Você já pensou que unir o útil ao agradável pode fazer com que algo tenha mais chance de dar certo? A psicóloga e atleta Maíra Pita e o pedagogo Rian Maia
Márcio Gomes | 21 de Abril de 2019 às 20:00
Você já pensou que unir o útil ao agradável pode fazer com que algo tenha mais chance de dar certo? A psicóloga e atleta Maíra Pita e o pedagogo Rian Maia não só pensaram, como puseram esse princípio em prática.
Eles uniram o mar, a natação e a prancha de stand-up paddle a um trabalho terapêutico de fortalecimento e formação nas areias das praias do Arpoador e de Copacabana. Parece a descrição de um dia de lazer? Pois é assim que funciona o projeto Elas no Mar Social.
Criado pela Maíra e pelo Rian, em setembro de 2018, o projeto-piloto atende a 18 meninas, dos 12 aos 17 anos, estudantes da Escola Municipal Marília de Dirceu, em Ipanema.
“Para participar, elas precisam estar matriculadas e manter a frequência na sala de aula”, explica Maíra.
O primeiro passo da dupla foi fazer uma seleção na escola através de entrevistas com jovens que se encontravam em situação de fragilidade social, que já tinham vivenciado a violência.
“O nosso foco não é o assistencialismo, e sim promover a formação delas para que se fortaleçam e multipliquem essa metodologia na vida”, explica Maíra.
Com dois encontros semanais de três horas, as participantes das turmas do Elas no Mar Social seguem uma rotina: aquecer, entrar na água, aprender as técnicas da natação e depois remar na prancha do stand-up paddle.
Além do contato com a natureza e da criação de vínculo entre elas, a atividade no mar permite que tenham outra visão da cidade e de suas belezas naturais das quais nem sempre elas têm a chance de desfrutar.
Depois das atividades na água e do lanche, fornecido por um patrocinador, uma roda se forma na areia. É quando todas têm seu lugar de fala.
“Temas importantes para elas são abordados, como violência doméstica, abuso sexual, entre outros. São elas quem escolhem sobre o que desejam falar. Na própria roda, a gente pergunta o que iremos conversar e ali surgem os tópicos, e todas dão a sua opinião”, destaca Rian. Na semana desta reportagem, a pauta foi educação sexual.
Terminado esse momento reflexivo, nos primeiros meses as meninas retornavam para casa. Hoje elas voltam para a água: tiram fotos, mergulham e se divertem.
“Agora, elas se acolhem. Quando uma está fragilizada, a outra amiga chega e pergunta o que está acontecendo. Elas se abraçam, identificam-se. E isso é lindo. No começo, quase nem se falavam, era um isolamento grande”, atesta Rian.
“É bonito vê-las se fortalecendo como grupo”, complementa Maíra. “Formando essa irmandade feminina, percebendo que somos mais fortes se estivermos unidas. E vejo isso acontecer entre elas. O projeto ganha corpo, forma, e isso me dá um amor que você não imagina.”
O Elas no Mar Social é tão importante para as meninas, que, moradoras das comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, e também da Rocinha e da Maré – locais distantes da escola e do projeto –, todas marcam presença e não perdem uma só aula.
“Temos uma aluna que vem sozinha. E eu e a mãe monitoramos seu trajeto pelo celular”, conta Maíra, carinhosamente chamada de “tia” por todas as meninas.
“É muita troca. A gente recebe o afeto que a gente dá. Elas falam que sou a segunda mãe delas. E eu me sinto cada vez mais tomada por esse olhar pelo social, pelo desejo de fazer por essas meninas e por mim. É um alimento para o corpo e a alma.”