Fatos fascinantes sobre cidades invisíveis

Descubra como um aparelho bem diferente tem ajudado arqueólogos a descobrirem cidades perdidas invisíveis por conta da vegetação densa.

Douglas Ferreira | 1 de Janeiro de 2021 às 01:02

Cortesia de Pacunam/Canuto & Auld-Thomas -

Geralmente, pensamos que a arqueologia envolve exploradores intrépidos e muitas escavações meticulosas. Mas hoje cidades escondidas há muito tempo estão sendo reveladas pelo ar, e os arqueólogos modernos usam fachos de laser para encontrar indícios de vida antiga enterrados sob a vegetação densa.

O lidar, abreviação de “light detection and ranging” (exploração e detecção luminosas, primo do radar, que se baseia no rádio), envolve enviar para o solo, de um avião ou drone, uma sucessão rápida de pulsos de laser – de 100 mil a 400 mil por segundo. Um software registra o tempo e o comprimento de onda dos pulsos refletidos pela superfície e os combina com dados de GPS e outros para produzir um mapa tridimensional preciso da paisagem abaixo. Essa exploração tecnológica revelou cidades maias há muito enterradas, como Tikal, na selva densa da Guatemala, e Caracol, no Belize.

Conheça Angamuco: a cidade perdida invisível

Nos últimos anos, o lidar revelou no oeste do México uma grande cidade antiga chamada Angamuco. A descoberta dessa perdida metrópole mexicana tem importância especial. Construída pelos purépechas, rivais dos astecas, Angamuco era uma grande civilização no início do século 16, antes da chegada dos europeus.

“Pensar que essa cidade imensa existia no interior do México todo esse tempo e que ninguém sabia que ela estava lá é espantoso”, diz Chris Fisher, arqueólogo da Universidade do Estado do Colorado que comandou a expedição.

A cidade se estendia por mais de 25 km² antes de ser coberta por uma erupção de lava.

“É uma área enorme com muita gente”, diz Fisher. “Estamos falando de alicerces de cerca de 40 mil edificações – mais ou menos o mesmo número que há na ilha de Manhattan.”

Os arqueólogos se surpreenderam ao ver a planta da cidade de Angamuco. Os monumentos dos purépechas – as pirâmides e praças da cidade – se concentravam principalmente em oito zonas da periferia, em vez de se localizarem num único grande centro. Por que esse tipo de planta quase igual à de Los Angeles? Os historiadores também buscam essa resposta.

A descoberta de Angamuco é um ótimo exemplo da potência e das possibilidades do lidar

Os arqueólogos descobriram, em 2007, sinais da cidade enterrada e, a princípio, tentaram explorá-la com a abordagem tradicional de “botas no chão”. Mas a equipe logo percebeu que, no terreno acidentado, precisaria de pelo menos uma década para delinear a metrópole toda.

Em 2011, eles começaram a usar o lidar para mapear quase 36 km2, e uma série espantosa de construções se revelou: pirâmides, templos, ruas, jardins e até salões de baile. Isso lhes deu o “mapa” de que precisavam para saber onde explorar. Até agora, Fisher e sua equipe verificaram mais de 7 mil obras arquitetônicas numa área de quatro quilômetros quadrados, com escavações realizadas em sete locais. Entre os artefatos mais antigos há fragmentos de cerâmica e outros remanescentes datados de 900 d.C.

No total, os pesquisadores acreditam que mais de 100 mil pessoas moraram em Angamuco, de cerca de 1000 d.C. a 1350 d.C. Isso faz dela a maior cidade do oeste do México na época – ou, pelo menos, a maior que conhecemos até agora.

“Para onde quer que apontemos o lidar, achamos coisas novas”, diz Fisher. “Agora, todos os livros didáticos têm de ser reescritos. Daqui a dois anos terão de ser reescritos novamente.”

POR NICOLA DAVIS DO THE GUARDIAN