Alguns hábitos culturais que fazem parte de nosso dia a dia hoje foram pensando há muito tempo. Confira a origem de alguns deles!
Você já parou para pensar que alguns hábitos culturais que fazem parte de nosso dia a dia hoje foram pensando há muito tempo? Por que comemos queijo mofado? De onde vêm as cartas do baralho? Por que a maioria das músicas tem a mesma duração? As respostas nos intrigam até hoje… Confira algumas delas!
1. Como Veneza foi construída?
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Os primeiros habitantes de Veneza escolheram aquelas ilhas pantanosas para se proteger dos invasores do norte que, no século 4 d.C., cruzaram os Alpes depois da queda do Império Romano. Infelizmente, na terra encharcada não era fácil construir nem uma cabana de pescador, muito menos catedrais de pedra e palácios de doges.
Os problemas técnicos decorrentes da construção da cidade foram superados no decorrer dos séculos. A princípio, os venezianos fincaram estacas na terra, na esperança de chegar ao leito rochoso e construir os seus prédios em cima delas.
Já na época medieval, construíam-se prédios de pedra de tamanho considerável sobre alicerces feitos com centenas de troncos de pinheiro ou de alerce fincados na terra macia, como se fosse um monte de palitos de fósforo enfiados em manteiga.
Na Idade Média, os engenheiros venezianos começaram a dominar a drenagem, o que permitiu ter um terreno mais firme para as construções. O serviço cabia a uma autoridade do Estado chamada proto alle acque – supervisor das águas –, que coordenava a abertura de canais e também o desvio dos rios.
O proto alle acque mais talentoso do Renascimento foi Cristoforo Sabbadino. Ele foi um dos primeiros a ver que as ações humanas, como a construção não autorizada de canais e os projetos mal concebidos de recuperação de terrenos alagados, eram o principal responsável pelos danos causados a Veneza e à sua lagoa.
2. Como o queijo mofado virou iguaria?
As iguarias não são meras comidas de gosto bom; há muitos pratos baratos, comuns e maravilhosos. A iguaria é um alimento que exige um grande investimento em trabalho ou dinheiro para chegar à mesa: por exemplo, é dificílimo encontrar trufas (tartufos), que, por isso, têm valor de raridade para o gourmand.
O mesmo se aplica ao Roquefort, o mais famoso queijo “mofado”. Nele, o que mais atrai é a sua natureza inigualável. É feito de leite de ovelha, e a nata é guardada em camadas alternadas com migalhas de pão mofado para criar os veios azuis. Depois de salgado e prensado, o queijo é maturado com extrema lentidão nas cavernas naturais de Roquefort, na França, onde a temperatura é constante e a umidade, alta, graças a um lago subterrâneo. Só os queijos que saem dessas cavernas podem ser chamados de “Roquefort”.
Ocorre uma exclusividade semelhante com o Stilton, o mais famoso queijo “mofado” da Inglaterra. Só pode ser fabricado nos condados de Derbyshire, Nottinghamshire e Leicestershire. O engraçado é que isso exclui a aldeia de Stilton, que fica em Cambridgeshire.
3. Quando começamos a comer com garfo e faca?
Quando o século 17 já ia bem avançado, facas e colheres eram os únicos talheres utilizados por comensais na Europa, que não precisavam de mais nada; a comida era seca ou líquida, logo era cortada ou tomada de colher. Na cozinha, usavam-se grandes garfos de dois dentes, mas só para o preparo dos alimentos, embora nos jantares refinados da Grécia e da Itália já se usasse à mesa, havia algum tempo, uma versão menor.
O garfo moderno, curvo e de quatro dentes, foi inventado na Alemanha, no século 18. Nessa época, a faca de mesa passou a ter a ponta arredondada, já que a sua função de espetar ficara obsoleta.
Só no século 19 os garfos passaram a predominar nos Estados Unidos, onde costumavam ser chamados de “split spoons”, ou “colheres divididas”. Talvez a adoção tardia do garfo explique o hábito moderno de cortar os alimentos, transferir o garfo para a outra mão e usá-lo como colher, para levar o alimento à boca.
4. Qual é a origem do sumô?
O sumô tem milhares de anos de existência e é um dos vários esportes tradicionais associados à religião xintoísta japonesa; os outros são o kiudô (arco e flecha) e o kemari (antigo jogo de bola).
As lutas eram realizadas em santuários como um tipo de dança ritual dos templos, para entreter os kami (as deidades xintoístas) na esperança de obter proteção e boas colheitas. Era um confronto ritual que representava o necessário choque de forças por trás do equilíbrio e da harmonia.
O formato dessa disputa – o domínio físico obtido em surtos rápidos de muita energia – tornava o peso uma vantagem. Os lutadores desenvolveram métodos para comer e descansar, de forma a engordar mais.
Mais tarde, o sumô foi adotado como ritual da corte; imperadores, xóguns e daimios (senhores guerreiros) se tornaram adeptos e recompensavam os campeões com riquezas e títulos de samurais.
Durante o xogunato Kamakura (1192- 1333), o sumô foi formalizado como arte marcial e foi desenvolvido como esporte profissional, frequentemente praticado por ronins (samurais sem senhores) empobrecidos. A hierarquia estrita das categorias profissionais foi criada no século 18.
5. Por que o golfe tem uma língua só sua?
Embora houvesse jogos semelhantes na China e nos Países Baixos, a Escócia é considerada o berço do golfe. Em 1457, o jogo foi mencionado pela primeira vez em registros escoceses, mas parece que já existia uns 200 de operetas, os hinos religiosos e as canções de Natal.
A pressão moderna reforçou a preferência pela música de três minutos e meio. As rádios comerciais, especificamente, exigem que as músicas sejam curtas. Se os ouvintes se cansam, mudam de estação. Além disso, as músicas curtas permitem vários intervalos publicitários.
No caso dos CDs e das músicas baixadas pela Internet, a duração pode ser qualquer uma; porém as mais ouvidas continuam tendo cerca de três minutos e meio.
6. Por que, tradicionalmente, rezamos de mãos juntas?
Sabemos, pela arte dos túmulos, que os primeiros cristãos rezavam com os braços erguidos e a palma das mãos para cima, numa posição conhecida como “orante”. “Quero, pois, que os homens orem em todo lugar, levantando mãos santas”, escreveu o autor do livro bíblico de Timóteo.
Não se sabe quando os cristãos começaram a juntar as mãos para rezar, mas o hábito pode derivar da cerimônia medieval de vassalagem, na qual o vassalo jura lealdade ao rei. Do ponto de vista devocional, juntar as mãos e fechar os olhos são maneiras de criar tranquilidade na alma.
7. Por que as cartas do baralho têm personagens da realeza?
No fim do século 14 e início do 15, o baralho se espalhou pela Europa. A nova onda levou a vários pedidos de proibição dos jogos de cartas, por causa principalmente do temor do “mal” das apostas. Mas foi impossível proibi-los.
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Com a disponibilidade de papel na Europa a partir de 1400 e, na década de 1450, a revolução da imprensa de Johannes Gutenberg na Alemanha, os baralhos logo passaram a ser produzidos em massa.
Os jogos de cartas foram citados na China no século 12 e podem ter chegado ao Oriente Médio pela Rota da Seda. Os mamelucos, que governaram o Egito de 1250 a 1517, tinham um jogo – chamado Naib, Naibbe ou Naips – que usava um baralho de 52 cartas, com quatro naipes: espadas, bastões, moedas e taças. Cada naipe tinha cartas com valores, numeradas de 1 a 10, e três “cartas da corte”, chamadas rei, vice-rei (delegado ou na’ib, que deu nome ao jogo) e segundo vice-rei.
O uso de personagens importantes nas cartas de valor mais alto parece ter sido um tipo de atalho visual. Os exemplos que restaram têm decoração geométrica e não figurativa, mas as cartas da corte recebem inscrições que indicam o seu valor.
Século 15
As cartas europeias do século 15 se desenvolveram de modo parecido, só que as cartas da corte eram ilustradas com reis, cavaleiros ou damas e valetes (criados).
Nos primeiros tempos da fabricação europeia de baralhos, várias tradições locais surgiram. Na Itália, as três cartas da corte eram, em geral, rei, cavallo (cavalo com cavaleiro) ou donna (dama) e fante (soldado de infantaria). Na Alemanha, às vezes os naipes eram identificados por animais de caça (patos, falcões, veados e cães) e, mais tarde, por corações, sinos, folhas e bolotas de carvalho.
Na França, por volta de 1480, os quatro naipes já eram copas (corações), ouros (losangos), espadas e paus. As cartas da corte começaram como rei, cavaleiro e valete, mas a dama substituiu o cavaleiro e formou o conjunto usado hoje.
Século 16
No início do século 16, os jogadores do norte da França criaram representações desses personagens que se tornaram a base do baralho padrão: o rei de copas, que segura a espada sobre a cabeça; a dama de espadas, que tem um cetro; o valete caolho de espadas, o valete de copas e o rei de ouros são mostrados de perfil. O ás é outra invenção francesa, cujo nome vem do latim. Desde o princípio, às vezes a carta mais baixa é jogada como se fosse a mais alta.
O jogo do tarô era muito popular na Europa, com um baralho completo e mais 22 cartas pictóricas chamadas de trionfi (triunfos, de onde veio o trunfo moderno). No baralho atual, o curinga é o único sobrevivente dessa tradição, recordando o Bobo do tarô.