Especialistas dão conselhos para os pais e explicam como eles podem auxiliar as crianças e os adolescentes no ensino à distância.
Julia Monsores | 17 de Junho de 2021 às 18:30
Definitivamente a pandemia da Covid-19 transformou radicalmente os hábitos de toda a humanidade. Algo que lá no começo, há pouco mais de um ano, pensávamos ser uma situação rápida e provisória mostrou-se muito mais séria e duradoura e os efeitos devastadores, também sobre o lado emocional e psicológico, vieram sob várias formas e atingindo todas as faixas etárias.
Se boa parte dos adultos precisaram aprender a trabalhar em casa, fazer reuniões via videoconferência, criar uma rotina e ter um espaço para as atividades profissionais, mesmo estando dentro do lar, crianças e adolescentes foram obrigadas a usar uma maturidade que, na maioria dos casos, ainda não têm, para aprender à distância, através de aulas online, longe da sala de aula e da saudável convivência com colegas e professores.
“O principal desafio dos estudantes não é propriamente o aparato tecnológico disponível ou falta de tempo, mas sim a ausência do equilíbrio emocional, de um ambiente tranquilo em casa e a dificuldade de organização para o estudo à distância”, ressalta Rogéria Sprone, diretora pedagógica do Colégio Joseense, em São José dos Campos, no interior de São Paulo.
Segundo a profissional de educação, muitos alunos sinalizam a falta que têm sentido dos professores, do ambiente escolar e dos amigos. “Eles falam que valorizam isso, agora, muito mais que antes da pandemia. Parece que precisavam estar limitados para valorizar todo o processo escolar e entender que sozinhos tudo fica mais difícil de conseguir”, analisa Rogéria.
Em situações normais, ou que deveriam ser, passamos muito tempo de nossas vidas na escola e, estar inserido em uma instituição de ensino, constitui uma experiência organizadora central na vida da maioria das crianças e adolescentes. “Além de obtermos informações e conhecimentos importantes, é na escola que aprendemos novas habilidades, participamos de atividades, sejam elas esportivas ou artísticas, e ainda fazemos muitas amizades”, lembra a diretora do colégio Joseense.
E Rogéria ainda toca num ponto primordial da vida acadêmica que é a socialização do indivíduo. “Por se tratar de um ambiente coletivo, é onde jovens e crianças aprendem a conviver em sociedade e adquirir valores, além dos já inseridos pela família”, explica a diretora pedagógica.
E para os pais ou responsáveis de menores na fase escolar, Rogéria listou uma série de dicas simples para melhorar o estudo à distância e as aulas online. Confira:
Um ponto que não deve ser deixado de lado em toda essa situação que estamos vivendo é sobre os cuidados que precisamos ter com a parte emocional dos estudantes. Se para nós, adultos, já é algo pesado e difícil de encarar, imagina para uma criança ou adolescente, que ainda não tem um repertório formado para lidar com os altos e baixos?
O Psicanalista e Coach Júnior Silva explica que muitos jovens estão desestabilizados com todo o quadro da pandemia e as mudanças sofridas na rotina.
“O grande problema que vejo é que eles estão retendo esses sofrimentos e só descobrimos quando as coisas estão saindo de controle. No meu consultório houve aumento de quase 300% a procura de pais dizendo que seus filhos confessaram que estão vivendo uma tristeza profunda e que não veem mais sentido da vida”, alerta Júnior.
O profissional chama a atenção, ainda, para outra pandemia que está por vir e, também pode causar sérios danos às pessoas e, em especial nesse caso, aos jovens em fase escolar.
“Está chegando a pandemia emocional e as pesquisas nos mostram o quanto a ansiedade e a depressão tem aumentado de forma descontrolada em nosso pais. Temos o costume, infelizmente, de procurar ajuda emocional somente quando o estado e grave. O ideal é buscar um atendimento especializado assim que surgem os primeiros sintomas, como em qualquer doença física”, explica o psicanalista.
E o que fazer para ajudar nossos jovens estudantes a equilibrarem o lado emocional diante de tantas transformações pelas quais eles têm passado no último ano? Júnior afirma que o essencial é que o adulto entre mais no mundo dos menores, para fornecer a eles segurança.
“O caminho é entrar no mundo do seu filho e não ele no seu. Pense bem: você já teve a idade dele e ele viver o universo de um adulto é algo que exige uma experiência de vida que os jovens ainda não têm”, analisa Júnior, frisando que é essencial que os pais mostrem o quanto o mundo do jovem é importante para eles (os pais, mães, ou responsáveis pelo estudante).
“Tudo que seu filho quer é abrigo no mundo deles por parte das pessoas que eles mais confiam, que é você. Alguém que entenda suas aflições, necessidades e sentimentos é tudo que os adolescentes ou as crianças desejam, principalmente diante das circunstâncias que temos vivido”, completa.
Júnior ainda dá mais um conselho para os pais, principalmente aos que se sentem culpados ou sentem não lidar bem com esse momento de alterações na rotina escolar: não sinta culpa!
“Pai, mãe (ou qualquer que seja o responsável pela criança), você também é vítima de tudo o que estamos vivendo, por isso se culpe menos e viva o hoje. A culpa nos leva a uma condenação de algo que somos vítimas também. Você não está sozinha(o) neste aprendizado, pois o erro faz parte da vida. Quem aprendeu a falar e a andar de primeira? NINGUÉM! Aprendemos mais com erros do que acertos, mas permanecer no erro é uma opção sua e isso que não podemos permitir. Confie na sua paternidade e maternidade e viva o amor que tudo dará certo. O amor salva e liberta”, pontua o Psicanalista, fazendo um carinho nos pais que também andam tão necessitados de compreensão.