Saiba tudo sobre a vida e obra do fundador da ABL e um dos maiores escritores da literatura brasileira: Machado de Assis.
Douglas Ferreira | 1 de Setembro de 2019 às 17:00
Os diálogos das personagens Paloma (Grazi Massafera) e Alberto (Antônio Fagundes) em ‘Bom Sucesso’, têm despertado no público a curiosidade pelos livros. Nos episódios mais recentes a mocinha, interpretada por Grazi Massafera, se encantou por Dom Casmurro de Machado de Assis. Mas você sabe quem foi esse importante autor brasileiro?
O nome Machado de Assis evoca, para muitos uma concepção conservadora do texto literário. Modelo para a norma culta do português do brasil e leitura obrigatória nos nossos colégios, não há dúvida de que Machado ocupa o centro do cânone da literatura brasileira. Mas a austeridade cânone acaba, muitas vezes, por retirar de sua obra um dos elementos essenciais: o humor.
Pode-se, no entanto, afirmar que o próprio escritor servia-se desse estereótipo para preservar sua intimidade da vida pública. Nascido em 21 de junho de 1839, no morro do Livramento, Machado não costumava falar nem aos amigos íntimos sobre sua infância na chácara. Seus pais, o mulato carioca Francisco José de Assis e a portuguesa Maria Leopoldina Machado de Assis, eram agregados da propriedade de Maria José de Mendonça Barroso Pereira, madrinha e protetora do menino. Sua educação ficou a cargo das escolas públicas da cidade; desde pequeno inclinado às letras, diz-se que com apenas dez anos havia decorado a “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias.
Aos 16 anos teve seus primeiros poemas publicados em A Marmota Fluminense, revista da tipografia e livraria de Paula Brito, que o jovem poeta frequentava. Lá eram realizadas as reuniões da Petalógica, sociedade literária e humorística da qual participavam Porto Alegre, Gonçalves Dias, Manuel Antonio de Almeida, Casimiro de Abreu e José de alencar, com quem Machado fez amizade. Em 1860, é convidado por Quintino Bocaiúva para resenhar os debates do senado no Diário do Rio de Janeiro; inicia-se, então, a extensa atividade jornalística do escritor, seu principal meio de sustento na juventude. Resenhas, crônicas, crítica literária e teatral, contos, machado teve boa parte de sua obra impressa nas páginas de jornal.
Entre os 22 e os 26 anos, Machado dedica sua produção literária à criação de comédias como Desencantos (1861), O protocolo (1862), Quase ministro (1863) e Deuses de casaca (1865), em que se encontram uma ironia sutil e uma satirização dos excessos românticos.
Em 1867, Machado torna-se funcionário do Diário Oficial, o que lhe proporciona certo alívio financeiro. Nesse mesmo ano, conhece Carolina, irmã do poeta e amigo português Faustino Xavier de Novaes. Machado casa-se com Carolina dois anos mais tarde; esposa dedicada e mulher de espírito cultivado, ela teve grande importância na vida do escritor. Alguns críticos vêem no trecho abaixo um relato autobiográfico acerca dos primeiros anos da vida do casal:
Na década de 1870, tais dificuldades parecem desaparecer. Em 1872 é publicado, pela Livraria Garnier, seu primeiro romance, Ressurreição, e Machado de Assis já é considerado um dos grandes escritores, ao lado de José de Alencar. Em 1873, é nomeado oficial da Secretaria da Agricultura, iniciando a carreira burocrática que dura 35 anos. Seguem-se as publicações de Histórias da meia-noite (livro de contos, 1873), A mão e a luva (romance, 1874), Americanas (poesia, 1875), Helena (romance, 1876) e Iaiá Garcia (1878), todos pela Garnier. A tranquilidade da vida de Machado e Carolina é, no entanto, interrompida; o escritor, que já sofria de epilepsia, é acometido por outros problemas de saúde. Pela primeira vez na vida Machado tira férias, e o casal viaja para Friburgo.
Os seis meses passados nessa cidade parecem ter sido importantes para o escritor. Contudo, foi a partir de 1880 que produziu as obras que o consagrariam como o maior nome da literatura brasileira.
A galeria de obras-primas é inaugurada por Memórias póstumas de Brás Cubas; livro em que o narrador, “um defunto autor”, escreve “com a pena da galhofa e a tinta da melancolia”. Nesse romance Machado faz uso da ironia fina e sarcástica que adquire a força de uma visão de mundo, de uma postura diante da vida. Satiriza o cientificismo oitocentista, seja no “humanitismo” de Quincas Borba (1881) ou na impossibilidade de se demarcarem as fronteiras entre a razão e a loucura, no conto O alienista, e demonstra o caráter relativo das verdades que sustetam o homem, tanto as sociais, como nos contos O espelho e Teoria do medalhão, quanto as psicológicas, como na eterna dúvida em que é lançado o leitor sobre a traição de Capitu, em Dom Casmurro.
É através de seu humor sarcástico que Machado de Assis desfaz as máscaras da sociedade; máscaras que ele mesmo vestiu. O primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras denuncia, em sua obra, o caráter arbitrário e vazio das convenções. Como escreveu em uma crônica publicada em 22 de novembro de 1896:
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