Ídolo de clubes, como Vitória, Cruzeiro e Hertha Berlim, o atacante baiano Alex Alves faleceu vítima de uma doença que guardava em segredo.
Somente em outubro de 2012, quando a mídia começou a noticiar sua presença no Hospital Amaral Carvalho, em Jáu (SP), é que fãs e colegas do jogador tomaram consciência de sua doença, apenas algumas semanas antes de sua morte.
Durante boa parte de sua carreira, Alex manteve em segredo que sofria de hemoglobinúria paroxística noturna (HPN), uma doença rara e devastadora, que o atacante descobriu em 2007. Essa condição afeta a medula óssea, comprometendo a fabricação de sangue no organismo e protagonizando quadros de dores abdominais e trombose.
Ninguém sabia de seu estado de saúde, com excessão de sua única filha, Alexandra. Como os pais eram separados, Alexandra visitava muito seu pai em Salvador, quando percebeu que algo não estava certo.
"Eu tinha uns 9, 10 anos, e ele começou a ter problemas nos rins, teve que fazer uma cirurgia", disse a filha ao portal UOL. "Ele sempre foi discreto, porque era uma pessoa muito vaidosa. Mas eu fui percebendo que ele estava cada vez mais fraco, a coloração da pele foi mudando, e ele me contou que estava doente. Ele estava mais fraco, com menos dinheiro, aquilo tudo mexeu muito comigo".
Embora em más condições, Alex tinha de manter o sustento de sua família de origem e de sua filha. Em 2003, o jogador havia abandonado seu contrato no clube alemão Hertha Berlim para voltar aos campos brasileiros, onde os pagamentos, seja do Atlético-MG, Vasco ou Vitória, andavam atrasados. Com problemas financeiros, a única solução era continuar jogando.
Em 2008, quando jogava pelo Fortaleza, boatos de que Alex estaria com leucemia surgiram na mídia, e o jogador desmentiu. Em 2010, procurou ajuda no Hospital Geral da Bahia, mas foi somente em 18 de setembro de 2012 que iniciou o tratamento para transplante de medula óssea, no interior de São Paulo.
A doação veio de um de seus irmãos e o transplante, que ocorreu em 5 de outubro, era a única alternativa para curar Alex. Quinze dias depois, a medula já estaria funcionando. O inesperado foi a evolução para um quadro clínico grave. Uma complicação chamada de "doença do enxerto contra o hospedeiro", em que o organismo rejeita as células que foram doadas.
Na época, a ex-mulher, Nadya, havia informado à mídia que o atacante precisaria de doações de dinheiro para completar o tratamento. Porém, o doutor Mair Souza, responsável pela cirurgia, desmentiu o pedido de Nadya.
"Todo o tratamento dele foi gratuito, pelo SUS. Naquele momento, não era de grana que ele precisava — isso ele iria precisar depois. Ele precisava de uma coisa que infelizmente não teve, que era a resposta adequada ao tratamento."
Em 14 e novembro de 2012, Alex Alves faleceu devido a múltipla falência de órgãos, às 8h40, no Hospital Amaral Carvalho, aos 37 anos de idade.
O astro do "gol do século" da Bundesliga, que passou por diversos clubes brasileiros, da sua origem no Vitória, passando pelo Palmeiras, Cruzeiro, até os últimos dias no União Rondópolis, não estrearia mais em campo.
Atacante que levou dois times sem título nacional para uma final do Brasileiro, Alex Alves teve sua cerimônia de despedida organizada pelo Vitória. As cinzas do jogador foram lançadas ao mar, atendendo ao seu pedido.