A cidade de Beirute, capital do Líbano, ainda tenta se recuperar do abalo causado pela grande explosão que atingiu a zona portuária da região na última Um dia após a explosão que atingiu a zona portuária de Beirute, no Líbano, veja quais são as respostas para o acidente e o que ainda está sendo investigado. % %
Paula Vieira | 6 de Agosto de 2020 às 17:33
A cidade de Beirute, capital do Líbano, ainda tenta se recuperar do abalo causado pela grande explosão que atingiu a zona portuária da região na última terça-feira, deixando mais de 137 mortos, 5 mil feridos e 300 mil desabrigados.
As causas do desastre estão sendo investigadas pelas autoridades e o país está em estado de emergência. Veja abaixo as respostas obtidas até o momento e o que ainda é dúvida.
O governo libanês declarou que o acidente foi causado pelo armazenamento inadequado de 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam no porto há seis anos.
A substância tem potencial explosivo, e uma das principais suspeitas é de que um incêndio ocorrido no local tenha resultado na tragédia.
O composto NH₄NO₃ é um sal produzido a partir da amônia e ácido nítrico. Além de ser utilizado como matéria-prima de explosivos para mineração e para controle do odor em estações de tratamento de esgoto, o nitrato de amônio é um produto usado como fertilizante por agricultores, para fornecer componentes essenciais para o crescimento das plantas, como nitrogênio, fósforo e potássio.
O nitrato de amônio não explode sozinho, mas seu potencial explosivo aumenta se ele estiver em contato com temperaturas acima de 300 ºC ou com combustíveis. No processo, a substância entra em decomposição e libera gases que geram ainda mais calor em um espaço confinado. Assim, é causado um efeito panela de pressão, que vai resultar na explosão.
Sim. Inclusive, o nitrato de amônio foi usado em algumas explosões registradas ao redor do mundo. Veja alguns casos:
Texas City – EUA (1947): Um incêndio em um navio resultou na explosão de 2.300 toneladas de nitrato de amônio. A explosão que ainda é considerada uma das mais potentes da história deixou 173 mortos e 5 mil feridos.
Oklahoma – EUA (1995): Em um atentado terrorista, dois extremistas americanos estocaram em uma van um artefato com duas toneladas da substância misturada a outro agente, causando a explosão de parte de um prédio. 160 pessoas foram mortas e 680 ficaram feridas.
Tianjin – China (2015): O armazenamento indevido da substância por uma empresa de logística geraram duas explosões no porto de Tianjin e os incêndios causados pelo acidente causaram mais oito explosões. 173 pessoas foram mortas, a maioria bombeiros.
Investigadores buscam o culpado pela tragédia, mas nenhum grupo terrorista reivindicou a autoria de um possível ataque. O material armazenado no porto estava sob responsabilidade do governo libanês.
Ainda na quarta-feira, autoridades portuárias que atuavam no local desde 2014 foram colocadas em prisão domiciliar. Mas ainda não se sabe se houve interferência humana no acidente. Enquanto isso, a população de Beirute acusa o governo de má gestão, corrupção e negligência.
Segundo dados oficiais obtidos pela Al Jazeera, o material chegou ao Líbano em setembro de 2013 e desde então estava armazenado em um galpão no porto da capital. A carga estaria sendo transportada em um navio que ia da Geórgia para Moçambique, mas parou em Beirute devido a problemas técnicos.
Chefes da alfândega libanesa teriam enviado ao menos seis cartas à Justiça e outras autoridades solicitando que um novo destino fosse dado ao material, mas não tiveram respostas.
À imprensa internacional, alguns especialistas afirmaram que a explosão em Beirute teve intensidade de um quiloton. Para se ter ideia, a bomba atômica de Hiroshima foi detonada no Japão, em 1945, com 16 quilotons de intensidade.
Além dos 137 mortos, 5 mil feridos e 300 mil desabrigados, dezenas de pessoas continuam desaparecidas, segundo o porta-voz Rida Moussaoui, e os bombeiros seguem em busca de corpos.
Em meio a essa crise, há uma grande preocupação no Líbano em relação a política, economia e saúde. O ministro da Saúde Pública, Hamad Hassan, declarou que o país não tem condições suficientes para tratar os feridos, pacientes em estado crítico devido à explosão e vítimas da Covid-19, que tendem a aumentar nos próximos dias.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a explosão deixou três hospitais de Beirute inoperantes e dois danificados. Com isso, pacientes estão sendo transferidos para todo o país.
Localizada no centro de Beirute, próxima à área portuária, a embaixada brasileira teve os vidros das janelas quebrados, equipamentos danificados e o forro do teto caiu. Veja o que disse o Itamaraty em nota:
“As salas voltadas para o local da explosão foram mais afetadas, com janelas estilhaçadas, desabamento do forro do teto, mobília e computadores seriamente danificados (…) Por outro lado, salas e escritórios voltados para a cidade foram poupados.”.
Segundo o presidente Jair Bolsonaro, o Brasil fará ‘gesto concreto’ para ajudar Líbano depois de explosão.
As principais ruas do centro da cidade amanheceram com fachadas de edifícios destruídas, veículos quebrados e ruas cobertas por escombros. Estimativas indicam que 85% dos grãos importados pelo país estavam estocados nos armazéns que foram destruídos, reduzindo a reserva de grãos de todo o Líbano para menos de um mês.
Devido aos últimos acontecimentos, Catar, Irã, União Europeia, Rússia, Tunísia e Turquia estão enviando ao Líbano suprimentos de emergência. Nesta quinta, o presidente da França, Emmanuel Macron, visitou o local da explosão e enviou equipes especializadas em busca para a região atingida.
O governo libanês calcula que a tragédia causou danos que podem chegar a US$ 5 bilhões (R$ 26,5 bilhões). O Banco Mundial disse que está disposto a se mobilizar por apoio financeiro para ajudar na reconstrução do país, que já enfrenta uma grave crise econômica.