depois”, talvez com mais tempo. No próprio local de coleta, anote data, lugar, tipo de hábitat (floresta, savana, pântano), condições específicas de crescimento (sombra ou sol, área úmida ou seca, espécies vizinhas) e outras observações pertinentes, como a abundância da planta na área e o efeito (se houve algum) da atividade humana em seu ambiente.
Outras informações sobre a própria planta que podem perder-se depois que ela estiver seca e montada (altura, cheiro e cor) devem ser registradas, para facilitar a identificação positiva posterior. A casca e a forma geral das árvores são importantes sinais de identificação; podem ser descritas em palavras ou por meio de esboços gerais desenhados no caderno de notas.
Use etiquetas
Mantenha as notas ou uma etiqueta de número correspondente a elas junto aos espécimes até a montagem. As notas são os dados brutos para a ficha que descreverá os espécimes montados no herbário. Os botânicos são números consecutivos a cada planta que coletam; o número de uma planta corresponde ao número da nota de campo feita no caderno. É importante usar números que nunca se repitam — geralmente uma série de números consecutivos que abranja toda a carreira do colecionador, ou um número composto que incorpore o ano, por exemplo, 063/21.
Duplicatas
O número designa uma coleção específica num lugar e tempo determinados, não uma espécie. Pode incluir duas ou mais duplicatas de uma mesma espécie, que devem, até onde possível, ser retiradas da mesma planta simultaneamente e exibir partes equivalentes.
O valor dos espécimes em duplicata é que, enquanto um é guardado pelo colecionador, o outro pode ser mandado para identificação por um especialista, que talvez queira guardá-lo em troca desse serviço. As duplicatas também também podem ser trocadas entre colecionadores.
Uma vez colhidos, os espécimes devem ser manuseados com cuidado, para impedir que se quebrem, estalem, sequem ou murchem. Manter os espécimes frescos nas sacolas de plástico é preferível a expô-los ao efeito desidratante do ar; mas isso significa uma vantagem pequena em termos de tempo. Quanto mais cedo o colecionador começar a prensar, melhor será o resultado final dos espécimes expostos no herbário.
Fazendo e usando uma prensa de planta
Independentemente de tamanho ou complexidade, todas as prensas de plantas têm em comum duas características simples: algum tipo de material para absorver a umidade e uma fonte de pressão. Por exemplo, pode-se usar jornais para absorver a umidade, e livros pesados para fazer pressão.
Construa sua prensa
Fazer uma prensa de plantas é apenas um pouco mais complicado. Reserve uma pilha de jornais velhos. Depois, consiga duas tábuas de compensado grossas, de cerca de 30 por 40 cm — mais ou menos do tamanho da página de um tabloide padrão. Se planeja montar os espécimes em papel A4, o tamanho da prensa deve basear-se no tabloide dobrado em dois — cerca de 20 por 30 cm.
Alguns colecionadores preferem que o compensado tenha furos, para que a prensa fique mais ventilada. Uma alternativa é a tradicional prensa de “treliça”, ripas de madeira unidas por pregos. Para aplicar pressão duas correias com fivelas corrediças serão bastante eficazes, como também dois cinturões, ou mesmo dois pedaços de corda simples. Para uma prensa em todo o seu tamanho, cada correia ou corda deve ter aproximadamente 1,8 m de comprimento.
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Ponha uma tábua de compensado sobre as duas correias, e quatro ou cinco folhas de jornal dobradas em cima da tábua. Arrume um ou mais espécimes na folha de cima. O número de espécimes dependerá de seu tamanho e forma. A posição e a arrumação de cada espécime nessa posição devem ser consideradas permanentemente, pois quando ele secar se tornará quebradiço.
Incluindo os espécimes
A maioria dos colecionadores opta pela aparência mais natural possível — ou seja, mais parecida com a planta viva, intocada. Os talos mais longos podem ser dobrados em ziguezague ou cortados em pedaços. Algumas folhas devem ser postas com o lado de cima à vista, e outras com o lado de baixo, uma vez que se pode precisar dos dois para a identificação. As partes grossas, como os talos, devem ser divididas ao meio para apressar a secagem e evitar volumes indesejáveis na prensa.
Certifique-se de incluir, com o espécime em secagem, suas notas de campo, ou, melhor ainda, o número de coleção; não corra o risco de perder esse valioso documento. Para afixar os números de coleção de maneira prática, utilize pequenas etiquetas que possam ser amarradas, em geral vendidas nas papelarias como “etiquetas de joalheiro”.
Escreva o número a lápis e amarre cada etiqueta ao espécime logo depois de colhê-lo — a etiqueta fica então permanentemente amarrada, mesmo quando o espécime já estiver seco e montado.
Processo de montagem
Sobre o primeiro espécime, ponha mais quatro ou cinco camadas de jornal, e em seguida o espécime ou espécimes seguintes. Continue acrescentando camadas de jornal e espécimes sucessivamente até completar todas as coleções do dia. Não se assuste se a pilha atingir uma altura de 60 cm ou até mais, desde que possa evitar que ela desmorone, pois ela será reduzida à metade da altura assim que você apertar as correias.
Se pretende usar calor artificial para secar as plantas, folhas de papelão corrugado dispostas em intervalos frequentes permitirão que o ar circule pela pilha, acelerando o processo de secagem.
Finalmente, ponha a segunda tábua de compensado em cima da pilha e aperte as correias em torno de toda a prensa, aplicando ao mesmo tempo o peso do seu corpo com o joelho ou pé.
A secagem de espécimes pode ser conseguida com ou sem calor artificial. Se a secagem é natural, você precisará abrir a prensa a cada dois ou três dias (diariamente em caso de tempo quente e úmido) e substituir os jornais úmidos por outros. Ponha a prensa num lugar seco, bem ventilado e quente.
Se um espécime é grosso ou suculento demais, certifique-se de que tenha mais camadas de jornal de cada lado. Após uma ou duas semanas na prensa, quase todos os espécimes estarão suficientemente secos para a montagem, e mesmo as partes mais suculentas devem ficar prontas em menos de um mês.
O calor artificial reduz a necessidade de trocar os jornais, sobretudo se você utilizar papelão corrugado na prensa. São várias as fontes de calor possíveis. Colocar a prensa sobre uma fonte de calor na cozinha ou na área de serviço muitas vezes funciona.
Montando o herbário
Não se exige grande conhecimento especial para criar um herbário. Fora os espécimes de plantas secas, os materiais necessários para essa atividade podem ser encontrados na maioria das papelarias.
Antes de montar
É importante decidir, ainda num estágio inicial, a forma como os espécimes de plantas serão montados e guardados. Para um herbário de referência compacto, o formato mais conveniente é o A4 (210 por 297 mm), que é hoje o padrão internacional para papel de anotação e lauda de computador usado em todo mundo (com exceção dos Estados Unidos). Os espécimes de plantas montados em folhas A4 (de papel ou cartolina) podem ser encadernados, com ou sem um invólucro de plástico em cada folha.
Como se observou antes, o formato A4 limita o tamanho das partes da planta a serem expostas numa única página. Por esse motivo, a maioria dos herbários de universidades e outras instituições de pesquisa usa um tamanho maior, em geral 30 por 45 cm, ou pouco menor do que isso.
Esse formato representa uma despesa maior, pois exige papel ou papelão feitos sob encomenda e instalações de armazenamento especiais. Por esse motivo, é mais prático para amador montar os espécimes em A4, mesmo que isso implique dividir a planta em duas ou mais páginas.
Como montar
Cole ou pregue com fita adesiva, cuidadosamente, cada espécime numa folha de papel branco ou papelão pesado. Use cola branca ou comum, ou mesmo fita adesiva transparente. Não use de modo algum fita adesiva padrão, de uso doméstico, pois ela se parte apenas um dois anos depois de ser usada.
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É melhor o tipo transparente de fita adesiva, embora ela também tenha um tempo de vida limitado. O melhor, no entanto, é usar uma fita de longa vida, que se encomenda especialmente a alguns distribuidores e pode ser encontrada em boas papelarias.
Quando estiver arrumando um espécime numa página do herbário, lembre-se sempre de deixar espaço suficiente para a etiqueta — a maioria dos colecionadores a prega no canto inferior direito. A etiqueta deve incluir o nome científico (gênero e espécie), nome ou nomes populares, data e local da coleta, e qualquer outra informação importante das notas de campo.
Faça fichas
As circunstâncias referentes a como, quando e onde a planta foi colhida são muito importantes. O especialista botânico poderá identificar o espécime anos depois, mas só as notas do colecionador podem contar a história “pessoal” daquele espécime.
A ficha pode ser escrita a mão ou impressa. Os colecionadores que usam computadores podem armazenar os detalhes de suas coleções num banco de dados e gerar fichas a partir dele.
Com uma impressora a laser ou equivalente, a ficha pode ser impressa diretamente num canto da folha de montagem, dando à coleção de plantas uma aparência clara, profissional — resultado de que você poderá desfrutar por muitos anos.
Seja qual for o lugar que você escolha para guardar seus espécimes montados, em caixas de papelão, gavetas, armários ou fichários, será necessário utilizar algum sistema de ordenação. O critério pode ser a classificação científica, hábitat ou algum outro esquema lógico, como a simples ordem alfabética. Isso tornará bem mais fácil o acesso à coleção — e mais agradável seu manuseio.
Fotografia ou herbário?
Fotografias podem complementar eficazmente — mas não substituir — o herbário como fonte de pesquisa e referência. Servem sobretudo para documentar as plantas vivas, em particular suas cores, ambiente e transformações segundo as estações.
Tire boas fotos
Qualquer boa câmara de 35 mm reflex de lente única (RLU), produz estudos de plantas bem detalhados. A câmera RLU permite-nos ver a imagem exata que vamos registrar — uma preocupação especial quando se fotografa um objeto pequeno à curta distância.
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Se você não tem uma câmera RLU, não desista. Pode fazer boas fotos de espécimes, mais simples e menos caras, mas deve-se lembrar que não poderá produzir bons resultados a distâncias menores do que 1,2 m.
Quando se fotografam plantas em close, todo movimento é ampliado. Uma leve brisa sobre a planta ou uma mão trêmula segurando a câmera pode resultar numa imagem borrada. Os profissionais montam suas câmeras num tripé, e muitas vezes escoram a planta ou armam ao seu redor um quebra-vento de papelão.
Uma alternativa mais fácil é usar filme de alta velocidade, que permite congelar o movimento com uma velocidade de obturador de 1/250 ou 1/500 de segundo. Isso também aumenta a profundidade de campo, permitindo o uso de menores aberturas de lente. Uma grande desvantagem do filme de alta velocidade, porém, é que ele tende a sofrer uma certa perda de qualidade de imagem.
Fotografia não substitui herbário
A fotografia, apesar de suas vantagens, jamais pode substituir os espécimes de plantas reunidos num herbário. Só eles transmitem a textura e percepção de uma planta, e em muitas espécies proporcionam identificação positiva.
Isso se aplica em particular a espécies estreitamente relacionadas, onde pode ser necessário o exame com uma lente de aumento ou microscópio para determinar a identidade da planta. Mas as duas técnicas — fotografia e espécimes secos — atuam juntas maravilhosamente.